BMW NOS PICOS DA EUROPA

A “ESCAPADINHA” PERFEITA

Os Picos da Europa, no norte da Península Ibérica, ficam a poucas horas de qualquer ponto do nosso país e já não são segredo para nenhum motociclista. Quatro dias com roteiro feito, guia na frente e uma BMW R 1250 GSA Triple Black à minha disposição, só pode soar a férias. Não foram férias, porque houve que reunir todo o conteúdo para vos contar estes 1000 km.

É uma sensação muito própria e por certo explica grande parte da capacidade de atração que a BMW Adventure possui. É que assim que assumimos os seus comandos, a posição de condução muito alta, o volume do “depósito” na nossa frente, as grandes carenagens, tudo se conjuga para que nos sintamos no topo do mundo. Somos os “reis da estrada”, não há desafio nenhum na nossa frente que nos possa fazer parar. Sentimo-nos capazes de enfrentar semanas de viagem por qualquer tipo de terreno. É um pouco isso que a organização deste evento, que é já anual, procura demonstrar. Em quatro dias, que desta feita foram passados na região dos Picos da Europa, circulamos por vários tipos de ambientes, incluindo o citadino, para entendermos a polivalência que uma moto tão grande é capaz de oferecer. O baixo centro de gravidade garante uma agilidade que é desconcertante, mesmo quando rolamos em plena carga e o super eficiente sistema de suspensão dianteiro e traseiro garante o controlo do peso de uma forma que rapidamente damos por nós a conduzir como pilotos de grande prémio. A facilidade com que se deixa levar poderá justificar o motivo por que muitos a acabam por usar em cidade, mas nesse campo ainda tenho de evoluir muito para entender andar-se com uma moto deste volume em espaços tão contidos.

Ponto de partida

O ponto de partida desta nossa aventura fez-se no norte de Portugal, Bragança, para onde voámos com a SevenAir, que nos fez recordar o refrão dos Xutos: “De Bragança a Lisboa, são nove horas de distância, queria ter um avião, pra lá ir mais amiúde”. Assim, de facto, Trás-os-Montes torna-se muito mais próximo. A primeira paragem na viagem de moto foi agendada para um almoço na única e muito acolhedora vila de Rio de Onor. Esta tem a singularidade de ser atravessada pela fronteira com Espanha, com ambas as partes conhecidas pelos seus habitantes como “povo de acima” e “povo de abaixo”, não se distinguindo assim de facto como dois povoados diferentes. Daqui aproveitámos a tarde para rapidamente nos embrenharmos nos Picos de Europa, íamos pernoitando em Riaño, localidade nas margens da albufeira criada no rio Esla, que garante umas paisagens apaixonantes, em especial sob a névoa da manhã, com a montanha de fundo.

Em estrada, longe das localidades e onde o traçado das curvas nos levam a abraçar um melodioso bailado com as largas centenas de quilos que representam esta moto com a sua carga, tudo faz sentido, tudo encaixa numa perfeição que justifica o sucesso que este modelo tem. Ao longo das vias rápidas que percorremos a meio da tarde, o volume da frente protege-nos bem da deslocação de ar e dá-nos uma estranha sensação de segurança. O conforto aerodinâmico é excelente, podendo ser regulado pela afinação manual da altura do ecrã, um sistema que já merecia um procedimento mais prático. Neste ambiente é igualmente muito útil o cruise control, que permite manter a velocidade enquanto apreciamos a mudança de cores na paisagem quando o sol desce no horizonte.

 Vistas de cortar a respiração

No segundo dia seguimos em direção a Norte, passado por estradas de montanha com vistas de cortar a respiração que apelam a parar a cada curva para captar mais uma imagem. Seguimos sem grandes delongas, pois era a região do desfiladeiro de Los Beyos, a zona mais aguardada, com estradas estreitas ladeadas de escarpas intermináveis.

A estabilidade da R 1250 GSA é uma das melhores qualidades deste modelo, sendo conseguida, acima de tudo, pelas soluções utilizadas nas suspensões dianteira e traseira, e no baixo centro de gravidade, pelo motor boxer. É quase um paralelismo com o desenho curvilíneo da rochosa montanha que nos rodeia nos Picos da Europa. Sólida e muito estável, esta grande trail germânica brinda-nos com um comportamento dinâmico que consegue rivalizar com motos bem mais desportivas quando a estrada se torna mais sinuosa.

