PEDRO MOTA SOARES

“É IMPORTANTE QUE O AJUSTAMENTO TENHA EM CONSIDERAÇÃO O ESFORÇO QUE O POVO PORTUGUÊS TEM VINDO A ASSUMIR HEROICAMENTE”

 

Natural de Lisboa, Pedro Mota Soares é licenciado em Direito e especializado em legislação laboral. Foi presidente da Juventude Popular entre 1996 e 1999. Entre 2002 e 2005 ocupou o cargo de secretário-geral do CDS-PP, fazendo também parte da sua Comissão Diretiva. Na Assembleia da República, foi deputado, vice-presidente e presidente do Grupo Parlamentar do CDS.   Foi ainda deputado municipal de Oeiras e de Cascais. Participou nas negociações entre o CDS e o PSD que conduziram à formação da coligação que permitiu a formação do XIX Governo Constitucional, que viria a integrar como ministro da Solidariedade e da Segurança Social. Para Pedro Mota Soares, este é um compromisso que assumiu “numa perspetiva de missão” e no qual se empenha “francamente”. Na sua opinião, e até este momento, “Portugal não acautelou o futuro”, pois se o tivesse feito, “teria percebido que não nos podíamos manter num rumo em que o que gastávamos hoje não teria cabimento, sequer, com o que produzíamos amanhã”, afirma. Para o ministro, é agora tempo de “resgatar esse mesmo futuro”.

 

Em 1996, foi eleito presidente da Juventude Centrista/Popular e desempenhou essas funções até ao final de 1999. De que forma a sua militância e, em especial, a sua presidência na Juventude Popular contribuíram para o homem e para o político que é hoje?  

Em resultado de muitos quadros de reconhecida craveira que por ali passaram ou a influenciaram, a Juventude Popular (JP) é hoje, e tem sido, uma escola de valores extremamente positiva. Muitos são aqueles que cresceram com referências como Adriano Moreira. E a este propósito, dizia o professor sobre a necessidade da escala de valores a adotar: “a realidade é como a roda que está sempre em andamento e mudança e cujo eixo são os valores que acompanham a roda mas não andam. Sem valores, o poder da palavra não é suficiente nem eficaz”. Parte dos meus valores foram consolidados na JP e identifico-me bastante com estas palavras.

 

Para si a política é…

Servir. Citando o recentemente eleito Papa Francisco, “o verdadeiro poder é servir”. A política tem de ser um serviço e um compromisso. Um compromisso que assumi e em que, numa perspetiva de missão, me empenho francamente. Hoje estou ministro, não “sou” ministro. Mas a atitude de serviço será sempre total.

 

Como surgiu o seu interesse pela política?

Resultante de um processo de constante e gradual compromisso a que tive de ir respondendo e que me agrada bastante. Quando se gosta do que se faz, a motivação é outra e a entrega também.

 

Antes de iniciar funções como ministro, ganhou notoriedade sendo a face mais visível do Grupo Parlamentar do CDS. Como classifica e descreve o trabalho desse grupo parlamentar, quer ao longo dos anos de oposição ao Governo de José Sócrates, quer neste contexto em que o CDS faz parte do Governo?

Os nossos deputados sempre se pautaram pela qualidade das intervenções e pela capacidade de trabalho. Enquanto fui líder parlamentar, sempre contei com a dedicação de todos para que o CDS fosse sempre o grupo parlamentar mais produtivo. Este espírito de entrega aliado à massa crítica é para mim uma mais-valia. É algo que deve continuar a ser uma marca CDS. Mas confesso que tenho saudades de quando só trabalhava 12 horas por dia (risos).

 

Foi precisamente enquanto líder parlamentar que se destacou como uma das vozes mais visíveis do CDS na crítica à governação socialista. Entre as principais “vítimas” desses anos encontram-se os jovens. De que forma é que, em sua opinião, as gerações futuras se viram prejudicadas pelas políticas seguidas pelos governos PS? O que está a ser feito pelo atual Governo para minimizar os efeitos provocados por esses governos?

Durante esse período, Portugal não acautelou o futuro. Se o tivesse feito, teria percebido que não nos podíamos manter num rumo em que o que gastávamos hoje não teria cabimento, sequer, com o que produzíamos amanhã; um rumo em que a insustentabilidade era crescente e o futuro era hipotecado; um rumo em que o pagamento da fatura e as reformas que se impunham eram sistematicamente adiadas. Esse rumo hipotecou as gerações futuras. Cabe-nos agora o trabalho de resgatar esse mesmo futuro.

 

O país atravessa uma grave crise financeira que tem provocado significativos problemas a nível social. O momento que vivemos provocará profundas mudanças na nossa forma de viver. Como é que os jovens deverão perspetivar o seu futuro tendo em conta o que se passa em Portugal e no mundo?

O momento constitui um enorme desafio e apela ao melhor de cada um de nós. Portugal deverá saber reinventar-se e restruturar-se para ultrapassar este período. Certas reformas, nomeadamente na Administração Pública, terão de ser estruturais e abrangentes por forma a garantir que no futuro não voltemos a padecer dos erros do passado. As rescisões amigáveis no Estado têm esse objetivo e estamos muito focados na necessidade de encontrar francos pontos de equilíbrio que permitam uma redução estrutural. Os jovens deverão agir em consonância, não cedendo às tentações das gerações anteriores, e não desejando um Estado que nunca conseguirão suportar. Só assim melhorarão o seu futuro e não deixarão para a geração seguinte a mesma herança que receberam.

 

Os portugueses são capazes de suportar mais medidas de austeridade?

Julgo que a resposta à crise está, fundamentalmente, na redução do peso do Estado, numa transformação daquelas que são hoje as atribuições do Estado e numa mudança das suas responsabilidades. Uma reforma do Estado é desejável. Mais do que uma dieta, é preciso reformular o Estado. Até para assegurar o modelo social europeu que desejamos manter. (…)