A visita de Angela Merkel serviu para mostrar que em Portugal a “chancelerina” divide as opiniões. De um lado, os que a acusam de “assalto”, do outro, os que lhe reconhecem direitos de credora.
Angela Merkel esteve seis horas em Portugal, mas a cobertura feita a todos os níveis – desde a segurança à comunicação social, passando pelas manifestações e pelas declarações de várias personalidades da sociedade civil – fez parecer que foram muitas mais. Basta dizer que o plano de segurança montado para o evento foi idêntico ao que, em 2010, as forças policiais delinearam para a visita do Papa. E os sentimentos mistos que a sua visita provocou nos portugueses mostraram bem o poder que é reconhecido à “chancelerina”, como lhe chamou o secretário-geral do PS, António José Seguro. De um lado, os indignados bradaram bem alto que ela era personnanongrata, do outro, os empresários e os governantes estenderam-lhe o tapete, não só por uma questão de boa educação diplomática, mas porque sabem bem que o poder de Merkel é maior do que o de qualquer outro chefe de Estado europeu, quanto mais não seja porque é a Alemanha a maior contribuinte líquida do orçamento comunitário onde Portugal vai buscar dinheiro para financiar a sua dívida. Talvez por isso, os elogios que Merkel deixou à aplicação do programa de ajustamento negociado com a troika foram vistos como um sinal para o mundo, que muitos consideraram de vital importância para ajudar Portugal a ultrapassar a crise. A chanceler alemã fez questão de sublinhar que sentiu “uma forte determinação” por parte do país de “superar uma situação difícil, um período duro para o povo”. “Portugal vai conseguir cumprir o memorando de entendimento com a troika”, constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, afirmou Merkel à imprensa após um encontro com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, no final do qual deixou uma mensagem de apoio: “Tudo farei para que Portugal tenha um final feliz e para que nos entendamos na Europa.” Tanto a chanceler como o primeiro-ministro luso rejeitaram a necessidade de Portugal renegociar o memorando de entendimento com a troika, e Merkel fez questão de ressalvar que a hipótese de um segundo resgate parece estar longe do horizonte português. “Neste momento, não há motivos para uma renegociação. Portugal cumpre os compromissos assumidos corajosamente”, afirmou a chefe do Governo alemão, numa entrevista à RTP. (…)