ADRIANO MOREIRA

GOVERNO DO MUNDOEsta expressão mais de uma vez circulou entre pensadores e governantes, nem sempre com o mesmo significado. Por 2013, ocupando-me do que chamei Um Século sem Bússola, tentei organizar as Memórias do Outono Ocidental. A razão foi que o quadro das inquietações cívicas quase se manifestava frequentemente de forma criativa, ignorando as formações partidárias e até as que são de governança formal.  

Nesta data, em que se avalia o Estado do Mundo em crise, a oportuna conclusão de Bertrand Badie e Dominique Vidal é que vivemos “entre a omissão do passado e a realidade do presente”. A nova atitude de resposta à mesma “crise”, o “governo do mundo” parece trazer uma nova definição. A falência da ONU em direção ao “pântano” anunciada pelo secretário-geral, a violação sem alternativa dos recursos territoriais de soberania, a guerra global da Covid-19, chamaram a atenção para o importante livro de Mark Mazower, Governar o Mundo, com excelente prefácio de Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro. 

Existem porém sinais de que o pensamento de Assis do Papa João Paulo II volta à autoridade do Papa Francisco, que levou ao altar o enérgico interventor do Concílio de Trento que foi o Frei Bartolomeu dos Mártires, fez a visita respeitada ao Iraque. Tem agora uma nova intervenção para criarmos o governo efetivo do mundo, significado da visita do novo Presidente dos EUA, que se declarou católico, com imperativos recebidos dos avós. Certamente as mudanças que vai assumindo não é por ter mudado de princípios, é porque os desafios são outros. Recordo por isso, que há vinte anos tive a honra de receber o Dalai Lama na Universidade de Lisboa. Recentemente declarou: “há quarenta anos fui expulso do meu país, foram mortos crentes, destruídos templos, e vivo da generosidade do generoso Estado que me acolhe: não tenho ódio a ninguém, e aconselho que sigam o Papa Francisco. 

Não é a primeira vez que surge o apelo à cooperação universal, que agora chama o Presidente dos EUA. Quando falamos no governo do mundo, é para tornar evidente a destruição da autoridade das instituições criadas no fim da Segunda Guerra Mundial, instalar as cooperações irrenunciáveis, salvaguardar o que resta do globo como casa comum da Humanidade, que não terá etnias, culturas e fronteiras desafiadas pela violência. 

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