Na sua perspetiva, qual o potencial, na cadeia de valor económico e social, do setor da Saúde?
O emprego criado, os níveis de performance atingidos e, em perspetiva, a diferenciação técnica e a inovação que promove no meio técnico-científico justificam a importância atual e futura do setor na economia do país. Obviamente, a segurança que induz nos portugueses e a cobertura conseguida com nível de equidade e resposta às necessidades promove, apesar das circunstâncias atuais, um elevado nível de performance nos indicadores internacionais e conforto e confiança social.
Tendo em vista a proximidade da entrada em vigor da diretiva comunitária de livre circulação de doentes na União Europeia, quais os riscos e oportunidades que poderão existir para Portugal?
A abertura vai afetar alguns setores muito específicos com acesso atual interno restrito/limitado ou áreas externas de excelência. Publicada internacionalmente, não me parece que seja um risco para a atividade globalmente. Vai sem dúvida abrir oportunidades, principalmente onde soubermos juntar diferenciação e eficiência médica nacional (relação qualidade/preço) e sobretudo com vantagens competitivas, nomeadamente: a segurança global do país, os acessos facilitados, as amenidades e serviços hoteleiros de excelência a preços finais de pacote muito competitivos. Vejo aqui, por exemplo, áreas de intervenção médica ou cirúrgica programável aliadas a reabilitação ou com pacote compreensível com convalescença e reabilitação, garantindo as vantagens competitivas do país. Parece-me assim diferenciador, num mercado altamente competitivo, a capacidade de aliar os fatores enunciados de eficiência clínica com qualidade de serviços, acesso e segurança geográfica, clima e hotelaria intra e extra-hospitalar de excelência a custos razoáveis.
Como vê a combinação entre setores na Saúde – público, social e privado – no contexto da indispensável sustentabilidade a médio e longo prazo?
A sustentabilidade está em cada organização e na sua capacidade de adaptação a condições sempre variáveis, numa preocupação constante de adaptação às variações das necessidades e capacidades da população. A nível do país, a sustentabilidade virá da capacidade de eleger as necessidades prioritárias que conseguimos garantir. A combinação dos setores será certamente um fator de sustentabilidade, se aproveitado para promover a eficiência das respostas e não para proteger os lobis profissionais.
Obviamente que a lógica de alocamento de recursos nacionais tem de obedecer a uma hierarquia regional, a inovação virá da liberdade de escolha na entrada inicial (Cuidados Primários), permitindo a flexibilidade de utilização se justificada. Assumidos estes papéis pelo Estado, a prestação ao ser contratada com os vários setores, preservando os papéis do prestador público, e por critérios técnicos públicos e transparentes, acabaria por selecionar as eficiências nos vários níveis, condenando as redundâncias, mas seguramente assegurando a sustentabilidade do sistema.
Na sua opinião, na relação entre setor social e setor público, na Saúde, deveremos falar de competição ou de complementaridade?
Seguramente competição e complementaridade. Competição na introdução de métodos de avaliação e gestão e filosofias organizacionais diversas. Tendo ambas o interesse público por missão, claramente têm diferenças na organização, financiamento, enquadramento legal e administrativo, o que desenvolve e encontra evolução e ganhos comparativos permanentes… Veja-se a evolução técnica e científica do setor social na área dos Cuidados Continuados e seguramente também do setor público nas técnicas de avaliação de resultados comparativos. Complementaridade na procura de respostas adaptadas às necessidades, com o setor social com uma leitura muito local e flexível e o setor público mais central e estrutural. Ambos com uma necessidade premente de novas formas de assegurar equidade e seleção de prioridades e claramente com capacidades diferentes de inovação no financiamento, onde o setor social desenvolve experiências encorajadoras. Resumindo, a saudável competição entre setores deve ser um fator de sustentabilidade do sistema se soubermos introduzir métodos válidos e acreditados de avaliação das necessidades e seleção das respostas e a capacidade de sacrificar viabilidades institucionais/empresariais para assegurar a lógica do sistema regional e a sustentabilidade do sistema nacional.