MUNDIAL 2014 PROTESTOS E ESPERANÇAS NO MESMO POTE
O campeonato do mundo mais caro de sempre no país do samba, futebol e praia, onde os protestos prometem ganhar cor.
A 12 de junho arranca o Mundial de Futebol no Brasil. Doze cidades brasileiras servirão de palco durante um mês ao espetáculo do desporto-rei e às emoções e esperanças de 32 países. Milhões estarão colados às televisões, outros milhões estarão no Brasil para assistir ao vivo e a cores às manobras dentro de campo de alguns dos principais craques mundiais, como Cristiano Ronaldo ou Leo Méssi. Mas é fora de campo que estão concentradas as principais atenções das autoridades brasileiras, mundiais, do mundo do futebol e das próprias marcas que patrocinam o evento e as equipas. O Mundial do Brasil de 2014 está a ser visto e analisado como um barril de pólvora pronto a explodir a qualquer momento. E num país da dimensão do Brasil e com todos os problemas de segurança que se conhecem, a tensão está em alta a poucos dias do arranque do campeonato do mundo de futebol. Na terra do samba, futebol e praia, a população promete não se deixar convencer pelos dribles mágicos de Neymar e a sua canarinha e, nas ruas, os protestos têm-se feito ouvir alto e em bom som. A nova música do compositor Edu Krieger “Desculpa, Neymar” promete mesmo tornar-se o grande hit antimundial, ao cantar “enquanto a FIFA se preocupa com padrões, somos guiados por ladrões que jogam sujo para ganhar. Desculpe, Neymar, eu não torço desta vez”.
Números e mais números
No arranque do ano, o quinto relatório das ações governamentais relacionadas com a fase final do Campeonato do Mundo apontava já para um investimento na ordem dos 8,2 mil milhões de euros. Números que ficarão aquém dos gastos finais e que têm levado milhões e milhões de brasileiros a exigir nas ruas que esse dinheiro seja investido em escolas, hospitais e outros serviços de primeira necessidade para tirar a população mais carenciada de situações de pobreza. A 65 dias do arranque do Mundial, um estudo do DataFolha, instituto de pesquisa pública brasileiro, avançava que 55% dos brasileiros apontavam para mais prejuízos do que benefícios para a população, com a realização do Mundial 2014, enquanto apenas 36% viam mais vantagens. O investimento tem sido, de facto, muito, naquele que é já apontado como o campeonato do mundo de futebol mais caro de sempre. Até ao final do ano, 1,9 mil milhões de euros tinham sido usados nos aeroportos e operações nessa área, uma vez que em cada uma das 12 cidades-sede estas infraestruturas estão em obras. Para quem chega por via marítima, foram investidos nos portos 165,6 milhões de euros. E porque para jogar futebol é preciso haver estádios adequados, os brasileiros também não se fizeram rogados na hora de investir em grandes palcos: 2,5 mil milhões de euros no final do ano, apontando-se para que no final a fatura chegue aos 3,1 mil milhões de euros.
Eventos desportivos têm sido, por norma, sinónimo de aumento da procura turística. Hotéis, restaurantes e afins têm sido uma das grandes apostas, com 61,2 milhões de euros aplicados em infraestruturas desta natureza. A segurança é outra das grandes preocupações: 375 milhões de euros para segurança pública e mais 200 milhões para a área da Defesa. O Governo brasileiro vai aplicar durante o Mundial de Futebol a maior operação de sempre no capítulo da segurança, com 170 mil polícias, militares e agentes secretos no terreno em exclusivo, segundo foi anunciado há poucas semanas. Números que significam mais 22% de efetivos do que aqueles que foram utilizados no último campeonato do mundo de 2010 na África do Sul. Do outro lado da equação aparecem os postos de trabalho criados: 47,9 mil novos empregos no Brasil, no setor do Turismo, para atender os 3,6 milhões de visitantes esperados entre junho e julho, estimou a Confederação de Comércio, Serviços e Turismo. No segundo trimestre de 2013 já tinham sido criados 29,5 mil postos de trabalho nas cidades-sede do Mundial: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Micro e pequenas empresas brasileiras beneficiaram da criação de novos negócios num valor que ultrapassa os 31 milhões de euros. Com ou sem protestos, com estádios por acabar e mais ou menos calor, a seleção portuguesa promete deslumbrar. Scolari vê a equipa das quinas como uma das favoritas e os seus cinco principais patrocinadores – Meo, Galp, BES, Sagres e Continente – esperam um retorno de 90 milhões de euros com esta aposta.
A nossa seleção
O arranque da prestação portuguesa está marcado para 16 de junho, no Estádio Fonte Nova, em Salvador. Do outro lado estará a poderosa seleção da Alemanha e na tribuna, a chanceler Angela Merkel já confirmou a sua presença. Este é o primeiro jogo que a seleção portuguesa fará no Grupo G do Mundial 2014, que inclui ainda as seleções dos EUA e do Gana. Os três golos de Cristiano Ronaldo frente à Suécia no play off de apuramento para o Mundial são o símbolo daquilo que está nos ombros do capitão da seleção. O melhor Ronaldo de sempre, como tem sido apontado por vários comentadores e especialistas, dará tudo em terras de Vera Cruz naquele que será, muito provavelmente, o seu último mundial ao melhor nível. Em junho, dependerá também do sucesso da seleção muito do otimismo e da boa disposição da população portuguesa.