LUIS MIRA AMARAL

PAG 17_EGR7738A AUTOEUROPA E O CLUSTER AUTOMÓVEL

Por gentil convite do seu responsável máximo, o engenheiro Miguel Sanches, estive nos 25 anos da Autoeuropa, onde recebi muito simpáticos elogios do primeiro-ministro e do Presidente da República. Os elogios, em diferentes circunstâncias, de Guterres, Sócrates e Costa, que não me devem nada politicamente, contrastam com a marginalização a que sempre fui votado pelos líderes do PSD, a começar por Cavaco Silva,  com a honrosa  exceção de Luís Filipe Meneses, e que me levaram até a ser enganado e enxovalhado na praça pública pelo trio Barroso/Manuela Ferreira Leite/Santana Lopes no famigerado caso da CGD. Os contactos para trazer este investimento para Portugal começaram com o administrador da  VW, Dr. Dieter Ullsperger, em 1989, na Suíça, num restaurante do lago Genebra, aquando do Salão Automóvel, através da minha amiga Carmo Jardim, então na SIVA, importadora da VW, e hoje diretora da Autoeuropa. Também em Lisboa o meu amigo Hipólito Pires, então importador da Seat, me ajudou nos contactos com os advogados dos dois construtores. Tudo isto feito discretamente, sem show-off… Negociou-se então o projeto, na altura em joint-venture, entre a VW e a Ford, sendo de realçar Neto da Silva nas negociações e Valente de Oliveira e Isabel Mota no seu financiamento. A Autoeuropa, grande exportadora nacional, também dinamizou fortemente a indústria de componentes, criando-se, a partir de 1991, 35 novas empresas desde Vila Nova de Cerveira a Portalegre, 12 das quais em joint-venture entre nacionais e estrangeiros. Para esse efeito criámos no IAPMEI o GAPIN – Gabinete de Apoio à Participação Nacional, o qual, impulsionado por Luís Alves Monteiro, então secretário de Estado da Indústria, e dirigido por Luís Palma Féria, apostou fortemente na sensibilização dos potenciais fornecedores em matéria de qualidade, prazo de entrega, especificações e preço. A cooperação da VW permitiu passarmos de apenas quatro empresas em 1991 com o galardão máximo de qualidade (Q1), então fornecedoras da Autoeuropa, para 35 quando deixámos o Ministério em 1995. Hoje serão mais de 40 com o nível Q1. Na altura, a indústria de componentes para o setor automóvel exportava entre 300 e 400 milhões de euros. Hoje o cluster automóvel exportará mais de 6 mil milhões de euros. Para reforçar o cluster automóvel teria sido importante atrair para Portugal ainda outro investimento da dimensão da Autoeuropa. Simplesmente, a queda do Muro de Berlim provocou um desvio dos investimentos neste setor para os países do Centro e Leste da Europa, o que dificultou a vida nesta matéria aos governos que nos sucederam. Mas muitas empresas de componentes para automóveis estão agora a tentar diversificar para o setor aeronáutico, em complemento da vinda da Embraer para Portugal. Espero que agora possamos repetir o êxito da Autoeuropa e do cluster automóvel, contribuindo também o excelente investimento da Embraer para a consolidação de um cluster na aeronáutica, espaço e defesa, estando aliás já formada uma associação, a AED Portugal (Aeronautic, Space and Defence Federation), que  está a trabalhar ativamente nesse sentido com as empresas associadas.