ANTÓNIO SARAIVA

SEM MAIS PRODUTIVIDADE NÃO HAVERÁ CRESCIMENTO 

No início do ano, diziam-nos economistas conceituados que entrávamos em 2025 com solidez e confiança. Passados pouco mais de cinco meses, os resultados macroeconómicos do primeiro trimestre fizeram soar campainhas de alarme, somando-se às crescentes ameaças externas e invertendo o clima de otimismo. 

O PIB crescia acima da média europeia, a inflação dava sinais de controlo, as taxas de juro de referência prosseguiam em baixa, a população empregada alcançava sucessivos máximos históricos, a aprovação do orçamento do Estado para 2025 permitia antecipar alguma estabilidade política, abriam-se perspetivas de uma entrada recorde de fundos europeus, impulsionando o investimento. Tudo isto permitia encarar 2025 com otimismo, apesar do contexto internacional muito adverso, com Portugal a posicionar-se para ser uma das economias mais dinâmicas da área do euro. 

Passados pouco mais de cinco meses, os resultados macroeconómicos do primeiro trimestre, que apontam para uma queda em cadeia do PIB de 0,5%, fizeram soar campainhas de alarme, somando-se às crescentes ameaças externas e invertendo o clima de otimismo com que iniciámos o ano. 

Procuremos uma leitura menos errática da realidade. A explicar a queda do PIB no início do ano estará o crescimento excecional registado no quarto trimestre, decorrente do impacto no consumo de fatores pontuais, nomeadamente as menores retenções na fonte de IRS, ocorridas em setembro e outubro, e o pagamento do suplemento extraordinário das pensões, em outubro. Desvanecido o impacto destes fatores, é natural que o consumo privado tenha estagnado ou mesmo retraído, temporariamente. 

Note-se que, em média, a evolução em cadeia nos seis últimos meses não abrandou face aos dois trimestres anteriores. 

Mesmo assim, a queda do PIB no primeiro trimestre não era antecipada pela generalidade dos analistas. O barómetro CIP/ISEG, por exemplo, apontava para um crescimento entre 0,1% e 0,2% e, em março, a previsão do Banco de Portugal era de 0,2%. 

Será, agora, quase impossível alcançar um crescimento acima de 2% no cômputo de 2025. Se conseguirmos crescer, em cadeia, ao mesmo ritmo médio do final de 2024 e início de 2025, chegaremos ao final do ano com apenas 1,5%. 

Sinais de preocupação 

Contudo, mais do que a esperada revisão em baixa das previsões, preocupam-me os sinais de que não estamos a caminhar no sentido de um crescimento estruturalmente saudável e sustentado.  

Destacaria dois desses sinais: em primeiro lugar, o forte abrandamento do investimento em 2023 e 2024, com o consumo privado a tornar-se o principal motor do crescimento. Sabemos bem, pela experiência do passado, que este modelo não é sustentável 

Em segundo lugar, a fraca progressão da produtividade. Em 2023, o aumento da produtividade ainda foi de 1,6%; em 2024, caiu para apenas 0,3%. Isto significa que regressámos a um crescimento com base no aumento do emprego, como se verificou nos anos da recuperação após a crise de 2011/2013. 

A diferença está no facto de o aumento do emprego entre 2014 e 2018 ter sido possível pela absorção do elevado nível de desemprego. Presentemente, estamos numa situação de baixas taxas de desemprego e escassez de mão de obraem diversos setores, e a criação líquida de emprego só tem sido possível pelo aumento da população ativa decorrente de elevados saldos migratórios positivos. Não creio que possamos continuar a crescer com base neste modelo. 

Além disso, tal significa que a economia portuguesa está a aprofundar a sua dependência de setores mais intensivos em trabalho, ao invés do que seria desejável. Acresce que as remunerações estão a aumentar, em termos reais, a um ritmo muito superior ao da produtividade, evolução que não é sustentável por muito mais tempo sem perda de competitividade. 

Ora, mais do que nunca, para enfrentar o choque comercial provocado pelas medidas que nos últimos meses foram sucessivamente anunciadas, aplicadas ou suspensas pela Administração norte-americana, precisamos de nos tornar mais competitivos. Num enquadramento externo mais hostil, só conseguiremos vencer nos mercados globais com empresas mais produtivas, que sustentem a sua força mais no valor percebido pelo cliente e menos no preço. 

Mais e melhor investimento 

Em suma, mais do que com os resultados conjunturais do primeiro trimestre, preocupo-me com esta conjugação de fatores: baixo investimento e fracos ganhos de produtividade. Tanto mais que, para alcançarmos aumentos da produtividade, precisamos de mais e melhor investimento, nomeadamente investimento que traga inovação tecnológica nos produtos e nos processos. Tudo isto converge para a necessidade de focar a política económica naquilo que é preciso mudar, estruturalmente, para estimular e atrair investimento e melhorar a competitividade das empresas portuguesas. 

Em vésperas de eleições, seria bom que fosse este o principal tema da campanha; lamentavelmente, andamos distraídos com temas acessórios. Depois das eleições, seja qual for o resultado da vontade popular, será fundamental chegar a uma solução governativa construída sobre um quadro de estabilidade parlamentar. 

Com já tive oportunidade de afirmar, neste espaço, há pouco mais de um ano, o pior que poderíamos fazer seria desviar os nossos esforços do essencial para, irresponsavelmente, nos concentrarmos em lutas internas, cegos às ameaças com que nos confrontamos. 

 

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