UMA SAÍDA DA GRÉCIA DA MOEDA ÚNICA NÃO SIGNIFICA O FIM DO EURO
A Grécia depois do seu apogeu, há 2500 anos, não cessa de exibir a sua decadência progressiva, quase nos fazendo esquecer que foi o berço da Europa. Considero que uma pessoa singular ou coletiva, um organism ou, sobretudo, um Estado, quando entra para um clube, deve cumprir as respetivas regras, sem pretensões de ter um tratamento mais favorável que os demais, especialmente quando as incumpre sistematicamente. É, justamente, o caso da Grécia, que apesar de já ter tido desde os anos 80, altura em que aderiu às então Comunidades Europeias, um tratamento de favor e uma solidariedade acrescida, designadamente através do Fundo de Coesão, se permite agora, após um perdão da sua dívida pública de mais de cinquenta por cento, não querer continuar a cumprir as regras do jogo. Estranhamente, a União Europeia treme de medo perante os gregos, que nas últimas eleições privilegiaram os partidos antiausteridade, como o Syriza, de extrema-esquerda, que se opõe às medidas de rigor negociadas com a União Europeia e o FMI, recusando-se, inclusive, a formar governo. Isto obrigou o president Carolos Papoulias a convocar, de novo, eleições legislativas para 17 de junho, o que pode implicar, caso haja uma maioria no sentido de denegar a austeridade que o país precisa, a saída da Grécia da zona euro. Contudo, é bom recordar, qual engano propagandista, que nem o défice orçamental nem a dívida pública irão desaparecer, mas apenas converter-se euros em dracmas. Contudo, os europeus tremem de medo e reafirmam, por vezes com convicções patéticas, o apoio incondicional à Grécia e a qualquer preço, de molde a que não implique a sua saída do euro. E os gregos sabem disso! Há cerca de 70 anos, também Chamberlain estremecia de pavor e ajoelhou aos pés de Hitler com os resultados que a história nos relata, embora com um poderio helénico menor, mas com igual propensão de deriva autoritária. A construção mais emblemática da União Europeia é a União Económica e Monetária, a qual não pode ficar refém de um país que se recusa, ainda que democraticamente, a cumprir as suas regras, enquanto outros Estados, como Portugal, choram sangue, suor e lágrimas para entrarem no bom caminho e executarem as regras que lhe são impostas por este clube. Um abandono grego poderia resultar, inicialmente, numa fase de turbulência dos mercados, mas, a prazo, a zona euro sairia reforçada. Isto porque economias como a portuguesa, a espanhola ou a italiana teriam, sem o peso da dívida grega – qual navio que se tende a afundar e que, para o evitar, alija a carga –, muito mais hipóteses de lutar contra as dificuldades e superar a turbulência. Para além de que os fundos de resgate europeus, com um financiamento atual de cerca de um bilião de euros, poderiam ser ativados rapidamente no sentido de dar liquidez a estes países. Começam também a desenhar-se cenários alternativos, designadamente por parte das instituições europeias e de alguns Estados-membros. Um plano de contingência está a ser estudado, ainda que não politicamente assumido, e seguido com atenção por algumas entidades privadas que podem ter a oportunidade de fornecer, num tempo reduzido, uma massa considerável de divisas que as autoridades responsáveis gregas não teriam capacidade de, sozinhas e por si só, poderem fornecer. Se os países da zona euro se vergarem à chantagem política, ainda que, repito, democraticamente decidida, por parte dos gregos, então ficará instalada uma relação de desconfiança entre os Estados que cumprem e os que incumprem, usufruindo estes últimos de condições mais favoráveis. É que a democracia, só por si, não justifica tudo! Há que dar um sinal político muito forte e musculado neste sentido do cumprimento dos princípios, para que os extremismos, tanto de esquerda como de direita, não sejam compensadores, considerando que quem quer pertencer a um clube tem que cumprir as suas regras, com lealdade e espírito de cooperação. Assim, considero que o próximo Parlamento grego ou se põe de acordo com um compromisso sério em relação a medidas corretivas dos desvarios orçamentais, ditas de austeridade, ou ninguém, no seu perfeito juízo, se atreverá a despejar mais um euro que seja na recuperação deste Estado-membro da União Europeia. Uma saída do euro da Grécia será difícil, mas pior será assistir à lenta implosão da sua caótica economia. Provavelmente, o regresso ao dracma, com uma forte desvalorização da moeda nacional, algo que o euro, para já, não permite, seria um caminho possível, aliás, já seguido com sucesso pela Argentina em 2001, e que podia repor a competitividade e crescimento da Grécia. Assim, ou o Zeus grego se transmuta, de novo, em deus do Olimpo que na origem teve uma história de amor com a Europa, ou se transforma no vilão de uma tragédia grega que acaba por trair e ferir de morte a sua criação divina.