PETRA SAUER

“O NOSSO SERVIÇO É DE ALTA QUALIDADE E MUITO EXIGENTE, MAS AO MESMO TEMPO SIMPLES E DESPRETENSIOSO”

 

Com uma vasta experiência na área da hotelaria, Petra Sauer é a diretora-geral do Hotel Restaurante Fortaleza do Guincho, uma “unidade hoteleira de charme, de cinco estrelas”, que conta com “um dos melhores restaurantes do país”, galardoado com uma estrela Michelin. Por todas as suas características, o Hotel Restaurante Fortaleza do Guincho assume, tal como sublinha Petra Sauer, “um papel determinante no panorama da oferta turística da região da Grande Lisboa”, que se revela cada vez mais  “exigente e competitiva”.

 

Como descreve a Fortaleza do Guincho? O que a distingue das outras unidades hoteleiras existentes?

A Fortaleza do Guincho é uma unidade hoteleira de charme, de cinco estrelas, integrada na associação Relais & Châteaux, o que nos define à partida como uma unidade de luxo e com um nível superior. O nosso serviço é de alta qualidade e muito exigente, mas ao mesmo tempo simples e despretensioso, pois queremos que os nossos clientes se sintam descontraídos num ambiente que prima pelo charme e pelo atendimento personalizado. Depois, há toda uma envolvência natural, única, do Guincho. Nunca será demais referir, por exemplo, que o único “barulho” que por aqui se ouve é o do som das ondas!

 

Qual o perfil do vosso cliente?

Para surpresa geral, o nosso cliente principal é português. São pessoas que procuram o hotel para passar uns dias, num ambiente muito acolhedor, com um serviço atencioso e familiar e, claro, com praias magníficas a dois minutos do hotel. Também somos muito procurados por jovens casais, em lua de mel, que são um cliente muito especial para nós devido às circunstâncias, e outros que vêm para celebrar ocasiões e datas especiais, como aniversários de casamento, noivados e casamentos. No geral, temos várias nacionalidades, não só portugueses, mas também espanhóis e alemães. Há os clientes que nos procuram pela qualidade da nossa cozinha, há os que ficam fascinados com o facto de sermos uma fortaleza e outros que adoram as praias, sem esquecer a proximidade a Lisboa… e há ainda aqueles que nos procuram apenas pelo sossego e para desfrutarem de umas férias tranquilas em família.

 

Quais são as principais atividades promovidas pelo hotel? Quais as mais procuradas pelos hóspedes?

Como temos um dos melhores restaurantes do país, com uma estrela Michelin, promovemos diversas iniciativas relacionadas com a gastronomia e os vinhos, como os jantares vínicos, o jantar anual de trufas ou a apresentação “oficial” dos menus sazonais. São eventos sempre muito bem sucedidos, pois o público tem um interesse crescente e exigente em torno da alta cozinha. Quanto aos nossos clientes de hotel, as atividades mais procuradas são, sem dúvida, as aulas de surf, nas praias do Guincho, e o golfe. Mas há também os clientes que gostam simplesmente de andar de bicicleta, de fazer longas caminhadas pela praia ou de visitar Sintra ou Lisboa por um dia.

 

Qual foi a taxa de ocupação média no ano passado? Que resultados esperam atingir este ano?

No ano passado, com todas as dificuldades económicas do país, atingimos uma ocupação de quase 57 por cento. Este ano esperamos fazer um pouco mais, apostando numa melhor divulgação do destino Portugal. Em muitas conversas com hóspedes, percebi que Portugal se tornou uma alternativa aos destinos de África do Norte. Com problemas políticos e viagens inseguras nestes destinos, aqui, estamos numa zona privilegiada da Europa, com condições gerais que, se bem divulgadas, poderiam aumentar a popularidade do país.  

 

Os “pacotes promocionais” que oferecem são a resposta da unidade perante a nova realidade que enfrentamos?

No Guincho sempre tivemos pacotes promocionais, mas é natural que sejam mais procurados atualmente. Os “pacotes” são sempre uma boa forma de divulgarmos o nosso produto, uma vez que os clientes fazem uma reserva mais facilmente se souberem, à partida,  qual será o preço final. Por outro lado, e porque se torna cada vez mais difícil traçar um perfil único de cliente, já que somos cada vez mais visitados por pessoas muito diferentes, com gostos e motivações diferentes, procuramos criar e apresentar serviços e ofertas igualmente versáteis, para responder a essa procura diversificada. Os nossos pacotes mais populares são o Gourmet e o Romântico. O Pacote Gourmet, vocacionado para os amantes da alta cozinha, inclui duas noites de alojamento, em quarto duplo, com pequeno-almoço, vinho do Porto e frutas no quarto, e uma refeição no restaurante para duas pessoas, com bebidas incluídas. O Pacote Romântico, pensado para os casais, inclui uma noite para duas pessoas, com pequeno-almoço, champanhe e trufas de chocolate de boas-vindas, e ainda uma refeição para duas pessoas, com bebidas incluídas.

 

A Fortaleza do Guincho conta com uma equipa de quantos elementos?

Neste momento temos uma equipa de 58 elementos.

 

Está a gostar da experiência como diretora-geral? Que balanço faz?

Adoro esta experiência, para mim, não há melhor no mundo! Com as experiências internacionais no InterContinental, atualmente gosto do vasto leque de trabalho nesta, relativamente pequena, unidade hoteleira. Estou envolvida em tudo, desde a parte financeira e administrativa até à operação diária, que exige estar a par de tudo.  

 

Qual foi o seu percurso profissional até aqui?

