ADALBERTO CAMPOS FERNANDES

ACFECONOMIA, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO

No primeiro semestre de 2014, as exportações ligadas ao setor da Saúde cresceram 17,2 % face a igual período de 2013. De acordo com dados divulgados pelo Health Cluster de Portugal, as vendas neste setor, para o estrangeiro, representaram quase 600 milhões de euros face aos 511 milhões registados no primeiro semestre de 2013. O setor industrial com maior representação na fileira exportadora continua a ser o do medicamento. O impressionante comportamento do setor exportador da saúde ilustra bem o potencial económico deste setor, quer na vertente estritamente económica quer no potencial de desenvolvimento do emprego qualificado, e o potencial científico do país. Portugal tem todas as condições para se constituir num importante centro de atividades ligadas à economia do conhecimento através do investimento específico nos domínios industriais e dos serviços associados ao setor da Saúde. A reconhecida qualidade do ensino e da formação, pré e pós-graduada, nas diferentes áreas e disciplinas do conhecimento, em saúde, contribui decisivamente para reforçar este pilar de desenvolvimento do país. A definição de uma estratégia capaz de fazer convergir a investigação biomédica, o ensino e a formação, a produção industrial e a prestação de cuidados de saúde de elevada diferenciação é tão desejável quanto possível. A ideia inicial de criação do Health Cluster de Portugal tinha como pressuposto esse desígnio. Existem, contudo, condições para que esta possa ser mais ambiciosa e constituir-se numa importante alavanca de dinamização das diferentes iniciativas, nos diversos setores, tendo em vista a criação de novas sinergias. Estes importantes sinais representam uma oportunidade para repensar o papel do sistema de saúde na economia. É fundamental incorporar na visão política da saúde uma ideia de criação de valor, considerando o setor como um poderoso aliado para o desenvolvimento económico e social do país. O papel da saúde nas diferentes políticas setoriais ultrapassa largamente o reconhecido impacto em termos de saúde pública e de promoção da saúde para se transformar num instrumento ativo, ao nível das políticas públicas, de transformação dos modelos sociais e económicos. A reorientação da saúde, enquanto elemento indutor de um crescimento sustentável, representa uma grande oportunidade para redefinir o discurso sobre a sustentabilidade do sistema de saúde de uma ótica estritamente financeira para uma perspetiva de índole económica, com importantes efeitos sistémicos e significativas externalidades no crescimento do país.