MAIS DE UM SÉCULO DEPOIS de Walter Owen Bentley ter fundado uma das marcas de automóveis mais históricas do planeta, a equipa sediada em Crewe está prestes a passar por um dos seus momentos mais importantes de sempre. Todos os automóveis que está a produzir atualmente poderão mesmo ser dos mais históricos Bentley no futuro, pois são também últimos de uma geração grandiosa de melódicos motores de combustão. A partir do ano 2030, todos os Bentley serão alimentados apenas por eletricidade.
Até lá, este Bentley Continental é um dos porta-estandarte da marca de Crewe. Na sua geração mais recente, conseguiu ficar ainda mais elegante e perfeito, além de contar com os padrões de qualidade mais elevados de sempre. As linhas da carroçaria fluem ao longo dos painéis, com sombras e tons que ainda oferecem uma forma melhorada de apreciar todo o conjunto.
A designação Azure é a que batiza a unidade que tivemos oportunidade de conduzir e fica no segundo patamar da oferta. Conta com tudo aquilo que o Bentley Continental GT já inclui, mas ainda adiciona diversos detalhes que o tornam ainda mais especial. Entre eles, a grelha frontal com as barras verticais ou as exclusivas jantes com 22 polegadas de diâmetro, entre diversos outros.
Requinte Extremo
Assim que surge o primeiro contacto que o habitáculo percebemos que é necessário um pequeno compasso de espera e que por muito que o mundo pareça estar a andar mais rápido do que aquilo que seria ideal, este é o momento de parar tudo por uns segundos. O ambiente a bordo deste Bentley Continental é uma espécie de molde que nos mostra como todos os automóveis deveriam ser. E por se tratar da nova versão Azure, temos ainda a garantia de que tudo à nossa volta foi pensado e desenvolvido com a ajuda de neurocientistas e especialistas de wellbeing, para que a experiência ao volante fosse mais serena possível.
No lugar do condutor, todo e qualquer detalhe parece perfeito, sem qualquer margem para críticas. Qualquer um dos comandos oferece uma robustez irrepreensível e mostra o trabalho artesanal com que tudo é construído, desde o encaixe de todos os componentes até às costuras dos painéis das portas, volante, consola e assentos. O padrão das costuras nos assentos contribui para todo este ambiente, o sistema de abertura e fecho da ventilação mantem os comandos inspirados pelos órgãos de tubos e mesmo as saídas de ar incluem um desenho que combina com os elementos que estão à sua volta, numa harmonia fascinante.
Por se tratar de um dos mais modernos modelos da Bentley, é claro que estão presentes todas as tecnologias mais recentes, incluindo um painel de instrumentos totalmente digital e um monitor tátil central que, no entanto, pode desaparecer da vista, rodando sobre si mesmo e deixando visíveis apenas três mostradores de visual mais clássico.
Sendo esta a versão GT, quer dizer que estamos perante um Coupé, com quatro lugares a bordo. Os dois da frente são aquele espaço sublime em que não nos vamos importar de estar sentados durante algumas horas, enquanto vemos o cenário a passar e deliciamos os ouvidos com o elaborado sistema de som da Naim, desenvolvido especificamente para cada Bentley.
Para quem viaja atrás, o ambiente já poderá não ser assim tão perfeito. O espaço é suficientemente amplo para as duas pessoas previstas, mas a medição da altura, a posição das pernas e os centímetros em relação ao assento da frente já não transmitem a mesma vontade de viajar durante horas.
Um pouco mais atrás, na bagageira, dizem que existe bastante espaço disponível, mas este é apenas aquele compartimento usado pelo caddie do clube de golf quando está a arrumar o saco com os tacos que estivemos a usar, ou onde o paquete do hotel arruma as malas depois de nos trazerem o carro.
Um “simples motor V8
A linhagem mais nobre de todos os Bentley vem acompanhada de um majestoso bloco de seis litros e 12 cilindros em W. No entanto, nesta versão Azure, não é esse que está sob o capot. Neste caso, temos de nos contentar com um “simples” motor V8 de quatro litros, com dupla sobrealimentação e uns “singelos” 550 cavalos de potência e 770 Nm de binário.
Com esta motorização, no entanto, o som que sai dos escapes é algo que temos alguma dificuldade de transformar em palavras. Inicialmente parece uma sonoridade gutural que nos vai insultar com notas capazes de nos ferir os tímpanos. No entanto, antes que isso aconteça, o som rouco transforma-se em algo melodioso e cativante, que nos apaixona em vez de nos insultar. É simplesmente perfeito e totalmente alinhado com o estatuto que esperávamos de um Bentley.
Aquilo que diversos consumidores da marca podem nem sequer se aperceber é que este “simples” motor V8 é muito mais evoluído do que se poderia imaginar. A uma velocidade estabilizada e nos momentos em que não estamos a provocar a mecânica para que esta nos transmita a tal melodia proveniente do sistema de escape, metade dos cilindros são desligados sem darmos por isso, otimizando as médias de consumo e permitindo uma autonomia ainda mais longa. Afinal, um GT foi pensado para grandes viagens e com o seu depósito de combustível com uma capacidade de 90 litros, a Bentley afirma que ficam disponíveis mais de 700 quilómetros de autonomia.
Em contrapartida, por se tratar do V8, as prestações também não são tão impressionantes como as do enorme W12. Ainda assim, os ganhos de peso, ainda permitem que a aceleração dos 0 aos 100 km/h seja efetuada em apenas quatro segundos e a velocidade máxima fique muito próxima dos 320 km/h. E tudo isto com um nível de conforto extremamente elevado, com a ajuda da suspensão pneumática, capaz de se adaptar praticamente a qualquer tipo de piso.
Nos momentos em que o ritmo aumenta, o Bentley Continental vai lembrar-nos de que o seu peso ronda as 2,2 toneladas. Ainda assim, as barras estabilizadoras ativas que são alimentadas por um sistema de 48V, conseguem gerar forças contrárias ao que estamos a exigir das leis da física, atenuando consideravelmente os movimentos da carroçaria e mantendo o ambiente a bordo no desejado patamar mais sereno que faz parte desta apaixonante versão Azure do Bentley Continental GT.
