Nos países desenvolvidos tem vindo a ser identificado, nos últimos 50 anos, um padrão de evolução demográfica caracterizado por uma “marcha silenciosa” a caminho de uma sociedade mais envelhecida e mais pobre. Em Portugal, desde o início da década de 90, registou-se um aumento de 35% na população com idade igual ou superior a 65 anos e uma diminuição superior a 20% dos jovens e das crianças com idade inferior a 25 anos. Num prazo de 50 anos, é previsível que a população com idade superior a 65 anos represente o dobro do que se verifica atualmente, com as inevitáveis consequências sobre os sistemas de proteção social. É importante ter em conta que o aumento da chamada “terceira idade” não resulta, primordialmente, do aumento da esperança média de vida, mas antes da conjugação com outro fator, muito importante, que é o declínio muito acentuado da natalidade. A transformação demográfica registada não tem sido acompanhada pela indispensável alteração dos modelos de resposta às necessidades deste complexo mosaico social. Perante as dificuldades individuais e das famílias e a falha dos sistemas de proteção e apoio social, o sistema de saúde é, em muitos casos, chamado a garantir, supletivamente, respostas do “tipo social”. Esta dificuldade faz com que muitas vezes se verifiquem internamentos hospitalares inadequados e prolongados, com consequências sobre os doentes e a qualidade da resposta do sistema no seu conjunto. Não raras vezes somos confrontados com o registo de abandono de doentes idosos em instituições hospitalares, numa demonstração clara daquilo que são hoje os problemas de desestruturação familiar e de rotura dos mecanismos de suporte social. O peso das doenças crónicas sobrepõe-se, fortemente, à doença aguda, condicionando a tipologia de resposta e impondo uma rápida adaptação dos sistemas de saúde para uma organização mais fundada na capilaridade, na proximidade e no trabalho em rede. Neste contexto, a reorientação global do sistema de saúde constitui uma oportunidade para conjugar as estratégias de saúde com novos modelos de organização que tenham em conta a eficácia das respostas requeridas. A questão central passa por consciencializar todos os intervenientes no processo de que a repartição dos recursos, para ser solidária, tem de ter em conta escolhas baseadas na definição criteriosa de prioridades. Neste sentido a expressão “think global act locally” ganha espaço ao estimular a indispensável integração de cuidados fundamental para que o cidadão possa vir a ser a centralidade do sistema.