ADALBERTO CAMPOS FERNANDES

COMPROMISSOS PARA A MUDANÇA

Os sistemas de saúde estão confrontados com uma procura crescente resultante, em parte, da própria oferta de serviços, mas sobretudo de uma maior capacitação, por parte dos cidadãos, no reconhecimento das respetivas necessidades em saúde. Neste contexto, um dos maiores desafios que se coloca na definição das políticas públicas consiste na geração do equilíbrio possível entre a disponibilidade orçamental e o imperativo de garantir a cobertura geral das necessidades, em saúde, num quadro de equidade e de qualidade. Um dos caminhos essenciais para alcançar este equilíbrio consiste na renovação das mentalidades de todos os agentes que intervêm no sistema de saúde. Neste processo de renovação deverão estar incluídos, para além dos decisores políticos e dos gestores, os profissionais de saúde e os cidadãos. Com efeito, a melhor forma de valorizar o ativo saúde, enquanto elemento integrador de uma sociedade e instrumento para o seu desenvolvimento, é promover uma cultura de transparência e, simultaneamente, de responsabilização individual e coletiva. A transparência do sistema, nas suas múltiplas vertentes e condições, tende a constituir-se num multiplicador de confiança por parte dos profissionais e, sobretudo, por parte dos cidadãos. Além disso, a transparência favorece a competição pela qualidade e pelos melhores resultados, induzindo uma atitude positiva orientada para a valorização do mérito e da competência. A transparência permite, igualmente, circunscrever a má utilização dos recursos e reduzir a ineficiência através da comparação das melhores práticas e dos melhores resultados. Para que tal aconteça há que investir numa maior autonomia organizacional indutora de maior responsabilidade e confiança. Este caminho gera, só por si, maior motivação e empenhamento tanto ao nível dos projetos profissionais individuais como ao nível das dinâmicas das equipas. É reconhecido que o papel dos profissionais é determinante em qualquer processo de mudança em saúde.     O seu envolvimento na tomada de decisão, na procura de soluções, seguras e eticamente aceitáveis, que respondam pelos interesses fundamentais dos doentes, constitui um elemento central no estabelecimento de um processo sólido, e sobretudo duradouro, de confiança e de responsabilidade partilhada. Este compromisso de mudança criará condições para a emergência de uma nova cultura profissional ao nível da gestão e das profissões de saúde, com um maior ecletismo de responsabilidades e de compromissos. Dessa forma será possível consolidar os processos de reforma através de um envolvimento ativo e solidário em defesa de um sistema de saúde moderno, eficiente e qualificado.