CARLOS MINEIRO AIRES

SISMOS: UMA AMEAÇA PERMANENTE

Recentemente, uma parte significativa do território continental nacional foi acordada por um evento sísmico com intensidade considerável e epicentro localizado a 87 km a oeste de Sines.

Em fevereiro de 2023, no rescaldo de um sismo de magnitude 7,8 que atingiu o sudeste da Turquia, já abordei este mesmo assunto no artigo de opinião que aqui assino habitualmente. Recentemente uma parte significativa do território continental nacional foi acordada por um evento sísmico com intensidade considerável (5,3 na escala de Richter) e com o epicentro localizado a 87 km a oeste de Sines, a que se seguiram pelo menos seis réplicas.

Entretanto, sem qualquer relação científica com este evento, já ocorreram outros dois sismos: um a 4 de setembro, de magnitude 1,9 na escala de Richter e com o epicentro a 8 km de Benavente, e o outro no dia 5 de setembro, de magnitude 3,1 e com o epicentro a cerca de 30 km a sul de Sesimbra. Em todos os casos não se registaram danos patrimoniais ou pessoais, muito embora tenham gerado justificado receio de que algo mais grave possa acontecer.

O último sismo com magnitude de 7,9 na escala de Richter tinha ocorrido na madrugada de 28 de fevereiro de 1969, teve o seu epicentro a 200 km de Sagres e causou danos significativos, sobretudo no Algarve, e 13 vítimas.

Portugal, no seu conjunto continental e insular ocupa um território altamente exposto à ocorrência de sismos, já que, no contexto da tectónica de placas situa-se na placa euro-asiática, limitada a sul pela falha Açores-Gibraltar que corresponde à fronteira entre as placas euro-asiática e africana e a oeste pela falha dorsal do oceano Atlântico, em constante movimento que tem originado os grandes sismos na região.

Foi o caso do terramoto e tsunami de 1755, cujo epicentro, sem unanimidade científica, terá sido a 100 km a oeste do cabo de São Vicente com uma magnitude de 8,7 a 9 da escala de Richter.

Entretanto houve lugar ao aprofundamento científico do conhecimento das causas e à monitorização dos eventos, cuja frequência e dimensão não auguram nada de bom.

 Risco presente

Por isso, não querendo ser alarmista, outro grande sismo voltará a ocorrer um dia, como sucedeu há um ano na região de Marraquexe-Safim, também sentido em Portugal, com magnitude 6,8 e cuja origem residiu nas mesmas causas tectónicas, que originou uma devastadora destruição e causou mais de 2 mil mortos.

A diversos níveis, as reações políticas nacionais em relação ao evento de 26 de agosto foram coincidentes nas referências à excelente articulação entre os serviços envolvidos, que admito referirem-se apenas a aspetos de interligação comunicacional, porquanto nada houve a registar quanto a danos e necessidades de intervenção das autoridades competentes, sendo que, no caso de um sismo violento, o juízo poderia não ser o mesmo.

A par, também se registaram declarações e afirmações recorrentes que podem generalizar falsas sensações de segurança, ilusórias e perigosas, sobretudo porque não correspondem à realidade da situação do edificado nacional e não apenas nas grandes cidades, onde a situação ainda é mais grave devido à densidade habitacional.

Essa realidade é perfeitamente conhecida pelas nossas prestigiadas instituições públicas que lidam com esta temática, desde logo o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, os académicos das escolas de engenharia, os técnicos que se dedicam aos problemas geotécnicos e estruturais do edificado, a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica, entre outras, e está muito longe do que parece quererem perpassar, pelo que seria prudente aproveitar o conhecimento e a capacidade nacional.

Parque habitacional

Apesar da reabilitação urbana que vem sendo feita, o nosso parque habitacional está envelhecido e degradado, em grande parte sem condições de habitabilidade e, por isso, somos o terceiro pior país da Europa em termos de pobreza energética, estimando-se que existam cerca de 2 milhões de fogos a necessitar de recuperação, o que implica investimentos colossais, pelo que deveríamos começar a pensar em planear a sua recuperação nos aspetos da segurança.

Com exceção das intervenções imobiliárias profundas e com qualidade e, por isso, inacessíveis ao cidadão comum, são diminutos os casos de investimentos no reforço sísmico de estruturas.

Portugal é um país pioneiro e com conhecimento reconhecido, onde desde 1958 existe legislação para o cálculo sísmico de edifícios, que tem vindo a ser aperfeiçoada, mas só na década de 1980 e posteriormente em setembro de 2019, com a introdução dos Eurocódigos Estruturais, ficou mais fiável, o que permite ter uma ideia da dimensão da capacidade resistente do edificado habitacional mais antigo e predominante. Por isso, não é verdade que o país esteja preparado para um evento de elevada magnitude, o que importa ser recordado.

Infelizmente o tema dos sismos só entra na agenda mediática e político-partidária quando ocorre um terramoto, embora devesse ser um tema presente, como passou a ser a escassez da água ou os atentados contra a sustentabilidade ambiental.

Também parece perpassar a ilusão de que existirão condições para assegurarmos uma pronta e eficaz resposta, quando a probabilidade de colapso de infraestruturas fundamentais e meios de socorro, caso dos hospitais, abastecimento de água, pontes, energia, comunicações, transportes, etc., é elevada, sem falar das acessibilidades obstruídas com escombros e derrocadas.

Vivemos em zona de risco e temos um desafio de grande dimensão para o qual terá de existir uma resposta programada e adequada, que quanto mais for adiada mais pesará na consciência nacional.

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