ONDE OS OUTROS NÃO VEEM FUTURO, ele vê desafio. Inconformado, disruptivo, ousado, inquieto, arrebatador. Suas paixões, a família, os amigos, o mar, os Açores, o bodyboard e a caça submarina. É um apaixonado pela vida, gastronomia, viticultura e pela busca constante pelo Santo Graal do terroir de cada região e dos seus vinhos.
Quem é António Maçanita? Um lisboeta, filho de mãe alentejana, pai açoriano, casado com uma linda francesa, a Alexandra, e pai de três filhos “lindos”. Assume-se como um apaixonado pela vida, vinhos e gastronomia. Ex-jogador de rugby no grande Técnico, os seus hobbies são bodyboard e caça submarina.
A sua paixão e entrada no mundo dos vinhos surge de um erro com um final feliz, pois a sua intenção inicial seria ir para Biologia Marinha, mas um professor recomendou que fosse para Agronomia: ao candidatar-se, enganou-se nos códigos e foi parar ao curso de Engenharia Agro-Industrial, e foi aí que se apaixonou pela viticultura em 1999 e depois nunca mais parou. Em 2000, ainda no curso, tentou plantar uma vinha nos Açores. Depois, em 2001, foi trabalhar para a adega Merryvalle (EUA), em 2002 passou pela Rudd Estate (EUA), seguiu-se a D’Arenberg (Austrália) e o Lynch-Bages (França), em 2003.
António Maçanita Vinhos
Foi após várias viagens que António decidiu começar um projeto próprio. O Alentejo, terra da sua mãe, pareceu-lhe uma boa ideia para se iniciar. O enólogo relembra a felicidade de ter conhecido David Booth, viticultor, amigo e mentor, com quem acabou por fundar um projeto em 2004, Fitapreta Vinhos.
Em 2010, António Maçanita ruma aos Açores, onde arrancou com o projeto de recuperação da Terrantez do Pico, sendo que na época havia menos de 100 plantas. Desse trabalho surgiu um vinho, dois, três, quatro… e acabou por fundar a Azores Wine Company em conjunto com Filipe Rocha.
A Maçanita Vinhos no Douro foi um passo natural porque a sua irmã, Joana Maçanita, também enóloga, fazia consultoria no Douro e desafiou-o a fazerem um vinho juntos. Fizeram um, dois, três… e fundaram a Maçanita Vinhos.
Grande parte das regiões vinícolas são regiões de Maçanita. Perguntámos como define cada região e o enólogo esclarece que não é fácil, sem textos muitos longos. Mas que, por linhas gerais, todas as regiões têm uma grande fraqueza e um grande talento, e é tirando a força dos dois que encontramos o grande terroir. Ainda assume que tem o privilégio e o defeito de ser um produtor de primeira geração, por isso os seus vinhos mostram sempre uma perspetiva independente do potencial da região e da casta.
Questionámos, acerca do seu percurso, quais foram os momentos mais frágeis e os mais saborosos. Respondeu que, sem dúvida, o momento mais complicado foi a partida inesperada do David Booth, que recorda como uma grande perda. Hoje têm o “Preta – Homenagem David Booth”, um vinho que lhe faz uma homenagem e celebra a energia de vida que tinha.
Quanto aos bons momentos, diz-nos que são muitos, mas talvez tenha um sentimento especial pelos Açores, terra do seu pai, e que o facto de estar a contribuir para a mudança e valorização da região lhe “aquece o coração”. Explica-nos que, mais do que fazer vinhos, é o que cada vinho representa, como por exemplo no preço da uva, que antes custaria 0,70€ e hoje vale 4,00€.
Santo Graal do vinho
Sentir que está a contribuir para algo maior, aliado ao facto de adorar o que faz, acaba por ser a sua maior motivação: “Corro por gosto”, diz-nos António Maçanita. Entusiasma-o entender o terroir onde está e também desbravar novos terroirs. Gosta de se colocar em situações desconfortáveis, de voltar ao zero, sem adega, sem equipa. Tem muito interesse por história, pelas castas abandonadas e tenta perceber o porquê de terem sido abandonadas. Assume que é uma busca constante pelo Santo Graal, como podem ser valorizadas novamente. E para isso precisa de aprender da história, da “genetivinho”. Uma busca do vinho com a expressão de terroir perfeita.
O hoje e o amanhã
O enólogo entende que “estamos ainda no arranque da viagem”, que é seu objetivo ter a sua equipa feliz, motivada, a fazer grandes vinhos que os emocionem. Quer fazer melhores vinhas, com uma viticultura enquadrada no nosso ecossistema e que deixe o mundo melhor.
Quer ver os Açores a disputar o melhor que se faz de brancos no mundo, com os mais novos a produzir vinhas e vinhos. Também quer ver Porto Santo a plantar vinha, pois só existem 15 hectares, estava quase a desaparecer. Porto Santo foi dos seus últimos projetos, construiu uma mini adega e ainda estão a raspar a superfície do potencial.Também nos confidenciou que, no Douro, a próxima fase é… surpresa!
Como habitual para terminar a entrevista, pedimos a António Maçanita que se houvesse uma cápsula do tempo, que palavras gostava de deixar ao mundo do vinho, e as suas foram: “O conselho para os jovens enólogos futuros seria… pensem pela vossa cabeça! Para os antigos… aguentem essas castas, que vai valer a pena!”