A FUTUROLOGIA
Comparando as visões de futuro que convergiam nas reuniões dos ocidentais participantes na vitória, coberta de lágrimas como sublinhou um diário francês, depois da guerra de 1939-1945, com a conjuntura incerta deste início do século XXI, ainda tão jovem, as diferenças são de regra marcadas pela imprevisão. Por isso é tão reconfortante, seguramente, para os americanos, a tranquilidade feliz com que o ilustre George Friedman escreve sobre Os próximos 100 anos, vaticinando, confiando na lógica das premissas que espera ver desenvolvidas pela realidade, incluindo, porque algum desgosto é sempre inevitável, uma guerra que terminará com a supremacia americana absoluta do espaço, guerra que passará à história com o nome de Primeira Guerra Espacial. Está convicto de que “o resultado da guerra será, inequivocamente, a afirmação da posição dos Estados Unidos, enquanto potência internacional líder no mundo e na América do Norte e centro de gravidade do centro internacional”. O objetivo de toda esta atividade será tripartido. “Em primeiro lugar, os Estados Unidos vão querer assegurar suficiente robustez, redundância e intensidade ao nível da defesa, para que nenhuma potência possa, alguma vez, ser capaz de eliminar as capacidades espaciais dos EUA. Em segundo, irão querer estar numa posição na qual possam travar qualquer tentativa, por parte de outro país, de conseguir uma posição de vantagem no espaço, contra o desejo americano”. É evidente que não podem ignorar-se as cautelas e rigores científicos de que um autor tão considerado rodeia as previsões. Mas é de recear que algum resumo tenha sido fornecido à presidência atual dos EUA, com a expressão simples “América First”, não inquieto com o que lhe ocorre anunciar, porque os tempos se encarregam desse destino, de época dourada. O padre Vieira não terá feito parte das leituras que advertem para o risco de escrever sobre a história do futuro, e os factos parecem mais inclinar para as leituras do presente do continente americano, designadamente para as conclusões do ilustre Ives Gandra da Silva Martins, seguramente mais inspirado pela circunstância do sul americano, lida de acordo com os clássicos mais atentos à realidade do poder político, sobretudo quando avaliada em situação de crise, e, neste caso, crise de valores, não apenas crise económica e financeira, com o seu cortejo de descrédito dos governos e desespero dos governados. No seu Uma Breve Teoria do Poder (2016), depois de publicados mais de 80 livros, e milhares de artigos, o que a experiência vivida nestes longos anos de estudo e experiência lhe inspira são conclusões como esta: “o poder se justifica pelo poder, e não pelo dever de servir”; “quem busca o poder, o faz, exclusivamente pelo amor do domínio”; “o homem no poder não é confiável”; “o poder é fundamentalmente fonte de riquezas para os que o detêm”; “quem governa é quem determina os destinos de um povo”; “os políticos que ambicionam o poder para exercê-lo em proveito próprio são a grande ameaça, na democracia e nas ditaduras”. Resumo doloroso de Ney Prado, presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, no Brasil. Se juntarmos as duas avaliações, a única previsão animadora, para os EUA, quanto a Friedman, é que “o resultado da guerra será, inequivocamente, a posição dos Estados Unidos, enquanto potência internacional de ser no mundo e na América do Norte o centro de gravidade do sistema internacional; e quanto ao segundo, que o “credo dos valores” terá sido revogado. A tranquilidade está na certeza de que o pior nunca foi viabilizado. A ONU quer ouvir o Papa Francisco, o bispo que foram buscar ao fim do mundo. Talvez na esperança de que no princípio está o verbo.