NOVAS OPORTUNIDADES – Os desafios de um novo tempo. A crise pandémica confrontou o mundo com a sua fragilidade. Em muito pouco tempo, de uma ponta à outra do planeta, o sobressalto sanitário pôs em causa as certezas adquiridas de um mundo seguro capaz de se defender de qualquer ameaça. As diferentes economias demonstraram a sua extrema vulnerabilidade. Os sistemas de saúde vacilaram diante um mar de dificuldades. Os governos e as lideranças políticas viram abaladas a confiança neles depositada pelos cidadãos. O mundo que teremos, a partir daqui, será muito diferente nas suas múltiplas dimensões. Nas últimas décadas, a humanidade consolidou a ideia de superação. De uma forma geral prevaleceu a ideia de domínio, de conquista e de controlo. A preocupação, com os riscos emergentes, perdeu valor, ganhando força, cada vez mais, a ideia de autossuficiência.
O impacto na economia global – A crise associada ao SARS COV 2 fez eclodir um alerta global. A resposta foi assimétrica, hesitante e dominada pelo baixo nível de racionalidade que, quase sempre, aparece associado ao medo e à incerteza. Passados três meses, um pouco por toda a parte, ensaia-se a retoma que nos levará à indispensável recuperação das nossas vidas. A economia sofreu o pior embate de que há memória desde a grande depressão. Nunca, em tão pouco tempo, tinha sido tão intenso e devastador o impacto na economia global. Em plena crise económica vivemos ainda a incerteza sobre a crise sanitária, a qual está longe de poder ser dada como finda. São demasiadas as incertezas e as perguntas sem resposta. Ninguém ousa caracterizar qual o risco e a medida de eventuais segundas ou terceiras vagas. A busca incessante por uma resposta terapêutica, eficaz e segura, ou por uma vacina resolutiva está longe de ter o horizonte bem definido.
A importância dos sistemas de saúde – Ao longo dos últimos meses, os sistemas de saúde foram testados tendo feito prova da sua importância. Ficou bem patente, aos olhos do mundo, a importância dos sistemas de saúde com cobertura geral e acesso universal. A crise demonstrou, igualmente, a relevância da integração de cuidados bem como da importância de dispor de profissionais de saúde qualificados. Os países que desvalorizaram o investimento em saúde, ciência e inovação atalharam caminho, pelo menos no discurso, e chamaram para a primeira linha das suas prioridades as políticas de saúde. A crise pandémica associada à Covid-19 pode ter tido esse feito de oportunidade ao sinalizar a precedência da proteção da saúde, dos cidadãos, face aos outros aspetos da vida social e económica. A importância de sistemas públicos fortes e coesos foi reconhecida por todos. Estamos agora diante dos desafios de um novo tempo. Tudo indica que estaremos perante um novo modelo de organização social e económica marcado por novas atitudes e comportamentos.
Transformação digital – A mudança experimentada levou-nos a repensar muitas das nossas rotinas. A transformação digital ganhou um novo impulso e impregnou os diferentes setores de atividade. A mudança de hábitos será irreversível, até pela vantagem que encontrámos na modificação de muitos processos e de procedimentos. Em todas as áreas de atividade, da indústria ao comércio, passando pelos serviços, assistimos a um exercício de mudança. Em setores tão diversos como a Educação, a Saúde e a Administração Pública, a questão a colocar será sempre a mesma – transformação digital. Nos últimos meses, fomos descobrindo dezenas de oportunidades de fazer igual, ou melhor, através dos recursos digitais. Em muitos destes casos terão ocorrido ganhos de eficiência e de produtividade. Foi igualmente evidente o impacto positivo no ambiente resultante da redução, ou até mesmo da eliminação, de deslocações desnecessárias.
Admirável mundo novo – Estamos, de facto, a descobrir o admirável mundo novo que nos pode ajudar a reencontrar os tempos injustificadamente perdidos nas nossas vidas. Temos pela frente uma oportunidade histórica para reinventar as relações de trabalho, a escola, o usufruto da cultura, os tempos livres, a família e os amigos. A velha associação da ideia de oportunidade ao contexto de crise nunca foi tão expressiva como na presente situação. A ciência, a investigação e a inovação despertaram e ocuparam o espaço que lhes pertence. Desta vez com o incentivo dos cidadãos, imbuídos como nunca do desejo de mudar para melhor, com segurança e qualidade nas suas vidas.