O PROGRAMA DO PSD DEFENDERÁ “AUMENTO GRADUAL DE LIBERDADE DE ESCOLHA” NA SAÚDE E NA EDUCAÇÃO
É ele o homem de confiança de Pedro Passos Coelho na hora de decidir o que fazer em matéria económica. Aos 69 anos, Eduardo Catroga foi o escolhido pelo líder do PSD para liderar a equipa que vai redigir o novo programa que o partido levará às eleições de 5 de Junho, mas garante que não aceitará no futuro qualquer lugar no Governo. Foi ele o emissário de Passos para as negociações do Orçamento do Estado para 2011 com Teixeira dos Santos e garante que já nessa altura, apesar da viabilização, percebeu que “o caminho para o abismo era praticamente inevitável”. Nas linhas mestras do novo programa social-democrata estará como prioridade “o aumento da produção nacional”, e no que toca à Saúde e Escola Pública, Catroga defende que se deve melhorar a eficiência e aumentar “gradualmente a liberdade de escolha, numa óptica de sustentabilidade financeira e social e em complementaridade com o sector privado”. Acusa Sócrates de se tentar “vitimizar” de ter sido o responsável pela crise política que se abriu, ao levar a Bruxelas um PEC sem o apresentar a Cavaco ou ao PSD. Um “estratagema” que o pode levar ainda a “enganar muita gente”. O ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva acredita que uma solução política no futuro só resultará com um entendimento alargado entre PSD, CDS e PS, mas rejeita qualquer hipótese de Sócrates fazer parte dela, aconselhando o PS a “interiorizar” que Sócrates é “parte do problema e não da solução”.
No final do ano passado, quando negociou com a equipa de Teixeira dos Santos o OE 2011, pensou que Portugal estaria hoje na situação económica em que se encontra?
A situação financeira actual é consequência de erros acumulados nos últimos 15 anos; e em particular nos últimos seis, devido a uma politica económica e financeira irresponsável do Governo de José Sócrates, que agravou os desequilíbrios económicos e financeiros que vinham de trás (e cuja raiz se encontra no Governo de António Guterres). Nos últimos seis anos a despesa pública corrente primária (antes de juros da dívida pública), a dívida pública directa e a dívida pública indirecta – concentrada do Sector Empresarial do Estado (SEE) e nas Parcerias Público-Privadas e Concessões (PPPC) –, bem como a dívida externa líquida, tiveram trajectórias explosivas que faziam há muito temer o pior. Há dois anos escrevi um artigo sobre o tema, chamado “Grito de Alerta”.Aquando das negociações, nos finais de Outubro de 2010, e apesar da viabilização do Orçamento do Estado de 2011 – após o falhanço de três PEC’s anteriores e do descalabro das contas públicas em 2009 e 2010 –, o caminho para o abismo era praticamente inevitável. O momento crítico é o da percepção negativa dos mercados financeiros, dos quais dependemos para o financiamento da economia. O processo de geração de desconfiança já vinha de longe, desde 2008 pelo menos, por falta de crescimento económico e de medidas atempadas do ponto de vista de disciplina orçamental, e atingiu o seu auge nos últimos meses e semanas. O governo socialista é o responsável desta situação, e a apresentação de sucessivos PEC’s, assim como o falhanço das suas previsões e medidas, determinou a situação actual. Infelizmente para mim, e para outros observadores atentos, a situação actual não constitui uma surpresa, pois os mercados financeiros reagem, cegamente e em força, quando perdem a confiança numa dada economia. Foi o que aconteceu.
Esperava que houvesse uma crise política tão cedo?
Eu pressentia que José Sócrates iria abandonar o barco e tentar vitimizar-se. Só não sabia era quando. É evidente que o facto de se ter tornado claro para Sócrates, antes da última Cimeira Europeia, que o novo regime, a partir de Julho, para o recurso ao Fundo de Estabilização Financeira Europeu iria implicar uma parceria da UE com o FMI, e o facto de José Sócrates erradamente ter diabolizado o FMI como bandeira política, levou-o a criar uma situação que gerou a crise actual. Sócrates comprometeu-se, conscientemente e de forma premeditada, perante os parceiros europeus, com as medidas constantes do PEC 4, sem ter previamente negociado com o principal partido da oposição e sem ter informado o Presidente da República. Foi uma manobra política para se tentar vitimizar, sabendo ele que as taxas de juro da dívida portuguesa já eram insustentáveis há muito, depois de ultrapassarem de forma continuada o nível dos 7% (o que o ministro das Finanças reconheceu há meses).(…)