São feitas em pequena escala, muitas vezes até em casa, mas são já uma moda. Falamos das cervejas artesanais, e em particular da 8ª Colina.
Quando frei Nicolau de Oliveira, no século XVII, nomeou Lisboa como cidade das sete colinas, fê-lo por puro pretensiosismo, forçando a aproximação à primeira capital do Império Romano, Roma. Vista do mar, a cidade aparentava ter, apenas, sete colinas, pois dessa perspetiva ótica, o Castelo de S. Jorge tapava a visibilidade da oitava colina, a da Graça, vil e voluntariamente marginalizada pelo frei, que tinha o seu propósito definido – o paralelismo com Roma. A oitava colina, escondida das vistas pelo castelo e escondida do reconhecimento pelo frei, manteve-se de pé pela resiliência das suas gentes, marginalizadas dos focos da cidade da luz. É esta herança histórica que serve de inspiração para a cerveja 8ª Colina, produzida na colina da Graça. Esta é uma cerveja fora daquilo que está preestabelecido, formatado e imposto e que pretende mostrar ao mundo que não existem apenas cervejas “loiras, pretas ou ruivas”, mas que podemos escolher e saber exatamente aquilo que bebemos. Na 8ª Colina, é feito um trabalho ambicioso, sem artifícios, que tem por objetivo encontrar a cerveja artesanal perfeita. Assim, as cervejas são produzidas exclusivamente a partir de malte, água, lúpulo e leveduras. São cervejas não filtradas, com carbonatação natural produzida pela própria fermentação.
Com nome de santo cervejeiro, a Zé Arnaldo é uma Robust Porter, historicamente associada aos estivadores dos portos londrinos, que além da sede saciavam a fome ao bebê-la. É uma cerveja escura, resultado de um trabalho harmonioso entre os maltes doces e torrados que a preenchem. A espuma quer-se densa e acastanhada. No aroma os sete maltes diferentes impõem-se de forma robusta combinando com um ligeiro frutado. Na boca, o corpo cheio e denso permite desfrutar plenamente da harmonia entre os diferentes maltes, doces e torrados. Florinda é uma proposta fresca que ostenta uma cor acobreada e uma espuma branca e veemente. No aroma as leveduras lager e os maltes pilsen deixam adivinhar o que aí vem. Uma prova extremamente fresca, leve, com os sabores do malte pilsen e caramelo bem presentes. Por tudo isto é fácil deixarmo-nos levar por ela uma e outra vez. Urraca Vendaval é uma IPA (India Pale Ale), uma cerveja límpida de cor alaranjada. No aroma, um vendaval de lúpulos de carácter cítrico e tropical. Na boca, de início, os maltes bem presentes, a abrir caminho para um fim de prova com um amargor ao mesmo tempo imponente e equilibrado. Lúpulo, lúpulo, lúpulo. Do início ao fim. Pela força do seu carácter, não há ninguém que não a respeite. A sua coragem e espírito resiliente são imagem desta IPA. Como a embalagem é também muito importante, a ilustração dos rótulos destas cervejas é feita pelo artista português Gonçalo Mar e, também por isso, cada garrafa é uma verdadeira obra de arte.