FAZER RENASCER A ONU
Independentemente da seguramente valiosa estatística das intervenções da ONU, designadamente pelas organizações especializadas, talvez não seja injusto admitir que muitas das suas deficiências tiveram relação, como causa ou apenas circunstancial, com a implantação, por longo tempo, da Ordem dos Pactos Militares, que reduziu a área de intervenção sonhada pelos fundadores a um regime de pousio demorado. Não é de estranhar, embora seja de lamentar, que até na área das intervenções humanitárias as críticas destrutivas, algumas assentes em factos a que a comunicação social emprestou validade, tenham posto em dúvida o destino, ainda que público, dos custos financeiros designadamente providos pela atividade privada. Mas, talvez surpreendentemente, o sonho expresso na Carta da ONU não morreu, ao mesmo tempo que o sofrimento humano, que não minorava especialmente, desse origem a uma literatura de protesto, de inquietação, de investigação, ou de desespero. Nomes como os de Thomas Piketty, Afkinson, Derber, Robinson ou Wooldridge tornaram-se referências críticas sobre as calamidades que se multiplicaram, depois do fim da II Guerra Mundial, quando falharam tantas nações, ou sobre a urgência da chamada quarta revolução que é a corrida global para reformar o Estado como se este fosse uma organização de gémeos, e, finalmente, a lamentação mais angustiosa sobre A Maioria Deserdada. O problema comum é sempre a distinção entre organizações políticas Extrativas e Inclusivas, queixando-se Acemoglu e Robinson, alguns dos críticos mais destacados, que as alterações económicas oferecidas aos povos desfavorecidos, “mesmo nos casos em que foram adotadas reformas, a sua intenção foi subvertida e os políticos usaram maneiras diferentes de afirmar o seu impacto”. E, todavia, o projeto normativo esteve em vigor, mas o facto persistente foi, e continua a ser, que a sua obediência foi uma exceção. A famosa The Cambrige History of the Cold War (2010) demonstrou que as chamadas grandes potências não pareciam ter consciência de que o mundo em formação, a que hoje chamamos globalismo, não era sequer uma caricatura do projeto. O escritor Brendan Simms, convencido da manutenção da “supremacia da política externa”, caracterizou a época como The Struggle for Supremacy, não deixando de evidenciar que a questão alemã continuaria central, contando-se por centenas os livros sobre violação do Direito Internacional. Ao mesmo tempo que as eleições para a presidência americana ensombram o ambiente, o novo método de eleição do secretário-geral da ONU reanima a esperança de a ONU recuperar presença e resposta.