OS MITOS RACIAIS – O atentado praticado pelo australiano Brenton Tarrant contra duas mesquitas em Christchurch (Nova Zelândia), pela crueldade, acompanhada de orgulho pelo executor, aponta para o renascimento do perigo dos mitos raciais, que a UNESCO assumiu como um dos seus desafios para tornar efetiva a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na sequência da descolonização assumida pela ONU. De facto, tinha sido a crescente ocidentalização da governança mundial, incluindo a criação dos impérios coloniais, que criou os mitos do negro e do mestiço, sem diminuir a importância do mito dos judeus, que, a partir do século XV, foram sucessivamente expulsos de França, Inglaterra, Escócia, Dinamarca, Grécia, Noruega, Flandres, Castela e Portugal. Na Europa, antes e durante a guerra de 1939-45, o mito dos judeus avisou para sempre sobre a capacidade de eliminar os limites éticos e legais da criminalidade e crueldade dos poderes políticos.A ocidentalização do globo rapidamente fez surgir o mito do negro, que parece ter sido pressentido por Caramansa quando D. João II ordenou a Diogo de Azambuja que obtivesse acordo daquele chefe gentílico para construir o castelo que veio a chamar-se S. Jorge da Mina, e ele procurou escusar-se dizendo, segundo João de Barros, que “os amigos que só se viam de tarde em tarde com mais amor se tratavam, que quando se vizinham”. Em 1772 o reverendo Thomas Thompson publicaria uma brochura intitulada “Como o comércio de escravos negros na costa de África respeita os princípios da humanidade e as leis da religião revelada”; em 1852 o reverendo Josiah Priest dava à estampa a Bible Defense of Slavery; e já em 1900 Carrol, em The Negro a Beast, alinhava provas de não pertencerem ao género humano. Mas seria o francês Arthur de Gobineau (1816-82) que viria a ser chamado “pai do moderno racismo”, reconhecendo três raças – a branca, a amarela e a preta –, sustentando que a decadência dos seus compatriotas era uma consequência de a raça branca ter sido afetada pela mestiçagem, visão assumida pelos nazis. Um dos casos mais estruturados do racismo foi o do apartheid, na África do Sul, com o Herenigde Nasionale Party, considerando-se o mandatário cristão da raça europeia. Tem por objetivo a manutenção e a proteção da população branca enquanto raça branca pura…”. Foi ali que o Mahatma Gandhi (1869-1948) teve a primeira experiência da discriminação. Mas foi ali que Mandela definiu o objetivo político da igualdade de todas as etnias vivendo na África do Sul, usando a expressão “Nação Arco-Íris”, e uma política de perdão e reconciliação. Marcou a desconfiança contra a formação de “colónias interiores”: estas são a raiz das discriminações que resistem à legislação da igual dignidade, e determinam o reaparecer dos mitos raciais, tendem para a suspeição e consequente discriminação e mitos raciais da totalidade das migrações, e não necessariamente por considerarem geral a excecionalidade dos agentes da violência, mas pela dificuldade da identificação. Daqui resultam eventuais acidentes da segurança reforçada, com a circunstância de não evitarem o crescimento do mito racial.