Durante os seis anos em que desempenhei funções governamentais na área da economia, da inovação e da modernização, tive a oportunidade de receber ou visitar milhares de potenciais investidores em Portugal, num quadro de colaboração institucional com embaixadas, associações empresariais, universidades, redes colaborativas e institutos governamentais vocacionados, entre os quais a Agência para o Investimento e o Comércio Externo de Portugal (AICEP). Ao longo desse tempo fui aprimorando uma narrativa para responder à questão básica desses contactos.Num mundo global e diverso, por que razão o investidor que tinha defronte de mim devia escolher Portugal e não outra das diversas hipóteses de localização à sua disposição. Depressa percebi que a narrativa romântica era um “flop”. Falar da história grandiosa de Portugal, do clima, do mar, do sol, talvez levasse o investidor a ficar mais uns dias por cá ou a voltar mais tarde em turismo, mas não era motivo para colocar aqui o seu dinheiro. A estratégia mais eficaz era a demonstração de que a estratégia do país, de aposta nas novas tecnologias, na centralidade logística, na banda larga, nas energias renováveis e na qualificação dos ativos, era uma estratégia de longo prazo, garantida pela forte determinação do Governo, pela adesão dos agentes económicos e pela natureza criativa das nossas gentes, e que isso criava um contexto favorável ao negócio concreto que estávamos a analisar. Este caminho nem sempre foi bem sucedido, mas teve uma taxa de sucesso muito apreciável. Alguns dos projetos em carteira foram perdidos sobre a meta devido à instabilidade política que se começou a gerar em Portugal no último ano da gestão do Governo anterior. A garantia de persistência perdeu força e os resultados não se fizeram esperar. Algumas desistências foram já assinadas pelo atual Governo. E agora? O que tem o Governo português para oferecer aos investidores? Mão de obra barata mas desmotivada e sem capacidade de procura interna e portanto sem permitir o efeito laboratório que Portugal teve para muitos conceitos e produtos inovadores? Uma política que ressuscita grandes investimentos num dia para os matar noutro? Uma ausência de visão estratégica sobre o futuro da nossa economia e uma colagem doentia às flutuações financeiras? Carlos Oliveira, que parcialmente herdou as minhas funções, deu o melhor de si próprio e saiu do Governo de forma inglória. Segue-se Franquelim Alves, que com as polémicas que rodearam a sua nomeação, ainda deve estar a tomar consciência da missão impossível que lhe destinaram. Promover sem catálogo é próprio das liquidações gerais. Ora não podemos permitir que este Governo trate Portugal como uma enorme loja dos trezentos ou mesmo dos trezentos e cinquenta.