ANTÓNIO SARAIVA

2019: UM ANO PARA APOSTAR NO INVESTIMENTO E NO CAPITAL HUMANO

O ano que passou foi marcado por um nítido abrandamento da atividade económica. Se as previsões mais recentes do Banco de Portugal se concretizarem, a atividade económica continuará a desacelerar em 2019 e chegaremos a 2021 com um crescimento do PIB de 1,6%, um resultado dececionante face às aspirações que hoje alimentamos. É preciso, por isso, contrariar os fatores que determinam esta tendência, potenciar as forças da economia, combater as suas debilidades, ultrapassar os bloqueios que ainda travam o crescimento. Somos hoje uma economia mais internacionalizada e corrigimos o desequilíbrio estrutural das contas externas que tanto condicionou o nosso desenvolvimento. Esta é, seguramente, uma nova força que temos de saber consolidar e potenciar. Gozamos, também, de uma credibilidade acrescida nos mercados financeiros internacionais, que se reflete nas taxas de juro suportadas quer pelo Estado, quer pelo setor privado. Por outro lado, o peso do investimento no PIB está ainda longe de ter recuperado para os seus níveis históricos, sendo o segundo mais baixo da União Europeia. Precisamos, por isso, de mais investimento para aumentar o stock de capital, tão necessário para alcançar níveis de produtividade mais elevados. Precisamos aproveitar as oportunidades que a transformação tecnológica nos traz, mas que exige um difícil processo de reconversão da força de trabalho. O estudo sobre “O Futuro do Trabalho em Portugal”, que a CIP apresentou recentemente, estima que cerca de 1,8 milhões de trabalhadores necessitarão de melhorar as suas competências ou mudar de emprego até 2030. Temos, ainda, uma economia muito endividada, apesar dos progressos feitos pelas empresas privadas, desde 2013, e mais recentemente pelo setor público. Este continua a ser um dos principais bloqueios a vencer. Acresce que não são poucos os riscos externos que pesam sobre a economia e, tanto na União Europeia como em Portugal, teremos um ano marcado por eleições, o que significa que nenhuma reforma urgente conhecerá a luz do dia. As greves que marcaram o final de 2018 não são prenúncio de um 2019 tranquilo do ponto de vista social. Sabemos bem que o aumento da instabilidade, política ou social, é sempre diretamente proporcional à incerteza no investimento. Em suma, as perspetivas para este ano não são animadoras. Mas acredito na força das empresas para contrariar o determinismo das previsões. Por isso, deixo aqui um apelo aos responsáveis políticos, empresariais e sindicais, para que, em 2019, as nossas forças não se dispersem em conflitos, mas se concentrem na aposta no investimento e no capital humano. São estes os fatores decisivos para que o relançamento económico não enfraqueça e ganhe uma natureza mais estrutural e sustentável, capaz de enfrentar os ventos pouco favoráveis que nos esperam.