MIGUEL VELEZ

“O THE YEATMAN É ÚNICO”

 

Demonstrando toda a paixão com que desempenha a função de diretor-geral no hotel The Yeatman, Miguel Velez revela, em entrevista à FRONTLINE, o seu percurso profissional, referindo, como não poderia deixar de ser, as unidades hoteleiras por onde já passou. Acreditando que é sempre possível fazer mais e melhor, Miguel Velez pretende continuar a oferecer aos hóspedes, por muitos e longos anos, “a excelência de serviço” exclusiva de um hotel “único”.

 

Quem é Miguel Velez?

Tenho 39 anos, sou uma pessoa que acredita na família, no esforço do trabalho, na transparência entre relações (sejam pessoais ou profissionais), na lealdade e que tudo tem o seu tempo. Sou casado há mais de 10 anos, tenho um filho e um cão e um enorme orgulho nos meus pais. Acredito que se fizermos o bem e respeitarmos os outros, seremos recompensados no longo prazo. Foi assim que fui educado pelos meus pais. Como gestor, acredito que as empresas têm de ser rentáveis cumprindo códigos deontológicos rigorosos. A minha maneira de pensar decorre, sobretudo, da educação católica que tive, da universidade que frequentei, a Universidade Católica. Não acredito em conversas que não tenham uma base quantitativa rigorosa e “axismos” não fazem parte da minha forma de estar. Foi uma lição importante que tive de anteriores chefes.

 

Qual foi o seu percurso profissional até aqui?

Acredito que o meu percurso profissional tem sido o resultado da minha formação e de todos aqueles que em mim acreditaram. Gosto e sinto-me à vontade na prática da Gestão. Terminei a licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica e, passados uns anos, concluí um MBA em Marketing, na Escola de Gestão do Porto, sendo que frequentemente tenho tido oportunidade de participar em formações para executivos lecionadas pela London Business School e INSEAD. No meu percurso profissional, estive quase nove anos no Grupo Sonae. Comecei na área do frio industrial, numa empresa chamada Selfrio, depois passei pela Novis e por fim pela Sonae Turismo. É uma escola fantástica, da qual guardo excelentes recordações. Foi aí que me tornei gestor e essa oportunidade devo-a a quem em mim investiu. Entre a Novis e a Sonae Turismo, fiz parte dos primeiros colaboradores da Oniway e fui dos últimos a sair quando a empresa fechou. Aprendi a grande lição de que a vida é feita de vitórias e derrotas, que o sucesso, tal como a derrota, é sempre temporário. De seguida estive na Sogrape, como diretor de Marketing da área dos vinhos do Porto. Guardo recordações únicas da empresa, da sua cultura, do setor do vinho e por fim das grandes lições de marketing que recebi. O que hoje sei nesta área, devo-o a essa oportunidade. Entrei na hotelaria há cerca de oito anos, tendo ido para o Algarve, trabalhar num resort que era membro da The Leading Hotels of the World, o Vila Sol. Além de ser um setor fantástico, estou completamente convencido de que se trata de uma área estratégica e que, apesar desta crise, não podemos abandonar todo o investimento que foi feito. Portugal é hoje um destino de luxo, com um serviço de boa qualidade e hotéis exclusivos, num setor que traz receita para o país, cria emprego, difunde o destino e permite a entrada de investimento internacional. É neste panorama que o desafio do The Yeatman surge. Não se deve trabalhar para os prémios, na minha opinião, mas quando assim for melhor, excelente! O The Yeatman ganhou o prémio de melhor carta de vinhos, melhor hotel independente, um Garfo de Platina, uma estrela Michelin, tornou-se membro da Relais & Châteaux, e tudo isto em menos de dois anos de operação. Trata-se do resultado de uma visão do CEO do grupo, Adrian Bridge, de uma aposta no investimento por parte dos acionistas e do trabalho de uma equipa que diariamente procura fazer melhor. Assim, juntar-me a esta equipa é uma enorme honra.

 

Esteve já na direção de várias unidades de norte a sul do país. Quais são as principais diferenças que aponta ao nível do turismo?

Vejo mais semelhanças do que diferenças. Temos excelentes produtos hoteleiros, temos equipas dispostas a trabalhar e a oferecer um serviço de qualidade, é preciso promover Portugal como um todo nos mercados internacionais e alargarmos a base de clientes. Não faz sentido andarem os hotéis a dividir clientes e a entrar em disputas de preço. É preciso pensar grande, não como fizemos no passado a nível de investimentos pesados (até porque muito já está feito e agora é preciso rentabilizar), mas sim com soluções capital light para reforçarmos o destino Portugal. Cada região tem as suas características. Eu geri unidades no Algarve, Troia e Porto e, claro, cada uma tem os seus pontos fortes, mas que até se complementam. Mesmo dentro de cada destino, encontramos diferentes segmentos, do lazer aos negócios. Creio que o The Yeatman é um bom exemplo de um hotel independente que promove o Porto, o Douro, o Minho e o Dão a nível internacional, com agências de comunicação em vários países.

