“O COPACABANA PALACE É O HOTEL DA MINHA VIDA”
A história do Copacabana Palace confunde-se facilmente com a de Claudia Fialho. Com uma vida recheada de episódios marcantes, a relações públicas afirma que o Copacabana Palace é o hotel da sua vida.
Quando o Copacabana Palace foi comprado à família Guinle, que o fundou, o hotel estava em péssimas condições, tanto em termos físicos como a nível de gestão. A sua importância no panorama hoteleiro nacional e internacional era, e continua a ser, imensa, mas o hotel estava seriamente comprometido no ano de 1989, altura em que foi adquirido pelo grupo Orient-Express. Nesse mesmo ano, Philip Carruthers iniciou um processo de revitalização “com muita dedicação e competência”, revela Claudia Fialho. A relações públicas iniciou as suas funções em 1990 e afirma que “foi um grande desafio”, uma vez que estava a substituir “o maior relações públicas da hotelaria brasileira, Oscar Ornstein”. Claudia Fialho tentou então “restaurar a imagem histórica do Copa”, enquanto se avançava com uma remodelação para o dotar das melhores instalações possíveis. Inaugurado em 1923, o Copa – como é carinhosamente chamado pelos seus colaboradores, hóspedes e amigos – foi apresentado à imprensa internacional dez anos depois, no filme Flying Down to Rio, em que Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram juntos pela primeira vez, formando uma das duplas mais encantadoras do mundo do cinema. Pelas suas características, o hotel começou a ser escolhido por vários artistas que fizeram dele o seu ponto de referência. Destaque para nomes como Maurice Chevalier, Nat King Cole, Edith Piaf, Charles Aznavour, Amália Rodrigues e a grande Marlene Dietrich. Claudia Fialho recorda também que Walt Disney criou o personagem Zé Carioca numa das suas estadas no Copa.
Se as paredes do Copacabana Palace pudessem falar, contariam histórias fantásticas, mas disso é testemunha a imensa galeria de fotos de hóspedes ilustres, que é uma das grandes atrações da unidade. Orson Welles, Rita Hayworth, Arturo Toscanini, Zubin Mehta, Rolling Stones, Mary Pickford, Richard Gere, os príncipes Carlos e Diana, Carmen Miranda, Vaclav Havel, Nelson Mandela, Ava Gardner, Ernest Borgnine, John Wayne, Tom Cruise, Vargas Llosa, Saramago, Bill Clinton, Anthony Hopkins, Sting e Bono Vox são alguns dos nomes que compõem a vasta lista de ilustres. Um dos momentos mais marcantes para Claudia Fialho, enquanto relações públicas, foi a Eco 92, quando o hotel recebeu 17 chefes de delegação, sendo que 15 eram figuras de Estado. “John Major, da Grã-Bretanha, e Li Peng, da China, ocuparam as suítes presidenciais, no prédio principal e no anexo, respetivamente, mas outras suítes foram igualmente transformadas em presidenciais para acomodar as demais personalidades. No primeiro andar do prédio principal ficou o príncipe herdeiro de Marrocos, hoje rei Mohammed VI, recorda. Para garantir a segurança de todas as personalidades hospedadas no Copa, foi montado um poderoso esquema de segurança e as entradas e saídas estavam limitadas. O primeiro-ministro da República Popular da China, Li Peng, ofereceu um jantar no Salão Rio de Janeiro aos dignitários de todos os países comunistas presentes na conferência ambiental, e Claudia Fialho teve o privilégio de receber pessoalmente alguns dos convidados. “O convidado que causou maior impacto foi Fidel Castro, que tinha um esquema de segurança muito rígido, mas que foi extremamente simpático e cordial”, conclui. A princesa Diana da Grã-Bretanha e o presidente eleito Nelson Mandela foram outras das personalidades que marcaram para sempre a vida de Claudia Fialho, uma vez que, tal como afirma, lhe ensinaram “o verdadeiro sentido da palavra carisma”.
A unidade tem um rico acervo que necessita ser organizado adequadamente e que conta a história dos seus 90 anos com riqueza de detalhes e curiosidades muito interessantes. Quando o livro sobre o Copacabana Palace foi elaborado pelo jornalista Ricardo Boechat, foi feita uma extensa pesquisa que resultou na “descoberta de histórias curiosas e verdadeiras revelações sobre a história do Brasil”. Foi graças a este livro que o Brasil ficou a saber, por exemplo, que o Presidente da República Wahington Luiz havia levado um tiro da sua amante neste hotel. “A versão oficial era que o Presidente havia sido operado de emergência com uma apendicite”, sublinha Claudia Fialho. Com o Copa a completar 90 anos, a Orient-Express decidiu organizar estas memórias, que certamente servirão para traçar o futuro deste hotel icónico. Após a reforma que terminou em 2012, que consistiu na ampliação do lobby e na renovação de alguns dos quartos, “o hotel encontra-se preparado para os próximos anos”, assegura Claudia Fialho. O projeto de construção do teatro já está pronto e dentro de aproximadamente dois anos o Rio de Janeiro poderá ter de volta um dos mais emblemáticos teatros brasileiros. Claudia Fialho, que até agora tem desempenhado as funções de relações públicas, vai iniciar uma nova etapa da sua vida no Copacabana Palace. Para além de ser responsável pela recuperação do teatro, tem ainda uma outra responsabilidade, a de elaborar um livro que dê a conhecer a história do Teatro Copacabana. “Vou dedicar-me a dois projetos que me fascinam e que seriam impossíveis de realizar com desenvoltura nas funções tenho exercido até ao momento”, conclui.