ENÓLOGA JOANA SANTIAGO

Uma apaixonada pela vida, autêntica, descontraída e dona de um sorriso espontâneo. É a alma e rosto do projeto familiar Quinta de Santiago, juntamente com os seus pais, em Monção, na sub-região de Monção e Melgaço, local onde passou parte da sua infância e ao qual tem uma forte ligação emocional.

Quem é Joana Santiago? – Nasceu em 1978 em Espinho, e após o seu percurso académico na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra exerceu plenamente advocacia até 2014 em escritório próprio com especial enfoque nas áreas do Direito Comercial, Registos e Notariado. De espírito irrequieto, contando com 10 anos de profissão e sentindo-se incompleta com o exercício da advocacia, aceitou o desafio da sua avó Mariazinha, de 89 anos, de desenvolver juntamente com a família o projeto Quinta de Santiago. Uma mulher empreendedora, criativa e cheia de garra por aquilo em que acredita. Tem sido essa a sua postura enquanto gestora deste projeto! O que a motiva é a partilha! É casada, mãe de duas filhas. Adora um bom serão entre amigos com um bom copo de vinho para brindar e uma boa conversa sobre questões legais temperada com alguma parvoíce natural.

Chamamento da avó – A sua chegada ao(s) mundo(s) dos vinhos após um percurso na advocacia foi definitivamente um ato de coragem de mudar de vida e com uma boa dose de loucura para aceitar o desafio e chamamento da avó à terra e às raízes e lançar-se numa área totalmente desconhecida! Independentemente de ter passado a sua infância e juventude a ajudar a avó no campo e na adega, Joana Santiago apostou num projeto de vinhos sério, consistente e de referência na região: “Haja sempre em nós, coragem e loucura nas nossas vidas para procurarmos e alcançarmos o que realmente nos faz felizes e realizados!” Admite que não sente saudades do passado, pois acredita que a vida é feita de ciclos e o seu ciclo na advocacia foi pleno de bons momentos e desafios profissionais. Um ciclo que lhe deixou belíssimas memórias e lhe trouxe pessoas fantásticas.

Joana teve a sorte de encontrar no vinho algo que a realiza plenamente, pelo qual é apaixonada e sente todos os dias ser mais do que uma profissão. É o seu projeto de vida. O que a move é não só fazer vinho, mas partilhar o fruto do trabalho apaixonado e dedicado, o terroir, a cultura, o país, tudo de uma forma contagiante. Quer definitivamente deixar o seu legado e a sua pegada para as gerações futuras e que a recordem como uma mulher inspiradora.

De Espinho, onde nasceu e viveu até casar, a Ovar, onde ficou a viver, não esquecendo Coimbra, onde fez a sua formação académica, Joana poderia acrescentar ao seu percurso todos os países que já visitou para partilha dos seus vinhos, pois todos contribuem de certa forma para a sua caminhada e descoberta, no mundo dos vinhos, trazendo um pouco de cada sítio por onde passa. Admite que adora a experiência de viajar e ter a oportunidade de trabalhar com pessoas incríveis, deixando um pouco do seu país e do seu projeto também nos locais quevisita. Mencionando em especial o Japão, conta-nos que a sua avó materna era chinesa, daí ter um fascínio pelo Oriente, que amou conhecer e onde desenvolveu ações com a Região dos Vinhos Verdes.

Um novo mundo – Joana Santiago, agora produtora, confessa que no início do projeto sentiu uma maior dificuldade, pois como não era enóloga ou técnica no setor teve que aprender tudo de raiz pondo “as mãos na massa”, o que lhe exigiu um esforço acrescido e muitos erros, consequentemente, sendo uma pessoa que não gosta de errar. Joana teve depassar por todos os processos na vinha e adega, provar muito, viajar, conhecer diferentes abordagens à vinha e ao vinho, tudo fruto de muito trabalho e apoio familiar, com que conta sempre para conseguir chegar ao que é e alcançou. Hoje em dia reconhece que esta formação prática de forma contínua e consistente foi a melhor forma de aprendizagem. Enquanto projeto, sendo a quinta um pequeno produtor, a falta de recursos e apoios num mercado tão exigente e competitivo é sem dúvida umas das dificuldades. Outra das dificuldades é encontrar e fixar uma equipa jovem no interior do país, disposta a trabalhar nas vinhas e na adega.

