DEPRESSA E BEM
A aceleração brutal da velocidade com que os dados são criados e tratados e a informação é produzida e disseminada nas sociedades abertas, deu um novo fôlego ao imediato, ao efémero e às ondas e contextos de volatilidade nos quais uma grande maioria dos indivíduos e dos decisores têm que agir e cumprir os seus objetivos de realização pessoal ou de liderança.
É corrente ouvirmos dizer que os líderes em sociedades abertas e democráticas tendem a ser cada vez mais fracos, superficiais e condicionados pelos contextos de opinião ou de moda prevalecentes. Esta análise é também muitas vezes cavalgada para justificar as tentações para a adoção de sistemas de governação e decisão iliberais ou até autocráticos.
O tema é complexo, mas não podemos desistir de capacitar pessoas e organizações para poderem decidir melhor. Os dados disponíveis sobre cada tema tendem a crescer exponencialmente. A informação e a desinformação também. Neste contexto, a formação holística é fundamental para uma boa avaliação e tomada de decisão.
Em particular, perante o frémito da mudança, temos que prestar especial atenção a um duplo risco; a superficialidade da análise, por um lado, e a dependência dos algoritmos de apoio à decisão por outro, sobretudo se assimilados como manuais de decisão pré-fabricada e pronta a usar sem contextualização.
No mundo da formação de decisores, as competências de transformação e liderança são cada vez mais requisitadas. É um domínio jovem do saber e da pedagogia, que convive com uma pluralidade de abordagens em maturação e sujeitas à seleção natural pelos resultados obtidos.
Tal como a aprendizagem se tende a fazer cada vez mais em comunidades de conhecimento, experiência e prática, também as várias escolas emergentes de transformação e liderança tenderão a interagir e a consolidar metodologias pelos seus impactos concretos.
Da minha experiência em diversos patamares de avaliação, decisão e ação, considero essencial que seja feita uma aposta forte na capacitação para decidir com propósito, visão e identidade, ancoradas por valores e saberes consolidados, enquanto ferramentas essenciais para integrar informação e conhecimento, sem perder o foco e sem ceder à superficialidade na avaliação dos factos ou ao uso acrítico das predições dos algoritmos.
No meio do turbilhão, é preciso manter a distância crítica e valorizar a capacidade de atribuir significado às torrentes de dados para decidir depressa e bem. Como? Apostando na formação dinâmica de comunidades de transformação e liderança que envolvam as escolas, os indivíduos e as organizações, num processo de aprendizagem mútua e permanente. Já temos em Portugal alguns bons exemplos. Temos agora que os generalizar pelo território e fazer deles pilares de valorização de competências e percursos laborais, sem esquecer a urgente valorização do serviço e do emprego público. Depressa e bem.