“Ser político é, também, fazer”
Licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa, Paulo Portas, o actual líder do CDS, já teve várias profissões e afirma que a política não será a última actividade profissional, uma vez que o que gosta é de “construir, começar projectos e concretizar ideias”. E um dos valores sociais que mais respeita é o trabalho. O fundador do semanário O Independente começou cedo na política e valoriza o contacto directo com todas as pessoas, independentemente do seu estatuto ou cargo ocupado. Conhecido pelas suas constantes visitas às feiras, o que já lhe valeu algumas caricaturas, Paulo Portas afirma que ser político é isso mesmo, é “estar próximo das pessoas”. Preocupado com a actual situação de Portugal, Portas comentou, nesta entrevista à FRONTLINE, alguns dos actuais problemas do nosso país, nomeadamente o TGV, o aumento dos impostos ou a extinção de metade das empresas municipais. Deu a conhecer a sua posição e apresentou algumas propostas do seu partido.
Jurista, jornalista, dirigente político. Qual a sua profissão?
Sou jurista de formação, mas profissões já tive várias e a política não será a última.
O que gosto de fazer é construir, começar projectos, concretizar ideias.
E fora desta? Quem é o Paulo Portas?
Eu não existo apenas fora da minha actividade profissional. Sou quem sou a todas as, poucas, horas do dia! Diria que sou uma pessoa bem-disposta e com sentido autocrítico…
Licenciou-se em Direito pela Universidade Católica Portuguesa. Que profissão ambicionava ter?
Comecei cedo a trabalhar e, desde cedo, quis ser independente. Fundei um semanário, ajudei a refundar um partido. Pelo caminho dei aulas e criei um centro de sondagens – uma experiência que me ajuda bastante, nas minhas funções actuais. É por isto que digo que o valor social que mais respeito é o trabalho.
Que memórias ficam do semanário O Independente (fundado com Miguel Esteves Cardoso)?
Ficam boas memórias, de um projecto de pessoas extraordinárias, em que se cimentaram grandes amizades, se lançaram grandes talentos e onde se quebraram preconceitos e se arriscaram ideias. O Independente, antes de tudo, era um espaço de liberdade numa altura em que o País, especialmente a comunicação social, não estava habituado a ter projectos privados (com algumas honrosas excepções). O Independente teve erros e acertos, próprios do contexto, e serviu para lançar gente nova com talento – como aliás continuo a fazer no CDS –, que o merece. Mas o mais extraordinário, repito, foi quem por lá passou! Numa cultura dominante que penaliza o sucesso, O Independente teve sucesso com os leitores e foi um sucesso para os accionistas.
Começou cedo na política. Fale-nos do seu percurso.
O meu percurso começou em casa, a aprender, a ler e a discutir. Aprendi as diferenças entre esquerda e direita dentro de casa mas, mais ainda, aprendi a viver a tolerância também. Sempre ouvi falar de política, especialmente na família do meu pai, e a aprender com opiniões contrastantes. Nasço para a política com a evidência das consequências do PREC. Ter começado a pensar politicamente, na adolescência, durante o PREC (e não durante o anterior regime, como o meu irmão mais velho, Miguel) formou-me como um homem de direita. Tive um grande fascínio por Francisco Sá Carneiro e mais tarde filiei-me no CDS, em 1996. O meu percurso político activo começou – e continua – no contacto directo com as todas as pessoas: trabalhadores e gestores de empresas, IPSS, alunos e professores nas escolas, pensionistas e agricultores, jovens, artistas e, sem dúvida alguma, as feiras… Bem sei a caricatura que me fazem, pelas visitas às feiras, mas é essa a razão: estar próximo das pessoas, conhecer as suas preocupações e aspirações. Ser político é mesmo isso, começa aqui, na realidade das pessoas. No meu percurso, muito do que aprendo é-me partilhado por pessoas que encontro na rua, que me escrevem uma carta ou um e-mail ou, ainda, comentam na minha página do facebook. Mas, ser político é, também, fazer. Tive essa oportunidade no Ministério da Defesa, onde aprendi com mulheres e homens que dedicam a sua vida ao nosso país. Uma das coisas que mais me orgulho de ter podido fazer foi retribuir e reconhecer, aos antigos combatentes, o esforço de quem pôs a sua vida em risco por Portugal. (…)