INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – O génio saiu da lâmpada! A inteligência artificial está a ser integrada nos sistemas em que se baseia a vida quotidiana de pessoas, empresas e Estados, através da utilização massiva e corrente de tecnologia que a tem por base. A presença da tecnologia na vida de indivíduos e organizações ocorreu com grande rapidez, mas demorou tempo a ser percecionada. Na última década, as sementes lançadas por volta de 2000 começaram a criar raízes, a germinar, a crescer num tronco sem grande graça e, de repente, explodiram numa exuberante floração que ninguém pode deixar de ver. É nisto que estamos, atualmente, no mundo industrializado. A tecnologia impõe-se na vida, nos negócios, nas notícias. Multiplicam-se as feiras, de que a Web Summit, em Portugal para os próximos 10 anos, é um exemplo de referência. Aumentam as conferências e os eventos dedicados a temas que incluem 4.0 ou “tech” no título. Criam-se nas universidades áreas dedicadas ao estudo da inovação que vai revolucionando os vários saberes a que se dedicam. Desenvolvem-se nas empresas equipas multidisciplinares que procuram usar a tecnologia com maior eficácia, essencialmente para diminuir custos e melhorar a relação com o cliente. Comercializam-se dispositivos que nos permitem ter acesso online a tudo, a qualquer hora, dispositivos que são embutidos na nossa casa, no carro, no cão, que nos medem a nós, cada batimento cardíaco, cada tensão, cada sono e registam os dados biométricos para uso presente e memória futura.
Tudo online – O telemóvel vai concentrando a maior e melhor parte, com novas funcionalidades, mais câmaras, comandado por voz, comandando outros aparelhos, carregado de aplicações (apps) que servem para o que se quiser. Segundo dados disponibilizados pela Statista, no primeiro quadrimestre de 2019 estavam disponíveis 2.134.302 apps na Google Play Store e cerca de 1,83 milhões na Apple Store. Quando começaram a fazer coisas muito para além de ligações telefónicas, os telefones foram denominados smartphones. O mesmo aconteceu a outras coisas, como os carros, as casas, as cidades. A Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), com sensores que recolhem dados ligados a sistemas de informação e comunicação crescentemente sofisticados, torna smart tudo aquilo em que entra. É uma espécie de toque de Midas, que também gera valor. Toda essa esperteza que nos rodeia assenta na inteligência artificial (Artificial Intelligence – AI). A Singularity University (SU) disponibilizou online o “Exponential Guide to Artificial Intelligence”, que ajuda a compreender o que está em causa. A AI vai-se decompondo em “sub-AIs”, sempre em inglês, língua em que a tecnologia acontece, já acompanhada pelo mandarim que os ocidentais normalmente não entendem. Da inteligência artificial poder-se-ão dizer duas evidências: que é inteligência e que não é biológica. Quando se passa da fase da programação para aquela em que as máquinas aprendem interagindo entre si, sem interferência humana, fala-se em Machine Learning. A inteligência artificial tem alcançado feitos extraordinários, o que vai deixando a inteligência humana incomodada. Refira-se, a título de exemplo em confronto direto, a vitória das máquinas no Xadrez, em 1997 e, em 2016, no Go, o jogo mais complexo conhecido. Outro exemplo especialmente relevante foi a criação de uma nova linguagem por dois sistemas de inteligência artificial (boots) que falavam entre si. Impressionante vem sendo também a criação e desenvolvimento de veículos autónomos, que dispensam os humanos da condução.
Informação e mais informação – A inteligência artificial alimenta-se de dados, dependendo da big data que é composta por toda a informação, estruturada e não estruturada, existente online. O aumento da big data depende de nós, que usamos a internet e a colocamos em todo o lado. Nós vamos dependendo dela para muitas atividades. Recentemente, o país parou devido a uma greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas que impediu que os combustíveis chegassem aos postos de abastecimento. Em três dias gerou-se o caos. O que seria se faltasse a internet? Quanto tempo levaria para que as coisas e os serviços deixassem de funcionar? Quando chegamos a algum lado e nos dizem “Estamos sem sistema”, já sabemos que não vamos conseguir tratar de nada. Podemos pensar no que seria se tudo ficasse “sem sistema”. Nas cidades desenvolvidas e crescentemente smart, a tecnologia torna-se evidente no dia a dia das pessoas e vai despertando interesse, medo e esperança, por vezes até euforia. Luta-se e sofre-se por um telemóvel melhor, uma televisão mais conectada, querem-se serviços online que poupam tempo e paciência. Cada pequeno passo, dado por muitos, está a mudar significativamente o modo como vivemos. Basta recuarmos uma década para constatarmos grandes mudanças, que aceleraram com o gigantesco salto qualitativo proporcionado pelo Machine Learning.
Estamos mais interdependentes, mesmo a um nível global. Estamos, paradoxalmente, mais independentes conseguindo realizar pessoal e diretamente muitas atividades e tarefas, dispensando intermediários e anulando a distância. A tecnologia, em si própria, não é boa, nem má. As teorias catastróficas e salvíficas vão-se desenvolvendo e contrapondo. A mudança, como única constante, é inevitável e vai ser rápida, embora difícil de prever. O génio saiu da lâmpada, vamos ver o que lhe pedimos.
Não é a tecnologia que muda o mundo, somos nós em cada momento e em cada espaço.