Conta-se na aldeia (hoje vila) onde os meus pais nasceram – por estes dias muito falada como uma prometedora bacia aurífera (falo de Santiago do Escoural) dando sequência às explorações feitas no tempo da romanização e que deram nome à serra do Monfurado –, que um dia um grupo de “empreendedores” pensou em engarrafar o sol para o vender no inverno em aldeias vizinhas. Não sei se o negócio teve ou não sucesso, mas sei que a economia portuguesa, se quiser voltar a recuperar, tem que criar cada vez mais valor, “engarrafando” o sol. O sol engarrafa-se no vinho, nos frutos e nos primores, no turismo de qualidade, na floresta e em tantas outras embalagens que desafiam a mente humana. O sol é a fonte vital de energia. Todos os produtos o incorporam. Em todos os produtos com valor, transacionamos um pouco de sol!Foco-me, nesta crónica, no engarrafamento do sol enquanto fonte de energia. Ele é também fonte primordial de todas as energias, mas agora pode cada vez mais ser engarrafado em estado puro, quer nas centrais térmicas, quer nos sistemas de mini e microgeração, quer nos sistemas de águas quentes e outros sistemas similares de produção limpa de calor. O setor de engarrafamento do sol teve, no final da década passada, um grande desenvolvimento em Portugal. Criou-se uma nova indústria com grande criatividade tecnológica e as exportações tornaram-se significativas. Em 2009 exportaram-se cerca de 400 milhões de euros de bens associados ao engarrafamento do sol, tal como aqui o entendemos. Um concurso para a instalação de centrais fotovoltaicas de proximidade constituiu um dos últimos êxitos nacionais na atração de capital estrangeiro. Na instalação e manutenção de sistemas de microgeração e águas quentes, geraram-se milhares de postos de trabalho, hoje a definhar progressivamente. Estamos em agosto. Embora este não seja o mês com mais sol (horas de sol), é normalmente o mês em que temos mais tempo para beneficiar dele e notar o seu poder e a sua importância. Pensemos um pouco nesta ideia de engarrafarmos e exportarmos o sol que temos. No fundo, até os pastéis de nata do ministro Álvaro, para serem genuínos, têm que levar consigo sol português. A malta da aldeia dos meus pais fica zangada quanto se conta esta história do engarrafamento do sol. A verdade é que foram precursores. É uma ideia muito mais inteligente do que aquela que se conta, duma aldeia rival, onde um belo dia todos se juntaram para semear um campo de esparguete! Boas férias.