“O FUTEBOL DO BENFICA PASSOU A SER RECONHECIDO COMO UM DOS MAIS BONITOS DA EUROPA”
Luís Filipe Vieira é o atual presidente do Sport Lisboa e Benfica. Eleito pela primeira vez a 3 de novembro de 2003, como 33.º presidente do Benfica, Vieira empenhou-se, tal como o seu antecessor, Manuel Vilarinho, no relançamento do clube, tendo sido um dos responsáveis pela construção do novo Estádio da Luz e pelo novo centro de estágios do Seixal. “Têm sido anos difíceis em que conseguimos superar enormes obstáculos e inúmeras dificuldades”, revelou Luís Filipe Vieira em entrevista à FRONTLINE. Pela sua dedicação, Vieira conseguiu tornar o Benfica na instituição com o maior número de sócios, e isso é visível nas várias deslocações que o presidente faz ao exterior. “Somos, como costumo dizer, uma pátria de muitos países, em que a lusofonia tem particular destaque”, sublinha. Das vitórias alcançadas durante os seus mandatos, destaca as da equipa principal de futebol do clube, que conquistou os campeonatos de 2004/2005 e 2009/2010, a Taça de Portugal de 2003/2004, as taças da Liga de 2008/2009 a 2011/2012, e a Supertaça de 2004/2005. Para este mandato, Luís Filipe Vieira promete “trabalho e dedicação”, uma vez que, na sua opinião, não é possível “ter a garantia de ganhar”. Os sócios e adeptos podem ainda esperar um Benfica “que entre em campo em todos os jogos com a ambição de os ganhar”, conclui.
Como é ser-se presidente do Sport Lisboa e Benfica, um dos maiores clubes de Portugal? Tem tempo para si ou este é um cargo completamente absorvente?
Ser presidente do Benfica é um orgulho e uma enorme responsabilidade. Têm sido anos difíceis em que conseguimos superar enormes obstáculos e inúmeras dificuldades, mas creio que o trabalho que temos desenvolvido está à vista de todos e fala por si. Não consigo contabilizar as horas que dedico ao Benfica, mas há uma coisa que nunca fiz: foi queixar-me do tempo dedicado ao clube. Quando as coisas são feitas com sentido de missão e com gosto, não se contabilizam nem as horas nem os sacrifícios que se fazem.
O Benfica conta, neste momento, com quantos sócios? Qual a importância dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e quais os mercados prioritários para o crescimento do clube?
Já ultrapassámos os 250 mil sócios e não temos mercados prioritários. Onde houver benfiquistas está o Benfica. É evidente que o Benfica é um clube que nasceu em Lisboa, mas nunca se fechou, foi sempre um clube sem fronteiras geográficas e com uma atenção especial aos países lusófonos. Há poucos meses estive em Cabo Verde e tive oportunidade de deixar claro que o Benfica é, e tem orgulho nisso, um clube da lusofonia. O Benfica caberia num poema de Arménio Vieira ou na prosa de Pepetela ou Mia Couto. Somos, como costumo dizer, uma pátria de muitos países, em que a lusofonia tem particular destaque.
Quantos adeptos estima que o clube tem em Angola? E em toda a África?
Não temos um estudo que nos permita dizer com exatidão o número de adeptos que temos em Angola, ou em Moçambique, ou nos restantes países de expressão portuguesa. Aliás, um estudo deste tipo seria sempre difícil de realizar, mas as manifestações que recebemos sempre que lá vamos são a melhor evidência dos largos milhões de adeptos que temos em todos estes países e que nos devem obrigar a desenvolver uma ligação mais efetiva e mais presente com todos eles. Não é fácil, mas temos de fazer esse esforço e ir de encontro aos nossos adeptos nesses países.
Mas o que está a ser feito de concreto em relação a esses países?
Estamos a chegar a muitos deles pela formação. Em Cabo Verde tive a oportunidade de inaugurar uma escola do Benfica, há menos de três meses. Em Angola (devemos abrir em janeiro) e Moçambique estão em estudo projetos semelhantes. Na Guiné (em parceria com agentes locais) já temos uma escola a funcionar há mais de meio ano. Não é apenas um projeto que nos faz estar mais presentes no dia a dia desses países, como, no futuro, nos irá permitir ter jovens talentos de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde, etc. nas equipas do Sport Lisboa e Benfica.
Sendo uma pessoa que valoriza a vitória, como se explica que em nove anos na presidência do clube só tenha ganho dois campeonatos de futebol?
Essa é um pergunta típica de quem desconhece o que era o Benfica há pouco mais de uma década. Se o ponto de partida quando cheguei ao clube fosse o que temos hoje, garanto-lhe que o equilíbrio a nível de resultados desportivos seria totalmente diferente. Dificilmente se consegue ganhar quando não há dinheiro, quando não há infraestruturas, quando temos que lutar com um sistema viciado que anula qualquer tipo de mérito. Foi contra tudo isto, em momentos diferentes e durante anos, que lutámos e tivemos de contrariar. A nossa primeira prioridade foi, como não podia deixar de ser, salvar o Benfica e foi – é bom nunca o esquecer – uma tarefa colossal. Depois foi necessário denunciar uma série de práticas criminosas que viciavam os resultados desportivos. Foram duas duríssimas batalhas travadas de forma contínua. No futebol nada é imediato. Há circunstâncias que explicam essa diferença de que fala, e nem todas, infelizmente, se devem ao mérito ou demérito das equipas. (…)