 

Como descreve o hotel The Yeatman? Qual o seu conceito? Podemos afirmar que se trata de um negócio mais “familiar”?

Hoje em dia a palavra “único” tem pouco significado, pois passou a ser usada para tudo. O que é único e o que não é. Na realidade, o The Yeatman é único. A combinação, naquilo que tenho chamado de osmose, entre hotelaria, gastronomia e vinhos, como grandes pilares do hotel, permite oferecer aos nossos hóspedes experiências inesquecíveis. Temos mais de 25 mil garrafas de vinhos, 1000 referências com grande enfoque nos vinhos portugueses e 67 wine partners que dão o seu nome a 67 quartos e todas as semanas organizam um jantar vínico. Temos um restaurant onde o cuidado na escolha do prato e do vinho é aplicado caso a caso, e a seleção dos produtos e a sua preparação são “dignos de um bloco operatório”. No entanto, a osmose difunde-se também para o spa, onde a Caudalie e os seus tratamentos vinoterapêuticos permitem uma viagem profunda pelo mundo vínico, que só acaba na visita à garrafeira. Por fim, um amanhecer ou anoitecer no The Yeatman, do bar aos quartos, é uma fotografia inesquecível da cidade do Porto. Por isto, é Único!

 

Como é ser diretor-geral de um hotel com características tão particulares como este? É muito diferente de ser diretor-geral de um hotel suportado por referências mundiais?

Geri desde hotéis de cidade com 260 quartos, cinco restaurantes, 11 salas de reuniões e congressos, a hotéis inseridos em resorts de lazer, como Troia e o Algarve, cuja capacidade variava entre pouco mais de 300 e os 160 quartos. Hoje, no The Yeatman oferecemos 82 quartos aos nossos hóspedes. Ser diretor-geral de um hotel é acima tudo gerir pessoas. É um negócio de pessoas para pessoas e esse é o grande desafio e a grande atração e prazer. Claro está que existem diferenças, pois desde logo o motivo da deslocação dos hóspedes é diferente, e aquilo que procuram, também. Unidades mais pequenas permitem uma gestão de pormenor mais apurada, permitem conhecer quase todos os hóspedes e saber os seus hábitos. Nas unidades maiores, é mais complexo chegarmos a este nível de profundidade, mas para isso existem outros membros na equipa para colmatar esta

“falha”. Quando se gere cinco hotéis, de norte a sul de Portugal, o desafio é conseguir estar perto da operação, conhecer o que se passa, estar sempre dentro do hotel. O The Yeatman, devido às suas particularidades, é um desafio todos os dias, pois temos sempre que estar atentos a todos os detalhes, satisfazer qualquer pedido do cliente, conhecer os seus hábitos e preferências, e isso é um enorme estímulo.

 

Quais são as principais apostas desta unidade hoteleira?

Com toda a humildade, mas sendo verdadeiro, queremos ser o hotel de referência. Queremos marcar a diferença e queremos que os nossos hóspedes e clientes nos visitem porquequerem conhecer a região Norte de Portugal, mas também porque querem desfrutar de uma experiência The Yeatman.

 

Qual o perfil do vosso cliente?

O perfil-tipo do cliente The Yeatman é ser muito exigente, querer o melhor e não aceitar falhas. São as características comuns dos nossos clientes. Os mercados internacionais têm um enorme peso, nomeadamente ao nível de países como Brasil, EUA, França, Reino Unido, Alemanha e Espanha. Mas os clientes portugueses são também muitos e apreciam a experiência que temos para oferecer.

 

Quais são as principais atividades promovidas pelo hotel? Quais as mais procuradas pelos hóspedes?

O spa e as atividades relacionadas com a gastronomia e o vinho são as mais importantes, em conjunto com todas as outras que o Porto e o Douro oferecem (Casa da Música, Serralves, Sea Life, cruzeiros no rio, visitas ao Douro). A visita às caves do hotel e as experiências Wine Flight são um must. No entanto, o facto de pertencermos a um grupo com mais de 300 anos de história na produção e venda de vinhos permite-nos oferecer visitas personalizadas às caves da Taylor’s e Croft, incluindo visitas às quintas onde o vinho do Porto é produzido. O spa e a piscina são muito requisitados e oferecem uma fantástica vista panorâmica sobre a cidade. O restaurante é uma “pérola” que muitos querem experimentar para mais tarde recordar.

