“CASCAIS É ACIMA DE TUDO UM COMPROMISSO”
O presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, acredita que entrou na política muito novo quando, por influência dos seus pais – fundadores do PSD –, participou na fundação da JSD. Contudo, a sua vida não esteve sempre ligada à política. Formado em Administração, passou por várias empresas dentro e fora do país, mas a política “enquanto exercício de cidadania” falou mais alto e é a exercer as suas funções na Câmara Municipal de Cascais que este autarca se sente “sinceramente realizado”. Apostando fortemente na componente social e em linhas de desenvolvimento económico em 2013, Carlos Carreiras revela que existem “outras prioridades” que têm a ver com a necessidade de apostar igualmente, no que concerne ao investimento, na rede viária do concelho e na qualificação do espaço público. Quanto às eleições autárquicas, marcadas para este ano, está confiante de que vai sair vitorioso, admitindo como natural que a “avaliação positiva” feita pelos munícipes se transforme “numa vitória em outubro próximo”.
Que balanço faz de 2012? Quais as perspetivas para 2013? Que novidades pode já anunciar aos cascalenses?
Em 2012 consolidámos a estratégia que temos vindo a desenvolver, e aqui talvez o mais relevante seja a pressão que cada vez mais existe sobre as autarquias em geral, e sobre Cascais também, na componente social. O verdadeiro tsunami que estamos a viver é um fenómeno social que tem devastado o território, porém, ao contrário dos tsunamis de catástrofes naturais, não há casas estragadas, nem carros, mas há pessoas com vidas completamente estragadas ou pelo menos adiadas. Os municípios, por estarem mais próximos, são aqueles que são chamados a ter que responder, e nós, detetando isso e tendo essa consciência, temos vindo cada vez mais a reforçar a componente social ao mesmo tempo que, com alguma esquizofrenia – que hoje é preciso ter na gestão da coisa pública –, estamos permanentemente com um pé no travão e outro no acelerador. Quem conduz sabe que se acelerar e travar ao mesmo tempo despista-se, faz um peão, mas hoje é necessário esta componente de controlo de gastos, mantendo este apoio, nomeadamente a nível social. E não podemos deixar de ter o pé no acelerador ao nível do desenvolvimento económico, porque é isso que cria cadeias de valor, riqueza e permite fazer uma redistribuição do rendimento. Eu diria que o ano de 2012, no caso de Cascais, foi o reforço das nossas componentes sociais, por um lado, mas também apostámos na criação de linhas de desenvolvimento económico.
Quais as maiores dificuldades que encontrou no exercício do seu cargo?
Eu estou na política executiva há relativamente pouco tempo, todo o meu percurso profissional foi feito em empresas e por várias paragens no mundo. Realizei-me nesse meio, mas aqui, sinceramente, também me sinto realizado. Eu só sei estar nas coisas se elas me divertirem ou me realizarem, e mesmo tendo isso acontecido na minha vida profissional nas empresas, confesso que estas funções são aquelas que me têm divertido mais, no sentido de que me têm realizado mais. São momentos muito exigentes, muito intensos, mas que obrigam, quem está nestas funções, a ter capacidade para ir ultrapassando os obstáculos e as dificuldades. Não tenho propriamente uma perspetiva negativa, aliás, acho que estes são tempos que justificam o facto de não se fazerem algumas coisas. São tempos em que cada um arranjará mil e uma justificações para se demitir, mas a minha perspetiva pessoal é, ao contrário, que também são momentos muito aliciantes uma vez que podemos fazer a diferença, e se cada um de nós tiver este objetivo, podemos fazer a grande diferença. Isto é talvez o que falta, atualmente, em termos de desígnios nacionais. Não tem sido difícil, faço o que gosto, penso que temos estado a fazer bem, e isso também nos alimenta para continuar a fazer mais.
Como surgiu o seu interesse pela política?
Era eu muito novo. Embora esteja na política executiva há pouco tempo, foi por influência dos meus pais – fundadores do PSD – que na altura acabei por ser fundador da JSD. E a política, enquanto exercício de cidadania, sempre teve em mim um grande apelo. Nunca me passou pela cabeça vir a estar, mais tarde, na política executiva, mas estou realizado. Entrei na vida política logo a seguir a 1974, no primeiro congresso da JSD, em janeiro de 1975.
Quais são as áreas prioritárias desta autarquia?
Temos estado a apostar em obras que façam a grande diferença na vida das pessoas. Apostámos na componente social, não podemos deixar que nenhum dos nossos fique para trás e temos de ter a criatividade e a competência para ir encontrando formas de ultrapassar este momento mais exigente. Ao mesmo tempo, temos de criar garantias para que Cascais continue a ser o mais atrativo e o mais competitivo possível, de modo a que, por isso mesmo, se mantenha como uma referência de desenvolvimento económico. Estas são as duas linhas orientadoras. Existem também outras prioridades, mas que têm neste momento a ver com a necessidade de apostar fortemente, no que concerne ao investimento, na rede viária do concelho, que ainda tem algumas lacunas, e em toda a recuperação e aposta na qualificação do espaço público, para que este não seja um local por onde se passa mas também onde se vá. Estou em crer que vamos entrar num terceiro ciclo do poder local já nas próximas autárquicas. Considerando que o primeiro ciclo foi de hardware – no sentido de infraestruturar o território – e que no segundo equipámos a autarquia – centros de saúde, escolas, etc. –, este terceiro ciclo será de software, e por isso é que se exigirá, a partir do próximo mandato, que o perfil do político autárquico tenha em conta esta vertente. É necessário que tenha atitude para fazer face a estes tempos.
Como vê o papel das freguesias na gestão de Cascais? Concorda com a lei que pretende abolir algumas delas?
Não concordo com essa lei, mas acho que é necessário fazer uma grande reforma do território, do ponto de vista político, administrativo e das competências. Cascais é uma situação atípica porque somos o quinto maior concelho do país e temos apenas seis freguesias, sendo que a mais pequena tem 23 mil habitantes – mais de metade dos municípios de Portugal não têm esta população. A lei que obriga Cascais a passar de seis freguesias para quatro – embora a estejamos a contestar do ponto de vista judicial – não está correta porque nos obrigaria a fazer uma agregação que não se justifica. Contudo, a minha principal crítica não tem a ver com esta questão de reorganização do território, mas sim com o facto de estarem em cima da mesa quatro objetivos. Imediatamente, do ponto de vista político, caiu um deles, que foi a reforma eleitoral – mantemos a mesma estrutura de governo por via das eleições desde 1974. O segundo objetivo passava pela reorganização do território, o terceiro pelas competências e o quarto pelo financiamento, e inverteu-se a ordem dos fatores. O que seria normal era primeiro discutir as competências, depois, como é que seria a lei que as financiava, e só depois, então fazer a reorganização territorial. Tenho também profundas críticas relativamente à lei das competências, porque esta lei, tal como a do financiamento das autarquias locais, vai provocar, a meu ver, ou que tudo fique na mesma ou que cada vez o poder esteja mais centralizado. Penso que mais tarde vai ser necessário fazer a reforma que Portugal precisa. Por exemplo, a nível territorial, temos uma má organização que já existe há 150 anos, é do tempo do comboio a vapor. Temos de nos adaptar aos tempos, mas acho que nos adaptámos mal. (…)