ANTÓNIO SARAIVA

  

O IMPERATIVO DO CRESCIMENTOSó através do crescimento económico conseguiremos ultrapassar os grandes desequilíbrios económicos que continuamos a suportar, nomeadamente a enorme dívida, pública e privada, agravada nos últimos meses pelas razões que todos conhecemos. Relembro, neste título, o lema escolhido para o congresso da CIP há precisamente 10 anos. Dissemos, então, que o imperativo do crescimento era, acima de tudo, um imperativo para as empresas, mas exigia condições para que as empresas produzissem, exportassem, investissem e criassem emprego. 

Dez anos passaram e a posição competitiva do país não melhorou. As duas primeiras décadas do século XXI serão conhecidas em Portugal como anos perdidos em termos de desenvolvimento. Nos últimos 20 anos, a taxa de crescimento económico média anual em Portugal foi de 0,3%. Só em quatro desses 20 anos conseguimos crescer mais do que a média da União Europeia. Nos últimos 20 anos, todos os países da União Europeia do antigo bloco de leste, que eram mais pobres que Portugal, convergiram com a média europeia. A convergência é possível. Portugal divergiu. Em 2000 a economia portuguesa estava 14% abaixo da média da UE (em termos de PIB por habitante em paridades de poder de compra); em 2019, antes da crise, a distância era de 21%. Em 2020, de 22%. 

A Estónia e a Lituânia, que geravam menos de metade da riqueza de Portugal em 2000, já ultrapassaram o nosso país. A República Checa e a Eslovénia também têm hoje uma economia mais rica do que a portuguesa. Polónia, Hungria, Letónia e Roménia são os países que se podem seguir. 

PRODUZIR MAIS E MELHOR – Porquê insistir, agora, no imperativo do crescimento? Em primeiro lugar, porque o atual sentimento de insatisfação face às expectativas que alimentamos só pode ser suprido através de mais crescimento económico, assente em maior competitividade. Só produzindo mais e melhor poderemos vencer nos mercados globais e gerar o rendimento que permitirá satisfazer as nossas legítimas aspirações. Por outras palavras, só através de aumentos da produtividade é que os rendimentos, nomeadamente os rendimentos salariais, poderão crescer de forma sustentável sem prejudicar a competitividade das empresas e o seu futuro. 

De igual forma, a preservação do Estado Social não terá futuro com base em promessas de medidas meramente redistributivas, sem consciência de que não podemos distribuir a riqueza que não produzimos. Terá necessariamente de ser sustentada pelo aumento da criação de riqueza, que só pode ser proporcionado por empresas competitivas, num ambiente de negócios propício à sua atividade. Em suma, só poderemos ter um Estado Social justo com empresas fortes, que sejam reconhecidas, nas políticas públicas, como o motor do crescimento da economia. 

ULTRAPASSAR DESEQUILÍBRIOS Além disso, só através do crescimento económico conseguiremos ultrapassar os grandes desequilíbrios económicos que continuamos a suportar, nomeadamente a enorme dívida, pública e privada, agravada nos últimos meses pelas razões que todos conhecemos. Olhando para as projeções do FMI para Portugal, verifico que apontam para que, após a recuperação da atual crise, o crescimento económico tenda para valores inferiores a 2%. Não nos podemos resignar a este cenário. Não esqueço as fragilidades e os constrangimentos que resultam do desafio ambiental, da evolução demográfica, do elevado endividamento ou do nível médio de formação, mas temos potencial e ambição para os ultrapassar.  

Este é o momento de, com todas as fragilidades e os constrangimentos que sentimos, com o enquadramento europeu que temos e com os desafios globais que identificamos, reagirmos e pormos de pé uma verdadeira estratégia que nos leve a cumprir o imperativo do crescimento. 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *