ENTRE A DESILUSÃO E A ESPERANÇA – Queremos acreditar que a recuperação será a palavra de ordem dentro de alguns meses, mas a incerteza continua, bem patente na disparidade entre as mais recentes projeções de crescimento económico.
O ano de 2020 terminou sob o signo do alívio e da esperança. Alívio, com a superação de mais um sério percalço na aprovação do Plano de Recuperação Europeu e com a conclusão, à última hora, do Acordo de Comércio e Cooperação entre a União Europeia e Reino Unido. Esperança, com o início da campanha de vacinação contra a COVID-19, em simultâneo, em toda a Europa. 2021 está a começar com redobrados motivos de preocupação e até de desilusão, com a escalada na propagação da pandemia e o regresso ao confinamento. Apesar de toda a experiência acumulada e de tudo o que foi feito, nomeadamente nas empresas, para assegurar maior segurança a trabalhadores e consumidores, as restrições a que estamos novamente sujeitos são praticamente as mesmas de março do ano passado. O seu impacto será severo, tanto mais que muitas empresas estão a esgotar as reservas disponíveis para fazer face a um período tão alargado de quebra de receitas, apesar dos apoios disponibilizados. Queremos acreditar que a recuperação será a palavra de ordem dentro de alguns meses, mas a incerteza continua, bem patente na disparidade entre as mais recentes projeções de crescimento económico.
Questões em aberto: Permanecem muitas questões em aberto. Em primeiro lugar, qual será, nos próximos meses, o ritmo da progressão da pandemia, a rapidez da vacinação em larga escala e o seu sucesso no controlo da doença?
Em segundo lugar, qual será o impacto da crise sobre a capacidade produtiva? Isto é, qual a resistência das empresas? Quantas conseguirão sobreviver e em que condições? Quantas estarão aptas a retomar plenamente a sua atividade quando a procura puder ser reestabelecida?
Em terceiro lugar, a recuperação será condicionada pela dimensão, rapidez e eficácia das medidas de política económica que forem colocadas no terreno. A este respeito, tenho afirmado que não basta que as empresas sobrevivam, é preciso que mantenham a sua solidez e a sua capacidade para que possam sustentar, em bases sólidas, a recuperação do país.
O conjunto de medidas anunciado pelo Governo em novembro, reforçado e alargado em dezembro e agora, já no início do ano, vem, embora tardiamente, no bom sentido, nomeadamente pela sua componente a fundo perdido, há muito reclamada. É preciso torná-las mais robustas, eficazes e abrangentes. É preciso completá-las com uma abordagem séria às necessidades de capitalização do tecido empresarial. É preciso cuidar de bloqueios que já há muito podiam estar resolvidos, como o que se passa relativamente aos seguros de crédito. É preciso, sobretudo, que as medidas cheguem, com urgência, ao terreno. Seria inadmissível repetir os atrasos e disfunções registados na primavera. A aprendizagem já foi feita. As empresas não compreenderão eventuais atrasos.