ADRIANO MOREIRA

RELIGIÕES: O PROJETO DA PAZNo século que foi marcado por duas guerras mundiais, a de 1914-1918 e a de 1939-1945, esses tremendos acontecimentos violaram a esperança mundial de um futuro de paz, agora violado diferentemente pela pandemia, com conhecida causa mas sem comando. Mas naqueles gravosos combates militares, a esperança transitória tem vários pregadores, isto é, dotados de uma voz encantatória, sempre rara, e serenamente vencedora.   Podemos, no que toca à relação entre o poder governamental e a paz, lembrar o discurso do renunciado Presidente Nixon (1974) dos EUA, convencido de que a terceira guerra mundial já começara, muito diferente do atual, fora do poder, que não pôde meditar no sentido da Presidente do Brasil Dilma Rousseff (2011 a 2016) que, na Assembleia Geral da ONU, condenou a política que “afronte os princípios que devem mostrar as relações entre nações amigas”.  

Em 8 e 9 de novembro de 2001, a Assembleia Geral da ONU discutiu o “Ano Internacional para o Diálogo de Culturas”, com a força que teve o secretário-geral Kofi Annan. O texto da Carta da ONU era de origem ocidental, e a importância das Religiões não levou à aceitação das famosas conclusões do padre Hans Küng: “Não há paz entre as nações sem paz entre as Religiões; não há paz entre as Religiões sem diálogo entre as Religiões; não há diálogo entre as Religiões sem pesquisa de base nas Religiões.” Infelizmente, a sala que o secretário-geral, mais tarde assassinado, Hammarskjöld, destinada à meditação de todas as Religiões, não teve a expressão que teria apoio de os Papas sucessivos de Roma terem sido os únicos convidados para falar na Assembleia Geral: Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI, Francisco. O facto é que a autoridade da ONU, marcada pela Utopia do Mundo Único e a Terra Casa Comum dos Homens, vê a sua autoridade limitada pela pluralidade de centros de poder, de concorrência pela aceite hierarquia na ordem internacional. O desastre global causado pela pandemia, que todavia não evita somar-se à brutalidade de alguns conflitos, como aconteceu em França, a maior acolhedora de muçulmanos, é difícil que possa causar o regresso à vontade da indispensável paz mundial, na guerra, na saúde, no regresso à economia justa, e às Religiões conviventes. Em 1998, três anos antes do 11 de setembro de 2001, a Assembleia Geral da ONU tomou a decisão de declarar “2001 como o ano do diálogo das culturas”. O Presidente do Irão, Seyed Muhammad Khatami, discursando em 21 de setembro de 1998, declarou: “Em nome da República Islâmica do Irão, gostaria de propor, como primeiro passo, que as Nações Unidas designem 2001 como o Ano do Diálogo Internacional, na esperança sincera de ser iniciada a justiça e a liberdade universais.” 

Estamos no ano de 2021, e esperamos pelas vontades que devem ter resistido à longa chegada dos cisnes negros que amarguram a paz já em Angola e Moçambique, com violação cruel dos direitos humanos. A meditação dos valores religiosos, tal como foi proclamado em Assis, e longamente pregada por Hans Küng, vai ter de intervir. 

Felicito a revista FRONTLINE pelo seu aniversário e pelos serviços que presta a Portugal. 

 

 

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