FERNANDO SANTO

 “PRECISAMOS DE DINHEIRO PARA PAGAR COMPROMISSOS, INCLUINDO SALÁRIOS, E NÃO HÁ”

Escolhido por Paula Teixeira da Cruz para liderar a Secretaria de Estado da Administração Patrimonial e Equipamentos da Justiça, Fernando Santo fala dos motivos que o levaram a aceitar o cargo num ministério para o qual nunca foram nomeados engenheiros e deixa claro que só os desafios motivadores e a ideia de que está no Governo com uma função de gestão é que o levaram a aceitar.“É a adrenalina de definirmos objectivos, traçarmos estratégias e avaliarmos os resultados que faz a diferença no dia-a-dia, entre a rotina e o estímulo”, diz, confiante de que prestará um bom serviço ao País. Para o ajudar num momento difícil para qualquer governante, conta com a “lição de vida” que tirou dos tempos em que trabalhou com membros do Governo durante o PREC. A falta de capacidade financeira para fazer face aos compromissos, incluindo salários, e os prazos apertados têm sido das maiores dificuldades que encontrou desde que chegou ao Ministério da Justiça, mas Fernando Santo também não deixa de criticar as opções tomadas nos últimos anos, nomeadamente a venda de património e consequente arrendamento do mesmo por valores que acabarão por ser desvantajosos para o Estado.

Como é que surgiu o convite para o Ministério da Justiça?

Foi um convite da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, que me surpreendeu, pois sempre observei o ministério na óptica da sua missão na área da justiça, o que exige co­nhecimentos específicos. Contudo, o modelo de organização que me apresentou foi bas­tante diferente do que podia imaginar, pois o secretário de Estado teria como missão co­ordenar e dirigir a administração financeira, patrimonial e os equipamentos dos serviços que integram o ministério e orientar a elabo­ração e execução dos orçamentos sectoriais. Perante as profundas reformas do sistema de justiça que a ministra queria implementar, tendo em conta a grave situação financeira do ministério e as anteriores opções na área patrimonial, considerou que se justificava ter um secretário de Estado que se dedicasse à gestão destes recursos, reduzindo os custos e aumentando as receitas próprias, de modo a libertar mais meios para dotar o sistema ju­diciário de melhores condições. Ora, para esta missão não seria necessário um perfil com formação na área do direito, opção tradicio­nalmente seguida nos anteriores Governos. Por outro lado, nos últimos anos, as dotações do Orçamento do Estado tinham sido insu­ficientes para fazer face às despesas, gerando défices anuais, com transferência de encargos assumidos e não pagos para o ano seguinte, o que provocou frequentes roturas de paga­mentos a fornecedores de bens e serviços. Percebido o modelo de organização e identifi­cados os principais problemas, senti-me moti­vado e com capacidade para aceitar o desafio.

Qual foi o primeiro pensamento que lhe veio à cabeça?

Para além da surpresa e de algumas inter­rogações, senti-me honrado com o convite, pois considero que a ministra da Justiça não teria dificuldade em escolher um secretário de Estado, atendendo a que é uma pessoa com reconhecido mérito, com um conheci­mento muito prático do sistema judiciário, com uma visão política muito determinada, a par de uma grande capacidade de diálogo, condição necessária para implementar re­formas. Foi muito importante a primeira conversa para perceber a missão e reflectir sobre as minhas competências e capacida­des, para não haver equívocos ou defraudar expectativas. Por princípio não aceito convi­tes para funções em que não me sinta com competência adequada para as executar, ou que não sejam suficientemente motivado­res. Para além da dedicação e do esforço, temos que ter prazer no que fazemos e confiança nas pessoas a quem temos que responder. Gosto de concretizar projectos definidos no tempo, que sejam mobilizado­res e que permitam quantificar resultados. É a adrenalina de definirmos objectivos, tra­çarmos estratégias e avaliarmos os resulta­dos que faz a diferença no dia-a-dia, entre a rotina e o estímulo. A realização profissional e o gosto por aquilo que temos que fazer deverão pesar muito nas decisões. Por isso nunca desenvolvi a minha carreira profissio­nal com o objectivo de ter cargos, e já recu­sei alguns convites. (…)