 

Qual foi a taxa de ocupação média no ano passado? Que resultados esperam atingir este ano?

O The Yeatman faz dois anos em setembro e por isso é normal que tenhamos taxas de crescimento muito significativas. À data desta entrevista, estamos com 100% de ocupação, que se manterá nos próximos quatro dias. Tanto o produto como a experiência que se pode viver são muito desejados pelos nossos clientes, pelo que posso afirmarque, até à data, temos tido resultados muito positivos e dentro das nossas expetativas.

 

Os “pacotes promocionais” que oferecem são a resposta do grupo perante a crise que enfrentamos?

Não temos uma estratégia de baixo preço, nem de grandes promoções, nem de yield management agressivo. O que oferecemos são experiências e os nossos

programas respondem à satisfação de necessidades dos nossos hóspedes. Portugal, tem, em média, preços mais baixos do que outros destinos fortes, e isso leva a que os hotéis no nosso país não tenham o preço que corresponde à sua real qualidade e, inclusivamente, estrutura de custos. Aí, sim, penso que quando este momento menos fácil da economia passar, teremos oportunidade de nos colocarmos em regimes de níveis europeus mais elevados.

 

O setor do Turismo tem sofrido as consequências desta crise?

Infelizmente tem, e quase me atrevo a dizer que não merece. Foram feitos grandes investimentos, e quando era o momento de os começarmos todos a pagar, entrámos

nesta crise. Era preciso aumentar a qualidade da oferta hoteleira, e isso foi feito. Era preciso investir em formação – muito embora ainda existam falhas –, e foi percorrido

um importante caminho. Mas quando era altura de se começar a amortizar a dívida, pagar os créditos e reembolsar os acionistas, falhou a oportunidade. Cada vez mais é importante promovermos Portugal no exterior, temos que ir aos mercados em crescimento, mostrar Portugal e as suas ofertas, e estou certo de que conseguiremos reverter esta situação.

 

Na sua opinião, as redes sociais e a Internet são um meio privilegiado para promover as empresas ligadas ao Turismo?

São muito importantes e cada vez mais assumirão maior destaque. É fácil observarmos o crescimento das vendas nos canais web, da importância dos blogs, do Twitter, Facebook, TripAdvisor e muitos outros. É mais uma excelente oportunidade para desenvolvermos mercados onde os investimentos são maiores e, por isso, de retorno potencialmente mais demorado.

 

O que há a fazer para promover ainda melhor as unidades hoteleiras existentes no nosso país?

Creio que, neste momento e mais do que nunca, muito! Não o digo em tom de crítica ao passado, mas sim porque precisamos de nos internacionalizar muito e sermos suficientemente atrativos para que destinos como Porto, Douro, Minho, e até mesmo Algarve e Alentejo, recebam mais turistas internacionais todo o ano. Temos que ser destino de grandes eventos, atrair a atenção mundial e colocar as ofertas “no mapa”. O Porto e o Douro são inigualáveis, na sua beleza, cultura, formade receber, qualidade da oferta e até mesmo na relação preço/qualidade. Isto, claro, também se aplica a outras regiões.

 

Quais são as principais falhas que encontra no setor do Turismo? O que é necessário fazer para que sejam alteradas?

A formação e qualidade dos profissionais do turismo tem melhorado bastante, mas ainda existe muito porfazer. Agora é moda os jovens quererem ser chefs, quando na realidade apenas alguns conseguirão ser, mas é difícil encontrarmos excelentes chefes de sala, front office managers, que provavelmente irão ganhar tanto como os cozinheiros e pasteleiros. É importante que as escolas tenham em atenção as áreas profissionais, de forma a garantir que daqui a uns anos não tenhamos excesso de profissionais em algumas áreas e falhas graves noutras. A reconversão de profissionais com experiência é outro ponto crítico para o qual temos de encontrar soluções. A experiência não fica apenas pelo hotel, ou pelo restaurante do hotel, estende-se a muitos outros locais. Alguns são micronegócios com menos recursos, mas que não devem ficar excluídos tanto da oportunidade de formar técnicos como de prestar um serviço de excelência.

 

Que marca pretende deixar no The Yeatman?

Deixar? Pelo contrário, pretendemos continuar por muitos e bons anos a oferecer… a excelência de service em tudo o que fazemos e um local onde hóspedes e clientes se sintam com todo o conforto, como se estivessem na sua própria casa.

 

O que podemos esperar, no futuro, do The Yeatman?

Muito! Mas para já, dia 14 e 15 de Junho, a Rota das Estrelas, com seis chefs e muitas estrelas Michelin; todas as semanas, jantares vínicos à quinta-feira; tratamentos  vinoterapêuticos exclusivos no spa, todos os meses, e uma vista deslumbrante sobre o Porto.