Costuma-se dizer, como imagem de mudança no ciclo de vida, que ”a vida começa aos quarenta”, valorizando o cruzamento da vitalidade restante com a maturidade adquirida. Bem precisamos de acreditar nesta ideia para celebrar o quadragésimo ano de Abril e para, a partir dele, promovermos a transformação interior que nos permita contribuir para termos de novo um País Feliz, bem inserido no mundo global, com caráter, personalidade e ambição. Nascido de um enorme cansaço, da coragem dos Capitães de Abril e do povo que os apoiou em festa, Abril teve uma infância conturbada mas cresceu bem, enraizou-se durante a adolescência e tornou-se cosmopolita, desafiador, promotor de equidade, preocupado com a dignidade das portuguesas e dos portugueses e de todos os que foram escolhendo a nossa terra para trabalhar e para se realizarem. Talvez por más companhias, talvez por se ter revelado nele o lado mais sombrio da sua paleta democrática, há três anos que Abril vive uma meia-idade precoce e problemática.Como fruto da democracia, Abril tem tantas personalidades quantas as opções e projetos políticos que disputam a sua atenção. A personalidade dominante tem sido depressiva, desanimada, sem rasgo nem capacidade mobilizadora. Fica-nos no entanto a esperança sempre repetida, “que a vida (re)começa aos quarenta” e que em maio, se todos nós quisermos, podemos começar a ter um outro Abril. Um Abril mais parecido com o Abril que conhecemos no berço da madrugada da liberdade, que cantámos nas ruas, que nos conduziu à Europa e a relações fortes com o espaço de língua oficial portuguesa e com outras potências emergentes, que se tornou respeitado e respeitável, que nos devolveu o orgulho de sermos filhos desta nação que se desenvolveu a partir da ocidental praia lusitana e se tornou uma nação global.E é exatamente nesta âncora de sermos uma nação global, inseridos na União Europeia mas com raízes políticas, económicas e sobretudo culturais disseminadas à escala planetária, que podemos encontrar a forma dum novo renascimento, ganhar uma voz própria na Europa e assumir um papel de referência na fronteira das nações rede do século XXI. Quando este texto for publicado já celebrámos mais um aniversário de Abril. Espero que esse Abril que ainda não houve, agora que escrevo, tenha tomado conta do maio e do junho e do futuro. Se tiver sido apenas mais um dia simbólico de celebração e não nos tiver mudado por dentro e determinado a sermos protagonistas duma mudança profunda na nossa terra, então estaremos condenados à sede de olhos que brilhem, de gente que acredite e de pessoas que façam acontecer. A vida começa aos quarenta. Mas somos nós que a temos que fazer (re)começar!