Iniciei a minha carreira profissional em 1989, na Alemanha, de onde sou natural, na cadeia de hotéis InterContinental, em Colónia. Em 1993 fui assistente de direção no InterContinental de Nova Iorque. Em 1995 mudei para Berlim como subdiretora de receção no InterContinental, e diretora de alojamento nos hotéis da mesma cadeia, em Estugarda e Montreal, no Canadá, onde permaneci até finais do ano 2000. Depois de 12 anos a trabalhar para a InterContinental, abracei um novo desafio profissional ao assumir a direção do Hotel Vila Joya, no Algarve, onde estive por três anos. Em abril de 2004, fui convidada para liderar o Hotel Fortaleza do Guincho. Atualmente, o Hotel Restaurante Fortaleza do Guincho assume um papel determinante no panorama da oferta turística da região da Grande Lisboa, cada vez mais exigente e competitiva, o que me dá uma enorme satisfação.

 

Portugal atravessa uma das maiores crises económicas. No seu entender o que há a ser feito para alterar esta realidade?

Cada um de nós deve ver a crise económica como um desafio.  Não é fácil, mas ao mesmo tempo somos obrigados a ser criativos e inovadores.

 

O setor do Turismo, particularmente no local onde se situa a Fortaleza do Guincho, tem sofrido as consequências desta crise?

Como todos, estamos a sofrer também as consequências. As estadias são reduzidas e a “janela” das reservas é mais curta. Mas eu continuo a defender a ideia de não ficarmos de braços cruzados a lamentar, mas sim tentarmos criar novos produtos/pacotes de interesse para o público, mais acessíveis e cativantes.   

 

Os apoios autárquicos e estatais são cada vez mais escassos. O que tem de fazer um diretor-geral para responder às enormes despesas que um empreendimento como a Fortaleza do Guincho acarreta?

Sem alguns destes apoios mencionados, deveríamos todos tentar aumentar as receitas. Parceiros e fornedecores de produtos devem adaptar-se à realidade atual e tornarem-se mais competitivos, sem prejudicar a qualidade dos produtos.

 

Na sua opinião, as redes sociais e a Internet são um meio privilegiado para promover as empresas ligadas ao Turismo?

Sem dúvida. As redes sociais e as novas plataformas digitais são a grande aposta no que diz respeito à comunicação e divulgação de um produto, sobretudo no setor hoteleiro e da restauração. A informação é disseminada de uma forma muito rápida e extremamente dinâmica e tem um grande alcance. Por outro lado, as redes sociais e as plataformas digitais exigem um ritmo constante, precisam de ser alimentadas com pequenas notícias, fotos de circunstância, pequenos pormenores, que fazem toda a diferença. Acaba por ser um mundo completamente novo e por explorar, mas cujas vantagens são óbvias. Por isso, há que acompanhar as novas tendências e os novos mecanismos de trabalho.

 

O que há a fazer para promover ainda melhor as unidades hoteleiras existentes no nosso país e em particular a Fortaleza do Guincho?

Na Fortaleza do Guincho aposto muito na criação de pacotes promocionais, com diversas vertentes e preços, e assim o cliente pode optar pelo mesmo produto, mas com nuances diferenciadas que se adaptem às suas necessidades e capacidade financeira. Por outro lado, procuramos manter uma comunicação constante nos media mais influentes e de maior prestígio, mas também criamos iniciativas em torno do nosso restaurante e hotel. Em termos gerais, creio que a aposta deve ser no sentido de darmos a conhecer as mais-valias do país junto do mercado internacional, mas também junto dos portugueses, para que redescubram o seu país e façam férias cá dentro, em vez de procurarem o estrangeiro. Portugal tem um enorme potencial turístico que, apesar de tudo e das muitas melhorias dos últimos anos, ainda tem muito por explorar.

 

 

Quais são as principais falhas que encontra no setor do Turismo? O que é necessário fazer para que sejam alteradas?

O Turismo em Portugal tem uma grande oferta disponível que devia ser divulgada de uma forma mais pró-ativa. No ambiente de destinos competitivos, Portugal devia ser a aposta “fácil” e final. Vários meios de comunicação e apresentações deviam ser utilizados para maximizar a visibilidade do destino. Um destino com uma cultura única, gastronomia, infraestruturas, acessos fáceis, uma vasta variedade de hóteis em todas as categorias, sol e mar, tem tudo para ser a escolha perfeita!

 

Na sua opinião, a região possui uma boa oferta em termos de turismo? O que tem para oferecer aos visitantes?

Sim, esta zona está muito bem servida de boas unidades hoteleiras, de bons restaurantes – tem uma oferta cultural e noturna inigualável – ingredientes fundamentais para o turismo. E depois, claro, a beleza natural da região fala por si… De um lado, praias maravilhosas, do outro, o Parque Natural da Serra de Sintra. Mas creio que temos ainda espaço para melhorar a oferta, nomeadamente ao nível dos transportes públicos, por exemplo. No entanto, quero destacar o excelente esforço das entidades competentes na requalificação das praias e na preservação das dunas do Guincho, já que o ambiente contribui inquestionavelmente para uma oferta turística sustentável e de qualidade.

 

O que pensa sobre a formação profissional na área da hotelaria?

Creio que apesar de haver bons profissionais em Portugal, formados nas escolas de hotelaria portuguesas, o setor da hotelaria pode e merece ser melhorado. Pessoalmente, e como profissional da área, acredito muito nos resultados de uma formação prática dos alunos. As escolas devem ir mais longe e proporcionar aos alunos um contacto mais próximo com a realidade hoteleira no dia a dia.

 

Quais são os projetos para o futuro da Fortaleza do Guincho?

Há vários, queremos avançar com a nossa aposta na gastronomia de excelência e na nossa referência como um hotel com um serviço e atendimento personalizado; além disso, continuamos a apostar na formação da próxima geração.