ANTÓNIO SARAIVA

RISCOS DE UMA “TEMPESTADE PERFEITA”

Entrámos em 2025 com sinais de que a fase mais baixa do ciclo já terá sido ultrapassada, permitindo alguma recuperação da economia. A sustentar esta perspetiva, as últimas projeções do Banco de Portugal apontam para um enquadramento mais favorável, com a dissipação gradual dos fatores que têm afetado a atividade económica.

O ministro da Economia fala-nos de um reforço muito expressivo da contratualização de investimento, prova de força e de confiança na economia portuguesa, que permitirá arrancar 2025 com boas perspetivas de criação de valor e postos de trabalho. Além disso, virada a página da agenda política com a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, o Governo estará agora mais focado na promoção do crescimento económico.

Também o staff do Banco Central Europeu nos traz uma mensagem animadora, afirmando que estão reunidas as condições para que o crescimento económico da área do euro se volte a fortalecer: consumo dinamizado pelo aumento dos salários reais e do emprego num contexto de mercados de trabalho robustos, expectativas favoráveis relativamente à trajetória futura das taxas de juro, fundos europeus a apoiar o investimento, previsões de que a procura externa se fortaleça e apoie as exportações. Mais promissor, ainda: prevê-se que a produtividade aumente, à medida que alguns dos fatores cíclicos que a reduziram comecem a desapare

Riscos no horizonte

Todo este otimismo esbarra, contudo, com a profusão de alertas para os riscos de natureza económica, política e geopolítica que se acumulam no horizonte.

Comecemos pelos que nos chegam do outro lado do Atlântico, mesmo esquecendo as recentes provocações do Presidente eleito, dando mostras do seu apetite pela expansão territorial dos Estados Unidos, da sua crescente imprevisibilidade e de uma inédita falta de respeito, seja pelos seus aliados mais próximos, seja pelo direito internacional.

Centremo-nos, então, nas intenções de Donald Trump de agravar os direitos aduaneiros, defendendo na campanha eleitoral a ideia de uma tarifa universal de 10 a 20% sobre todas importações, para além de aumentos mais drásticos para os produtos provenientes do México, Canadá e China.

É certo que esta ameaça de um aumento generalizado de tarifas pode revelar-se apenas uma arma negocial com o objetivo de obter cedências por parte da União Europeia, nomeadamente ao nível de um aumento das aquisições de petróleo, gás natural e equipamento militar. Os últimos desenvolvimentos parecem dar mais força a este cenário. No entanto, a União Europeia tem preparadas medidas de retaliação e a possibilidade de uma guerra comercial não pode ser descartada. Tal cenário seria altamente prejudicial, como mostram as estimativas da Goldman Sachs, segundo as quais uma tarifa geral de 10% reduziria o PIB da área do euro em 1%.

Mesmo que a Europa não venha a ser diretamente visada, a eventualidade de uma escalada protecionista e de um aumento da fragmentação da economia mundial está bem presente. Em particular, um conflito comercial entre os Estados Unidos e a China não deixaria de ter sérias consequências para a economia europeia.

França e Alemanha

Acresce o intrincado conjunto de incertezas políticas e económicas em França e na Alemanha, mercados muito relevantes para Portugal e para toda a Europa. Subsistem, assim, riscos de as exportações portuguesas serem afetadas negativamente, quer de forma direta, quer devido a um maior arrefecimento da economia europeia.

Em França, não se vislumbra uma solução para o impasse resultante das eleições legislativas do início do verão. Qualquer que seja o desfecho em termos políticos, as perspetivas económicas não são animadoras: no caso de virem a ser aprovadas medidas tendentes a reequilibrar as finanças públicas, os efeitos recessivos serão inevitáveis, numa economia já muito debilitada. No caso de inação e de agravamento do défice público, o risco será o de uma crise financeira, com repercussões na área do euro, o que poderá ter consequências ainda mais graves para Portugal.

Na Alemanha, após as eleições marcadas para 23 de fevereiro, não será fácil encontrar um entendimento estável que resulte numa coligação capaz de levar a cabo reformas decisivas para ultrapassar os sérios problemas estruturais com que a economia alemã se confronta.

Ao nível mundial, persiste o risco de os conflitos armados se agravarem ou perturbarem os mercados globais de matérias-primas. Não será preciso que a Lei de Murphy se cumpra e que tudo o que pode correr mal, corra efetivamente mal, para que os cenários mais promissores sejam varridos por uma qualquer “tempestade perfeita”.

Se não podemos controlar as ameaças externas, espero que sejamos capazes de progressos na remoção de tantos bloqueios que travam a competitividade e o crescimento das empresas. Podemos, no plano interno, fazer a diferença, reforçando a atratividade da economia e captando mais investimento estrangeiro. Se assim for, estaremos mais fortes para contrariar ventos adversos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *