XAVIER MARTINET

“SOMOS UMA REFERÊNCIA NO MERCADO PORTUGUÊS

 

Xavier Martinet é o administrador-delegado da Renault Portugal. Empenhado em promover uma política de “proximidade com todos os colaboradores”, declara que é fácil trabalhar com profissionais que têm “objetivos bem definidos” e que conhecem bem as suas funções. Certo de que Portugal é um mercado muito importante para a Renault, não tem dúvidas ao afirmar que o mais importante, neste momento, é “recuperar a economia portuguesa”. Por isso revela que um dia mais tarde vai gostar de poder dizer que contribuiu para que a Renault Portugal “se tornasse mais forte, depois da crise”.

 

Que balanço faz destes meses como administrador-delegado da Renault Portugal?

Depois de quatro meses em Portugal, o balanço que faço é muito positivo, muito melhor do que esperava. Eu vinha de fora e esperava encontrar um país numa péssima situação económica, o que teria um grande impacto negativo na indústria automóvel. O que constatei foi que a Renault continuava a ter muito sucesso em Portugal, não obstante o facto de a situação económica ser realmente grave. A verdade é que crescemos em 2013.

Na minha opinião este cenário deve-se a três fatores importantes. Em primeiro lugar, penso que a Renault tem os produtos ideais para o mercado português e o novo Clio, o Captur e outros produtos deste segmento são muito importantes, já para não falar nos veículos comerciais. Por outro lado, a equipa da Renault Portugal é muito profissional e na maior parte das vezes todos os nossos parceiros afirmam ser muito fácil fazer negócios com a Renault. Por fim, penso que temos a melhor rede de concessionários, o que também é o nosso maior trunfo.

 

O que representa para si ter sido escolhido para este cargo?

Para mim é uma honra. Foi o reconhecimento de todo o trabalho que desenvolvi. Mas é também uma grande responsabilidade porque a Renault Portugal é uma grande marca, fomos líderes de mercado durante 16 anos e queremos continuar a sê-lo. Não tenho dúvidas de que é realmente uma grande responsabilidade.

 

Quais foram, até agora, as principais medidas que tomou ao nível da gestão?

Desde que Portugal se juntou à União Europeia em 1986, os piores anos, em termos de mercado automóvel, foram 2012 e 2013. Assim, para nós o principal foco foi manter a perenidade e produtividade, de modo a podermos dar respostas às nossas obrigações. Não foi algo que começámos quando fui chamado para exercer este cargo, foi algo que se iniciou há muito tempo atrás. Temos de continuar a trabalhar porque é necessário adaptarmo-nos a esta situação, e uma das medidas que tive de implementar de início teve a ver com a perenidade da nossa rede de concessionários. Contudo, não podemos ser só defensivos, temos de olhar para o futuro e investir. Por isso também foi muito importante incutir a esperança nos nossos parceiros.

 

Quantas pessoas trabalham sob o seu comando? Qual a relação que pretende estabelecer com os seus colaboradores?

Trabalham aqui cerca de 80 pessoas. Quando cheguei, o que encontrei foi uma equipa com muito sentido de responsabilidade e para quem os resultados são muito importantes. Isto é algo que quero manter. Por outro lado, estou também a tentar manter uma cultura de proximidade com todos os colaboradores.

 

Sentiu facilidade em trabalhar com os portugueses?

É relativamente fácil trabalhar com alguém que tem objetivos bem definidos e que conhece bem as suas funções.

 

Quais as principais dificuldades que enfrentou até ao momento?

Foi, realmente, o estado do mercado. Temos de nos adaptar a esta nova realidade.

 

Qual a marca pessoal que quer deixar na Renault Portugal?

Eu penso que a marca Renault é mais forte do que as pessoas que nela trabalham. Contudo, a minha marca tem mais a ver com os resultados que quero alcançar. Se eu puder dizer que contribuí para que a Renault Portugal se tornasse mais forte, depois da crise, ficarei muito satisfeito.

 

Qual foi o seu percurso profissional até aqui?

Comecei há 16 anos na Renault, portanto estou desde essa altura na indústria automóvel. Estive também na Nissan, parceira da Renault. Trabalhei em quatro países diferentes: França, Hungria, Estados Unidos e Portugal. A indústria automóvel é complexa e, na minha opinião, é necessário passar pelas várias fases para que possamos ser melhores. Quando trabalhei com a Nissan, nos Estados Unidos, pude descobrir outra maneira de trabalhar e outras soluções que podem ser aplicadas a esta indústria.

 

Como define a Renault?

É o casamento entre 115 anos de inovação e uma proximidade muito grande com os clientes. A Renault foi sempre uma marca capaz de inovar e basta lembrar modelos como o Renault 5, o Twingo, o Espace ou o Scénic, que criaram novos mercados. E mais recentemente com os veículos elétricos. A Renault sempre esteve muito próxima dos seus clientes e tentamos passar esses valores para a nossa rede de concessionários. Inovação e proximidade são palavras de ordem para nós.