Quinta de Santiago – Uma quinta, uma família, um projeto a crescer, onde o caminho é sem dúvida a consistência. Preservar a identidade e autenticidade sem ceder às oscilações e tendências voláteis do mercado. Pretendem ter um projeto cada vez mais sustentável em sentido lato, e por isso família são todos que fazem e farão parte da equipa. Querem assumir o compromisso de melhorar permanentemente as práticas na vinha em pleno respeito pelas suas vinhas e natureza, preservando o ecossistema e a biodiversidade, sendo ainda mais “verdes”. Pretendem manter uma mínima intervenção nos vinhos para permanecerem fiéis às castas e terroir. E ainda, produzir vinhos cada vez melhores, de classe mundial que elevem a Região do Vinho Verde, seja em Portugal ou lá fora. Têm como prioridade crescer em valor em detrimento de volume e acima de tudo continuar a ter muito prazer no que fazem.

Autenticidade é a característica que define a Quinta de Santiago, onde todos os vinhos comunicam de formaúnica com quem os prova, sendo reflexo de todo o trabalho. Gostam de ser distinguidos dos demais pela valorização do que é autêntico, como o solo franco argiloso, o seixo rolado que têm nas vinhas, a proximidade ao rio, a abordagem à uva na adega intervindo o mínimo possível, a forma como pensam o vinho, entre outras.

Consideram o projeto muito “pessoalizado” (palavra de Joana Santiago), por acreditarem numa comunicação de proximidade e autêntica, seja para com os parceiros seja com os consumidores, aspeto fundamental, enquanto pequenos produtores, para valorizarem essa ligação. Não esquecendo a casta Alvarinho e a motivação em explorar a sua plasticidade, permitindo apresentar vinhos com abordagens únicas e autênticas da casta: por exemplo, o Alvarinho Ânfora, em véu de flor, um Alvarinho de uva sobre-amadurecida com 17% álcool e seco, Alvarinho sem adição de sulfuroso com três anos de estágio em barrica.

Os vinhos – Questionada sobre qual o vinho que considera ser “o menino dos seus olhos”, Joana Santiago respondeu-nos prontamente ser uma questão difícil e explica que todos os vinhos foram criados por uma razão e não ao acaso. Começando pelo Quinta de Santiago Clássico, é um menino dos seus olhos por ser a espinha dorsal do projeto, o primeiro vinho que fizeram, o mais focado na expressão crua e fiel da casta e do território, um vinho clássico para perceber o Alvarinho em Monção e Melgaço. Por outro lado, o Reserva também o é, porque é vinificado em barricas usadas, tal como a sua avó fazia na Quinta de Santiago. Já o Rascunho representa o lado mais experimental e a sua alma criativa. Isto, sem prescindir dos vinhos fruto da colaboração com outros produtores como Nuno Mira do Ó, Pormenor Vinhos e Herdade do Rocim são igualmente meninos dos seus olhos porque são projetos partilhados. E para quem conhece os valores da Quinta de Santiago, sabe que a partilha foi desde sempre um aspeto importante.

Futuro – Uma das realizações que gostaria de alcançar era a criação de uma Denominação de Origem Monção e Melgaço, pois Joana Santiago está convencida que esse será o caminho a seguir no futuro. Para o seu projeto, Quinta de Santiago, espera continuar a crescer de forma sustentável e consistente (principalmente no mercado externo) e que de facto o seu percurso e da quinta representem uma inspiração para as novas gerações de produtores.

Vê os próximos tempos com otimismo e relembra que, se aguentaram quase dois anos em contexto de pandemia e ainda assim aumentaram as vendas… conseguem superar o que quer que seja!

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