ADRIANO MOREIRA

jcf_2402UM MUNDO DE DESIGUALDADES

Este século XXI, em que nos encontramos, pareceu-me estar a definir-se como sendo o início do outono ocidental, tendo presente a crise económica e financeira que o assola, a debilidade demonstrada pelo “triunfo do ataque do fraco ao forte” com os êxitos dos terroristas, cujo anúncio mais grave esteve no derrube das Torres Gémeas de Nova Iorque, mas sobretudo nesta situação em que se encontra a União Europeia: para além das referidas crises económica e financeira, o drama do conflito entre os deveres humanitários com que legalmente é obrigada a acolher as torrentes de migrantes que procuram salvar a vida, e com ela a dignidade, e o medo que o receio das infiltrações terroristas provoca, quer pelas exigências financeiras da assistência, mas também pela estreiteza dos orçamentos para assegurar a formação das instituições militares de segurança. Por 2000 ainda se afirmava com tranquilidade que o Frontex era o braço armado da Europa fortaleza, mas o certo é que nunca deixou de crescer de exigências, incluindo a revisão do alargamento do seu mandato em 2010, até que no ano de 2016, em que estamos, a responsável pela Segurança e Defesa da União, vice-presidente da Comissão, declarou que a Europa necessitava de um exército: nesse momento ainda não pressentia, pelos vistos, que a saída da União Britânica da Europa implica a retirada do maior exército europeu da definição de segurança e defesa autónoma da União, e que o aprofundamento e longa discussão das décimas referentes ao Orçamento europeu, ao mesmo tempo que inquieta, serve para batizar esta época de Europa das Décimas, desviando as atenções da ameaça da pluralidade de políticas de acento nacional, com exemplo dominante da Hungria, tentando usar a antiga liberdade soberana para enfrentar a situação. Para deter este ambiente do que foi o projeto da União, no pensamento dos estadistas europeus que na mesma geração viveram duas guerras mundiais, é necessário que a União Europeia não se conduza como se não tivesse circunstância mundial, e que os seus membros, incluindo Portugal, não replicassem essa visão procedendo, com frequência, como se estivessem apenas na União e não também no globo, sofrendo as consequências de decisões em que não participam, em vista da sua exiguidade, e também acompanhando, talvez por isso, a atitude crescente, deste outono ocidental, de esquecer que a história tem mais possibilidades de acertar com a exatidão do passado, do que tem a imaginação de adivinhar o caminho do futuro, mesmo que alguma ciência de governo se proclame convicta de ter encontrado o caminho único. Para atender ao aviso de Popper, de que basta aparecer um cisne negro para que os poetas já não acreditem que todos os cisnes são brancos, lembramos que a ONU foi organizada para evitar que os povos viessem a sofrer dano igual ao da guerra finda, admitindo que todo o processo seria regido por dois pressupostos: o mundo único, isto é, sem conflitos frequentes, e a Terra casa comum dos homens, isto é, substituir a tolerância pelo respeito das diferenças, ou étnicas ou culturais.