SAÚDE A LONGO PRAZO: DESPESA OU INVESTIMENTO?
A Comissão Europeia prevê que a despesa em saúde passará de crescimentos anuais de 7,5%, em 2007, para valores entre 7,6% e 14,9%, em 2060, dependendo de pressupostos ligados à saúde da população, à produtividade do serviço de saúde e a outros fatores diversos. Há 50 anos, no Reino Unido, o NHS (National Health Service) consumia apenas 3,4% do PIB. Hoje, essa percentagem cresceu cerca de oito vezes e as projeções apontam para que, em 2061, a percentagem do PIB dedicada à saúde atinja valores de 14,9%. Noutros termos, caso todas as outras áreas se mantivessem inalteráveis, isto significaria que o Governo inglês gastaria cerca de metade das suas receitas na Saúde. Entretanto, uma análise publicada pelo Health Cluster Portugal, em 2010, previa que em 2020 a percentagem do PIB português alocada à saúde poderia atingir cerca de 15%, numa perspetiva menos ambiciosa de convergência com os países desenvolvidos, podendo atingir os 24% em cenários mais ambiciosos, onde o investimento em saúde teria que ser reforçado para acompanhar o grupo europeu da frente. Se assim fosse, Portugal atingiria esses patamares (para muitos, insustentáveis) 40 anos antes do Reino Unido. Acredito que temos importantes decisões políticas e sociais a tomar na Saúde, nomeadamente no que toca à definição da forma como poderemos financiá-la, caso queiramos acompanhar o mundo desenvolvido. Parece natural colocar a saúde em lugar cimeiro nas prioridades do que esperamos do Estado Social. O facto é que, entre 2000 e 2011, a percentagem de população britânica que colocava a saúde como alta prioridade decresceu de 83% para 68%, numa proporção inversa aos aumentos significativos dos gastos em saúde. Em outubro do ano passado, o Eurobarómetro indicava que apenas para 54% dos portugueses a saúde pública era prioritária, privilegiando o emprego (acima dos 70%) e o desenvolvimento económico. Embora essa seja uma escolha previsível em tempos de crise económica, seria bom que todos entendêssemos a saúde como um investimento que tem repercussões diretas no desenvolvimento económico. Essa realidade apresenta cada vez mais evidência e deve ser amplamente divulgada para que, mesmo em tempos de crise, a opinião pública passe a não preterir o investimento em Saúde em prol de outras áreas que afinal também dependem da saúde. Maior esperança de vida, menos morbilidade e mais qualidade de vida significam termos mais população ativa produtiva, menos absentismo e mais produtividade, traduzindo-se num maior desenvolvimento económico. Ao encararmos a saúde como um investimento e não como um gasto, teremos mais cuidado em garantir a sua eficiência e em encontrar medidas para o sucesso desse investimento a longo prazo.Todos os estudos mais recentes sobre o tema apontam que a rentabilidade na saúde é bem mais alta do que qualquer outra área social, com ROI (Return On Investment) francamente acima da unidade. Os reguladores do setor terão que pedir contas aos prestadores públicos e privados e, além de conseguirem custos decrescentes (um enfoque dos últimos anos), terão que garantir mais acesso, melhores resultados clínicos e impactos quantificados no PIB, que justifiquem esse investimento. Com essa garantia iremos continuar a investir na saúde!