Enquanto no plano financeiro a governação bolina entre o desequilíbrio estável e o equilíbrio instável das contas públicas, no plano económico temos assistido a uma política da mais absoluta terra queimada. Perante o espírito pirotécnico do primeiro-ministro e do Ministério das Finanças, até o consagrado gestor Pires de Lima, apresentado ao povo como o novo comandante-chefe dos batalhões do emprego e do crescimento, se declarou como um soldado vencido. Tão humilhantemente vencido que nem a tributação da restauração conseguiu minorar, repetindo o Governo, por mais um ano, um erro que até a Grécia já conseguiu corrigir. Já Portas, outro general da mesma fação, ficou acantonado a saciar-se com o pecúlio conseguido de ter tornado (por enquanto) o saque dos reformados ligeiramente menos penoso para uma pequena minoria deles. Fracos despojos para tão grande prosápia. A questão é que, enquanto se discute, e bem, o terror e o estupor social provocado pelas tesouradas transversais nos direitos sociais, se esquece o rastilho que estes decepamentos podem provocar na economia real. Serão muitos os serviços que vão deixar de poder ser prestados. As dívidas que ficarão por saldar. Os investimentos que definharão sem procura. Os investimentos na modernização do país que não apenas não se farão, como se derrapará no já conseguido. Um sinal arrepiante de terra queimada é o facto de 7 mil jovens portugueses terem conseguido ser colocados nos cursos universitários por eles escolhidos, mas depois não se terem inscrito. Não conheço em detalhe as razões desta hecatombe de capital humano potencial, mas imagino que combine dificuldades económicas, por um lado, com a desvalorização da qualificação como fator de sucesso profissional, por outro. Terra queimada. Até mesmo na terra queimada a vida renasce. Chegou o tempo de os portugueses se mobilizarem para um programa alternativo. Para aquilo que queremos ser depois de terem destruído parte do que fomos. Um país que pode ser o território solarengo onde se fará a gestão integrada na nuvem de informação. Um país que pode ser o mais sustentável do mundo no plano energético. Um país que pode ser um laboratório global para a inovação limpa. Um país que pode ser o que quiser desde que tenha uma liderança à altura e gentes mobilizadas. As melhores oportunidades colocadas nas mãos de gente sem unhas ou sem escrúpulos tornam-se grandes ameaças. Um fraco rei faz fraca a forte gente. Se a terra queimou, precisamos de novos semeadores e de novas sementes. O país precisa de todos, ativos, ambiciosos, ousados, empreendedores, libertos, sem preconceitos. Portugueses com dignidade e coragem de voltar a página. Já muitas vezes voltámos a página na nossa história. A que tem estado a ser escrita tem que ser virada depressa.