A humanidade tem longos períodos de evolução ou retrocesso na continuidade e momentos de disruptura em que se aplica a demasiado banalizada ideia da mudança de paradigma. Evito anunciar mudanças paradigmáticas quando apenas se verificam fenómenos de reequilíbrio normais em sociedades dinâmicas. É por isso de forma refletida e ponderada que afirmo agora que existem sinais consistentes que indiciam que a humanidade começa a ficar madura para uma efetiva mudança de paradigma, mudança essa que não pode deixar de se basear no barro primordial, ou seja na energia e na informação e na forma como as pessoas as conseguirem dominar e gerir. O mundo é energia agindo sobre informação e informação agindo sobre energia. O que torna o Homem diferente dos outros seres vivos é a sua capacidade acrescida de dominar (infimamente) os fluxos de energia e cada vez mais os fluxos de informação. O brutal aumento das “próteses cognitivas” que a tecnologia pôs ao dispor de parte da humanidade para ler, processar, armazenar e transmitir informação transformou a sociedade industrial numa sociedade da informação e do conhecimento. Uma nova sociedade que no entanto convive com largos territórios que permanecem abaixo da linha de água desta nova realidade, gerando uma brutal fratura entre pobres e ricos no acesso ao conhecimento, quase sempre traduzida depois numa fratura no acesso a outros bens essenciais. A sociedade informação/energia dispensa cada vez mais os intermediários na relação entre a sociedade e os indivíduos. Essa ausência de amortecedores sociais tem feito com que as desigualdades disparem em todas as sociedades e no planeta em geral. Como lidar com esta oportunidade de mudança de paradigma, aproveitando para criar as bases de um mundo mais justo e mais sustentável? Num livro que publiquei recentemente (Portugal sem Medo, Chiado Editora, 2014), defendo que o caminho passa por dar as armas aos indivíduos para que eles possam ser donos das suas próprias vidas e construam em rede uma sociedade mais inteligente, mais verde e mais inclusiva. No cerne do novo paradigma tem que estar um novo modelo de qualificação ao longo da vida e tanto quanto possível universal e um novo modelo energético, limpo, descentralizado e de proximidade, baseado sempre que possível em recursos renováveis e endógenos. Estamos num momento de crise, em que é possível começar de novo e desejável que o façamos sem cometer os erros do passado. Nunca a política foi tão desafiante. Era bom que todos aceitassem ser guionistas e atores dos tempos que vão chegar.