ADALBERTO CAMPOS FERNANDES

INOVAÇÃO EM GESTÃO DE SAÚDE

Nos últimos anos foi desenvolvido um processo inovador de organização e de gestão, no âmbito dos cuidados de saúde primários, com o objetivo de melhorar o acesso por parte dos cidadãos, relançando, ao mesmo tempo, a motivação das equipas e dos profissionais. É reconhecida a importância fulcral da rede de cuidados de saúde primários enquanto instrumento estruturante do sistema de saúde. Com efeito, mais de 80% das necessidades de saúde dos indivíduos podem ser resolvidas, com sucesso e qualidade, ao nível dos cuidados de saúde primários. A natureza multidisciplinar deste tipo de cuidados, a interação entre grupos profissionais, na vertente curativa mas também na vertente da promoção da saúde e da prevenção da doença, a capacidade de reconhecer e detetar precocemente problemas de saúde, faz dos cuidados de saúde primários o eixo prioritário de intervenção, em saúde, na comunidade. Uma rede qualificada de cuidados de saúde primários, suportada nos princípios da capilaridade e da proximidade, pode modificar, decisivamente, os níveis de qualidade global do sistema de saúde. No essencial, esta reforma conduziu a uma alteração no modelo de organização através da criação de dois tipos de estruturas: as Unidades de Saúde Familiar (USF) e os agrupamentos de centros de saúde (ACES), estes últimos com a potencialidade de serem dotados com autonomia administrativa e de gestão. As Unidades de Saúde Familiar (USF) revelaram-se uma interessante experiência inovadora, do ponto de vista organizacional, cuja filosofia assenta na criação de equipas multiprofissionais com autonomia organizativa, funcional e técnica, com as quais é contratualizada uma carteira básica de serviços, com um sistema de financiamento baseado na contratualização onde são tidos em conta a acessibilidade, a qualidade dos cuidados e a produtividade dos profissionais. Este tipo de estruturas encontra-se disseminado por todo o país, existindo atualmente, em atividade, cerca de 346 Unidades de Saúde Familiar que abrangem um universo de cerca de 4.900 mil utentes e um ganho adicional de cobertura de cerca de 670 mil pessoas. Os resultados alcançados confirmam a ideia de que a dinamização deste tipo de unidades de saúde, apoiadas em processos inovadores de gestão clínica e administrativa, podem ajudar a transformar a relação do cidadão com o sistema de saúde, nomeadamente através de uma cooperação mais eficiente com os cuidados de saúde hospitalares.