Maria de Fátima Bonifácio
Dom Quixote
António Barreto é frequentemente apresentado como um “senador do regime”. Ao longo de anos e décadas, foi acumulando uma extraordinária experiência e uma invulgar sabedoria, continuando a impor-se no palco nacional por mérito próprio – pela sua independência tranquila, a respeitabilidade da sua pessoa, a autoridade das suas palavras esclarecedoras, o seu juízo sólido, maduro, equilibrado, quase sempre dissonante do mainstream ou das “ideias recebidas”, quase sempre crítico do poder. Retirou-se muito cedo da vida política ativa (1991), com 49 anos. Chegou talvez alto demais cedo demais: aos 34 anos já era ministro (e antes disso já fora secretário de Estado). Esta precocidade, porém, não desfaz o paradoxo que tanta gente de há muito estranha. António Barreto tinha tudo para ser tudo o que há para ser em Portugal.