CARLOS MINEIRO AIRES

INDICADORES E PRÁTICAS ESG

Quem está ligado à gestão empresarial ou à área financeira, mas não só, estará familiarizado com a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) e as práticas que lhe estão associadas.

Em Portugal, a sigla ESG poderia ser traduzida como “Ambiente, Social e Governação”, não fora a “moda” das terminologias anglo-saxónicas seremnormalmente utilizadas com a designação de origem.

No fundo, as práticas ESG espelham preocupações com novas posturas e objetivosque decorrem dos objetivos estratégicos da Agenda 2030 (que não vai poder ser cumprida dentro dos ambiciosos prazos aprovados) e dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que lhe estão associados, e constituem critérios para a avaliação do desempenho das empresas e instituições em matéria de atuação responsável com práticas sustentáveis.

Desta forma, as práticas ambientais, sociais e de governação das empresas passaram a ser auditáveis por força de imposições políticas e sociais, sendo que a existência de informação monitorizável veio facilitar a tarefa. Por outro lado, é a forma de garantir o empenho empresarial nos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, enquanto geradores de riqueza e detentores de capital humano, inovação e tecnologia.

A adoção de práticas ESG constitui, assim, uma forma de aproximar e envolver as empresas e as organizações no respeito de determinados princípios que devem nortear as suas atividades e os negócios, e que basicamente estão ligados a preocupações de natureza ambiental e ao estabelecimento de uma nova economia assente em atitudes mais justas e inclusivas e preocupada com a crise climática.

No fundo, os fatores ESG permitem medir o grau de compromisso das organizações com os ODS mediante o estabelecimento de indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa, ou seja, a avaliação do desempenho das empresas e instituições em matéria de sustentabilidade, também no quadro europeu das finanças sustentáveis.

As empresas ficam sujeitas a reportes não financeiros e financeiros, onde o seu grau de engajamento com as práticas ESG atinge destaque e torna-se indispensável para o sucesso do negócio, para a aceitação do mercado e para a valorização da empresa.

Componentes ESG

Em termos de reporte não financeiro, nas três componentes ESG, as empresas deverão ter em conta:

E atividades relacionadas com políticas ambientais, sistemas de gestão ambiental, programas ambientais e de formação e sensibilização ambiental focados na proteção do planeta e dos riscos climáticos, tais como a gestão de resíduos, reutilização de matérias-primas (eficiência material), ou a sua substituição por materiais menos lesivos do ambiente, medidas de eficiência energética e de eficiência hídrica, aposta numa economia circular, redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e preservação da biodiversidade, entre outras.

Spolíticas de contratação e de direitos humanos, combate à discriminação de qualquer natureza, igualdade salarial, sistemas de saúde e segurança no trabalho e bem-estar, medidas para aumentar a diversidade e inclusão da força de trabalho, igualdade de género, qualificação de trabalhadores, medidas de conciliação entre a vida pessoal e profissional, ligação à comunidade, redes e parcerias locais, etc.

Gos gestores terão de garantir práticas que garantam a salvaguarda de valores éticos, de transparência, de conformidade legal, de combate à corrupção, de políticas salariais justas e adequadas, de diversidade de género na gestão, de políticas de compras responsáveis, de existência de códigos para fornecedores e para as cadeias de abastecimento, etc., onde alvita a importância interna dos códigos de ética e de conduta.

Gestão responsável

Sucintamente, a avaliação de uma empresa já não se resume aos resultados económicos dos exercícios anuais e ao balanço, pois deixaram de ser dissociáveis da forma como foram obtidos, nomeadamente em termos de gestão responsável e dos contributos do negócio para objetivos globais ambientais e sociais, o que conduziu a uma nova forma de calcular o valor da empresa e que também consubstancia um modelo de desenvolvimento económico baseado na sustentabilidade em lato sensu.

A atomização do quadro empresarial nacional, onde proliferam as pequenas e médias empresas, não facilita a adoção e internalização das práticas ESG, pois muitas delas não têm capacidade para lidar com um quadro regulamentar algo complexo, pelo queas associações empresariais setoriais podem ter um papel de relevo, incentivando a introdução do processo e assegurando alguma formação e partilha de informação porparte das empresas que estarão mais avançadas.

Outra questão importante, uma vez que cada organização é um caso, é a necessidade de identificar e colocar o foco nos temas que mais diretamente impactam na imagem, nas pessoas e no ambiente, priorizando os mais relevantes.

A existência de dois aspetos fulcrais para o negócio e que hoje também têm novas exigências, a imagem e o acesso a financiamentos bancários, veio colocar alguma pressão. Na verdade um mau desempenho empresarial nas vertentes ambientais, sociais e na governação, afasta os clientes e inquina o mercado, sendo que num quadro de alienação do negócio existem princípios que norteiam os investidores e que os levam a rejeitar a aquisição de empresas que não têm boa imagem e práticas adequadas.

Quanto ao segundo aspeto, a banca comercial está muito atenta à informação de fatores de sustentabilidade empresarial e, quando esta é inexistente ou não suficientemente credível, pode rejeitar o crédito solicitado ou influenciar o pricing da operação.

Nos mercados existem competições em que não nos devemos deixar ficar para trás.

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