 

Qual o posicionamento da Renault a nível internacional? E em Portugal?

Nós somos uma referência no mercado português. A Renault a nível global é uma empresa cada vez mais internacional com uma presença cada vez mais forte fora da Europa. Em 2013, nos sete principais mercados da Renault a nível mundial apenas dois são na Europa. E o Brasil e a Rússia já estão no pódio logo a seguir ao mercado francês.

 

Qual é a importância do mercado português para a Renault?

É muito importante. Portugal está no top dos 25 mercados mais importantes para a Renault, em termos globais, mesmo com a situação adversa do país. E a Renault tem a ambição de voltar a ser a segunda marca no mercado europeu. E para ser a segunda marca na Europa tem de ser líder em alguns países como na França ou em Portugal.

 

Como caracteriza o mercado automóvel em Portugal?

O mercado caracteriza-se pela crise que atravessa. Uma parte da classe média não está disponível para comprar um carro e isto torna Portugal diferente de outros mercados internacionais. Outra característica que distingue o mercado português tem a ver com os impostos elevados. Contudo, os portugueses adoram carros e isso permite-nos falar e chegar às pessoas de maneiras diferentes. Isto é algo que, para nós, é muito positivo.

 

A Renault sentiu a crise que se instalou, na Europa, no mercado automóvel?

Todos a sentiram porque o impacto foi grande. Tal como outros, tivemos que fazer ajustes. Porém, como temos uma enorme expansão global, os efeitos sentidos foram minimizados.

 

O que é que, na sua opinião, o Estado pode fazer para apoiar as marcas automóveis?

É necessário recuperar a economia portuguesa. Tudo o que o Governo fizer nesse sentido vai ajudar-nos, certamente.

 

Que lançamentos poderemos esperar para 2014? Qual vai ser a principal aposta da Renault para este ano?

Vamos apostar em veículos como Clio, Captur e Mégane, que foram recentemente lançados ou renovados. E, para além da Renault temos também a Dacia, que neste momento tem a gama mais jovem de todos os construtores e que em 2013 foi a marca do Top 20 que mais progrediu. E, claro, não podemos esquecer os veículos comerciais. Em 2013 a Renault reforçou, em Portugal, a sua liderança deste mercado com uma quota de mercado de mais de 20% e a maior de sempre desde que a marca se implantou em Portugal. Este resultado no mercado dos comerciais ligeiros é uma prova evidente da qualidade dos nossos produtos e da nossa rede, que responde de forma eficaz às exigências, mais elevadas, dos clientes profissionais. E neste mercado vamos lançar o novo Trafic, após o verão. Vai ser um ano intenso para nós.

 

Em traços gerais, qual o perfil dos clientes Renault?

Vendemos 18 mil carros no ano passado e é muito difícil traçar um perfil dos nossos clientes, uma vez que cada carro atrai um cliente diferente. Nós temos produtos para todas as pessoas, mas estamos satisfeitos por ver que os novos modelos como o Clio e o Captur estão a atrair um cliente mais jovem.

 

O facto de serem uma das marcas mais conhecidas do mercado não faz com que tenham uma responsabilidade acrescida?

Claro que sim, temos uma grande responsabilidade. O facto de sermos uma das marcas mais conhecidas do mercado faz com que todos queiram saber e analisem o que estamos a produzir. Mas para mim isso é uma oportunidade, já que faz com que queiramos sempre fazer mais e melhor. Estamos sempre a pensar o futuro.

 

Qual foi a vossa quota de mercado em 2013? Que valores esperam atingir em 2014?

O ano de 2013 representou para a Renault uma quota de mercado de 12,9%, o que foi um ótimo resultado com um crescimento de mais 1,6 pontos percentuais face a 2012. E a Dacia obteve uma quota de 1,6% e cresceu mais 0,6 pontos face a 2012. Em 2014 esperamos manter globalmente uma quota de mercado de Renault mais Dacia de cerca de 14,5%.

 

A aposta na mobilidade elétrica está a ter o retorno esperado?

A aliança Renault Nissan vendeu até agora 140 mil veículos elétricos em todo o mundo, e se analisarmos este valor, chegamos à conclusão de que é o mesmo que o mercado automóvel em Portugal num ano. O que não deixa de ser muito interessante e deveras impressionante. Os resultados podem não ser tão elevados como esperaríamos, mas também nos apercebemos de que quando não existem incentivos no mercado tudo se torna mais difícil. Mesmo assim continuamos a acreditar que os veículos elétricos são uma realidade e farão parte do futuro da mobilidade.

 

O futuro da Renault está nos carros elétricos?

Os veículos elétricos são parte da solução, não acreditamos que em 2020 estes representem mais de 10% das vendas, mas somos os pioneiros desta tecnologia e iremos continuar a apostar nesta nova forma de mobilidade.

Mas,em parelelo, a Renault irá continuar a desenvolver os seus motores térmicos para os tornar cada vez mais eficazes, mais económicos e mais ecológicos.

 

Quais são os seus projetos para o futuro?

Melhorar o meu português e descobrir este bonito país.