ATLÂNTICO: OLHAR PARA O FUTURO INSPIRADOS PELO PASSADO
“Os Nossos Oceanos, o Nosso Futuro” foi o tema de uma conferência de alto nível realizada no princípio do mês de junho, pelas Nações Unidas, em Nova Iorque. A primeira iniciativa do género por parte da única forma de governo multilateral global mostra bem a necessidade de olharmos para a sustentabilidade dos nossos oceanos. A situação é crítica. As alterações climáticas estão a provocar degelos, a subida dos níveis da água e das temperaturas dos oceanos. A pesca desenfreada ameaça espécies e ecossistemas inteiros. Trinta por cento dos stocks de pesca estão em hiperexploração e outros 50% no limite. A irresponsabilidade dos homens fará com que, a meio deste século, o mar tenha mais peso absoluto de plástico do que peixe. É uma catástrofe que está enterrada no fundo do mar. Mas que um dia, como tudo na natureza, virá ao de cima. Como nação marítima, Portugal tem uma palavra a dizer. Como pilotos da globalização que começou há 500 anos, compreendemos bem o mundo globalizado. O mundo foi capaz de globalizar o comércio, as economias, os negócios, as transações económicas, as comunicações, as artes, a cultura, a educação e as emoções. Só ainda não fomos capazes de globalizar as soluções para os nossos problemas. É urgente mudar de paradigma. Precisamos de um amplo consenso internacional nas matérias ligadas à exploração económica e à sustentabilidade ambiental do mar. É urgente uma aliança da responsabilidade, para que possamos deixar aos nossos filhos os Oceanos como horizonte e não os Oceanos como fardo. O mar faz parte de nós. Do nosso modo de vida. Da nossa cultura e da nossa identidade. Temos, por isso, o dever histórico de olhar pelo nosso mar. O Atlântico é o nosso maior eixo de desenvolvimento estratégico. Quando se olha para Portugal e para o seu mar, é impossível dizer que somos pobres ou periféricos. Como país, como nação, temos forçosamente de ter uma estratégia que faça do Atlântico um desígnio. Há três acontecimentos políticos que estão, simultaneamente, a escrever a história a nosso favor – saibamos, obviamente, aproveitá-los. O primeiro acontecimento prende-se com a pretensão de extensão da Plataforma Continental na ONU. Caso as Nações Unidas reconheçam os objetivos nacionais, teremos no mar uma área equivalente à da Índia e do Paquistão juntos. Com tudo o que isso implica em termos de política externa e de defesa, de desenvolvimento científico, de progresso económico. Enfim, de toda a cadeia de valor associada à Economia Azul. O segundo acontecimento tem que ver com a criação do Mercado Europeu de Energia. A importância deste Mercado Comum de Energia é decisiva para Portugal. Se a Europa foi construída com base na partilha do carvão e do aço, a Europa do século XXI pode reinventar-se e reconstruir-se [e como ela precisa de se reinventar e de se reconstruir] através do mar, do sol e do vento. É impossível não olhar para Portugal como o coração energético da nova Europa. O terceiro acontecimento é a afirmação da China como ator global. A China, que tem planos para recuperar a sua rota da seda, é ambiciosa e paciente nos seus objetivos geoestratégicos. Pequim olha para o Atlântico com muita atenção. Com o retraimento dos Estados Unidos, a China tem forçosamente de ser olhada como uma opção estratégica em aberto. Tudo isto é muito importante. Mas não passará de mais um artigo sobre o mar que dará zero a ganhar aos portugueses e às nossas empresas se não houver vontade política para fazer do mar um desígnio. Cascais já está a dar um contributo com as suas ações. Se depender de nós, o mar será sempre um desígnio nacional. Porque mais do que o nosso passado, os oceanos são o nosso futuro.