Cangas de Onís recebeu-nos já à hora de almoço com as suas avenidas amplas e edifícios baixos junto ao rio Sella. Uma esplanada da Plaza de La Iglesia, onde se exibe a estátua de Don Pelayo, fundador do Reino das Astúrias, serviu para o grupo recuperar o fôlego de toda a beleza natural que nos rodeou durante a manhã. Seguir numa caravana de excelentes motociclistas, descontraídos e divertidos, precedidos de um guia que nos retira qualquer preocupação com o percurso, transformou estes quatro dias de trabalho numa “escapadinha” com sabor a férias. É bom de vez em quando não estar nos comandos da rota. Um sol quente mas sem ser excessivo ajudou a fazer subir a vitamina D nos nossos corpos e com ela a boa disposição. A tarde levou-nos por mais um desfiladeiro, o de La Hermida, para terminarmos o dia no topo da serra sobre Fuente Dé, um suave percurso fora de estrada para os que quiserem estar ainda mais próximos da natureza e da beleza crua e intocada do coração dos Picos da Europa.

Em viagem, ter espaço para transportar a nossa bagagem é importante, e o conjunto de três malas metálicas que tínhamos a equipar a “nossa” Triple Black albergam facilmente tudo o que levamos connosco. Para uma mais fácil utilização das mesmas, optámos por ter três sacos macios que colocávamos em cada uma das malas. No fim dos dias não tínhamos de carregar o peso das malas, apenas levávamos o que necessitávamos, deixando tudo o resto bem fixo à moto, dentro das malas que têm fechos coordenados com a chave da moto. Um pequeno aspeto da Adventure, que se revela grande em muitas situações, é o “porta-moedas” no topo do depósito, onde, além de algum dinheiro, podemos colocar tickets da portagem ou objetos que queiramos ter sempre à mão. Com tudo carregado o voluntarioso boxer com 143 Nm de binário e resposta firme desde baixos regimes garante que o ritmo é sempre consistente, mesmo quando se sobe à montanha mais alta. A surpresa vem dos consumos que rondam os 5,5 litros em velocidade de autoestrada, baixando facilmente dos 5 em estradas nacionais se o ritmo for contido.

A 1823 metros de altitude

Na manhã do terceiro dia, o teleférico que parte da Fonte Dé levou-nos à cota dos 1823 metros de altitude, uma vista privilegiada de um dos maiores cumes destas formações rochosas. O resto do dia, que nos levou ao longo da N-621, uma estrada de mil e uma curvas, com igual número de vistas. A paragem torna-se “obrigatória” no Mirador del Corzo e mais à frente vale a pena o desvio da rota principal para ver o monumento Al Oso Pardo. Para quem gosta de dançar com a sua moto em estradas de beleza única, estas dezenas de quilómetros que nos levaram de novo até Riaño são imperdíveis.

A noite do terceiro dia passou-se em Ponferrada, uma cidade marcada pelo seu passado romano e por ser ponte de passagem em direção a Santiago de Compostela. O seu Castelo dos Templários destaca-se, sendo uma construção soberba, bem conservada. Nele funciona a Biblioteca Templária e o Centro de Investigação e Estudos Históricos de Ponferrada, com cerca de 1400 livros, entre os quais estão incluídos fac-símiles de obras de Leonardo da Vinci.

A alvorada do quarto dia deu-se cedo, ainda com temperatura muito baixa e humidade no ar. Benditos punhos aquecidos. O objetivo foi ver os primeiros raios de sol baterem nas rochas douradas de Las medulas, uma antiga exploração romana de ouro a céu aberto. Do alto do miradouro de Orellán temos uma vista deslumbrante obtida pelo contraste do castanho-vivo (quase dourado) face ao verde-escuro da vegetação constituída maioritariamente por castanheiros. É uma imagem perfeita para registar no final de quatro dias que nos deixaram a recordação de uma região riquíssima em tudo, desde natureza, comida e estradas perfeitas para andar de moto.

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