A agressiva campanha do Pingo Doce terá talvez sido o acontecimento mais marcante dos já decorridos cinco primeiros meses de 2012 e, mais uma vez, Alexandre Soares dos Santos marcou pontos, soubesse ou não da sua realização. Mas o mais importante, que resultou de uma mera (mas genial) ação comercial, e que, em circunstâncias normais (leia-se num país normal) seria provavelmente mais uma entre muitas, revelou duas virtudes que estranhamente parecem ter passado despercebidas: primeiro que neste país ainda existe quem faça, quem rasgue pela criatividade, pela inovação e não se deixe atolar pelo seguidismo da mediocridade vigente. Em segundo, que este país tem muito mais “forças de bloqueio” do que alguma vez poderíamos imaginar. Ou, diria Camões, estamos pejados de velhos do Restelo para cada esquina que nos viramos. Bem ou mal, com a campanha do Pingo Doce todos ganharam. Ganhou quem comprou, ganhou quem vendeu, ganhou quem trabalhou. Se isto não é uma fórmula de sucesso, então? Mas as vozes da desventura logo se fizeram sentir. Foram os fruticultores, foram dezenas de outros “ores”, foram sindicatos, foram autoridades, concorrência, entre outras, com acusações que corriam todo o leque do imaginário dos seus promotores e, claro, mais uma vez a ASAE, aquela entidade misteriosa que ainda ninguém percebeu bem o que faz e mandatada por um senhor que em criança certamente sonhava ser polícia. Enfim, todos contra todos mas, curiosamente, com exceção dos dois únicos que, embora por razões opostas, teriam razões de queixa. E aqui falo das centrais sindicais que, com a mediatização do caso Pingo Doce (é nobre e sério o termo), ninguém deu pelo seu 1.º de maio, afinal o Dia do Trabalhador. Mas também se diga, em abono da verdade, que com as teses reivindicativas apresentadas apenas assistimos a “mais do mesmo”. Afinal que país é este? Quase que apetece recuperar o thriller dos irmãos Coen Este país não é para velhos e acrescentar do Restelo. Porque, a continuarmos assim, quem decidir fazer, criar, inovar, motivar, mudar, empurrar este Portugal para uma dinâmica de vitória, corre qualquer dia o risco de se tornar um apátrida perseguido e transformado num alvo a abater. Mas a verdade é que felizmente hoje também já há muita gente a querer fazer e não são só os mais jovens. Resta conseguirem romper a cortina de silêncio que lhes tolda o reconhecimento do sucesso para que os seus exemplos invertam o “estado das coisas”. E aqui urge perguntar: a quem interessa este clima de mediocridade e desalento instalado entre os portugueses?