“O GRANDE PROBLEMA DO MUNDO ISLÂMICO É COM ELE PRÓPRIO”
Ângelo Correia, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, cônsul honorário do Reino Hashemita da Jordânia em Portugal e ex-ministro de Portugal, é dono de uma imensa energia e paixão no falar e também no fazer, por isso não é de estranhar o seu vastíssimo currículo e a experiência alcançada um pouco por todos os setores, do público ao privado. Em entrevista à FRONTLINE, Ângelo Correia abordou diversos temas, como a segurança, passando pela ameaça do mundo islâmico, pela questão dos refugiados, pela política externa portuguesa e terminando com uma opinião, bastante positiva, sobre o novo Presidente da República: “Era de longe o melhor candidato”, afirmou. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa sublinhou que Portugal não explora as suas “potencialidades” e que, por isso mesmo, não é um mercado atrativo para o investimento dos países árabes. Quanto à questão do terrorismo, para Ângelo Correia, “Portugal não tem problemas graves em matéria de segurança no sentido tradicional”, contudo, temos problemas “noutros domínios”, especialmente no que diz respeito à “condição humana”. O problema do autoproclamado Estado Islâmico resulta, na opinião do cônsul honorário do Reino Hashemita da Jordânia em Portugal, de “uma deriva ideológica, associada a uma visão de desejabilidade do caos e da violência generalizada, que se manifesta e expressa dentro de um certo Islão”. Ou seja, “não é justificável – nem moral nem politicamente – que a noção de Estado Islâmico, e a sua perigosidade, seja associada ao Islão como um todo, mas há que reconhecer que grande parte destes problemas têm a sua génese dentro do Islão”, concluiu.
É presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa e cônsul honorário do Reino Hashemita da Jordânia em Portugal. Considera Portugal um mercado atrativo para o investimento dos países árabes?
Não. Não o foi, não o é, e duvido que o seja. Portugal não explora as suas potencialidades.
Porque é que o nosso país não é um mercado atrativo para o investimento dos países árabes?
Os investidores árabes continuam a deslocar-se para o Reino Unido, para a Alemanha, para Espanha, para Itália, para os Estados Unidos, mas não para Portugal. Como é que é possível que um país, que é talvez o mais tranquilo da Europa, onde o calor humano é forte, onde a própria memória árabe é forte, não seja visto como um país importante para investimento? Eu acho que há várias razões que o podem explicar. Portugal não oferece condições de eficiência e rentabilidade elevada para a maior parte dos investimentos estrangeiros, nomeadamente árabes. Em segundo lugar, nós complicamos muito com a burocracia. Em Portugal é muito fácil criar empresas de âmbito económico, com o Simplex inicial para a criação dos estatutos, mas no dia a dia, na contemplação da relação entre os investidores e o Estado, a relação é perniciosa, terrível e difícil. As pessoas acham que Portugal é um país mau para se investir, isto por um lado. Por outro, não nos promovemos a nós próprios, dizemos demasiado mal de nós próprios, não sabemos exibir o que temos de bom. Quando conseguimos pensar em instrumentos favoráveis para captar investimento, como é o caso dos vistos Gold, rapidamente matamos a galinha dos ovos de ouro. Isto porque se pensa em processos, que são de natureza criminal, mas que por via disso se complica todo o sistema administrativo, e as pessoas perdem o interesse. Nós não organizamos as coisas de modo a nos promovermos no interior e no exterior. Portugal não está a acompanhar uma onda de criação de atração de investimento direto estrangeiro em algumas áreas onde podia tê-lo mais facilmente do que qualquer outro país. Todavia, não o fazemos. Neste momento estão em consideração duas linhas aéreas árabes para Portugal: Qatar e Arábia Saudita. Como se vê, do lado deles até há disponibilização para criar condições para operar deslocações para Portugal, todavia nós não captamos turistas destes países, não realizamos fluxos, não organizamos investimentos destes países em Portugal.
A segurança é hoje um dos pontos de agenda dos principais líderes mundiais. Como será possível dar resposta aos desafios crescentes nesta área?
Podemos pensar no problema em dois ângulos. Um, meramente nacional, e o outro mais amplo, que corresponde ao espaço de inserção de Portugal, o espaço de inserção político. Formalmente, Portugal não tem problemas graves em matéria de segurança no sentido tradicional, isto é, naquilo que nós associamos ao conceito de ameaças mais de índole política e militar. Mas temos problemas de segurança noutros domínios que devem circunscrever-se não apenas aos domínios referidos anteriormente, mas à condição humana. Temos problemas de segurança graves no que respeita, por exemplo, ao abastecimento de água através de Espanha; temos problemas que é necessário reconhecer, abordar e não silenciar; temos problemas de pobreza que atingem a segurança das pessoas; temos problemas com uma economia que não arranca, não se desenvolve e, como tal, cria condições para o desemprego permanente, e quando o desemprego é permanente, a hostilidade, a dúvida, a ambiguidade, a tristeza, a depressão, são manifestas e os comportamentos das pessoas tornam-se mais violentos e atingem, com isso, a chamada segurança humana. Temos, por isso, alguns conjuntos de circunstâncias que devemos tratar e que o tempo tem feito aumentar, nomeadamente aquilo que corresponde também às variações climáticas, às mudanças climáticas, e que pode pôr em risco alguma parte da segurança do país, em termos de abastecimento de água e, portanto, o risco de desertificação de algumas zonas do país. De referir também que não somos um país imune aos riscos e às ameaças que perturbam a segurança interna e a segurança dos cidadãos de um modo geral. No âmbito político e militar, não somos passíveis de problemas dramáticos nessa área, mas no que atinge a vida humana, há problemas que se têm agravado nos últimos anos. Estes ainda não constituem um foro de perigosidade excessiva, mas, apesar de tudo, são perigosos.
O que há a fazer, a nível mundial, para travar os avanços do autoproclamado Estado Islâmico? Quem pode e deve intervir?
O problema do autoproclamado Estado Islâmico resulta de uma deriva ideológica, associada a uma visão de desejabilidade do caos e da violência generalizada, que se manifesta e expressa dentro de um certo Islão. Ou seja, não é justificável – nem moral nem politicamente – que a noção de Estado Islâmico, e a sua perigosidade, seja associada ao Islão como um todo. Mas há que reconhecer que grande parte destes problemas tem a sua génese dentro do Islão, mais concretamente dentro de uma visão que tem as suas raízes nos séculos VIII e IX e que se ampliaram no século XX, sobretudo a partir do momento em que foram sentidos alguns problemas de inserção do espaço árabe ou islâmico no mundo em geral. Perante isto, o mundo árabe ou islâmico reagiu mal, de duas formas. Reagiu mal à própria ideia ou à forma como se operou a descolonização do Império Otomano, à sua erosão, decadência e à consequente colonização anglo-francesa. Daí decorreram vários problemas sérios de mau ajustamento entre o que era a visão colonial e o que era a visão local. Em segundo lugar, teve uma expressão através das intervenções militares: por exemplo, a intervenção no Iraque, em 2003; a intervenção no Afeganistão, quer da União Soviética quer, mais tarde, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Tudo isso deixou marcas profundas, criou uma hostilidade relativa – justificada em alguns casos, injustificada noutros – por parte do mundo árabe em relação ao Ocidente. Mais grave é, ainda, um outro problema que é o da inserção do mundo islâmico, dos Estados e das sociedades islâmicas, no novo mundo da globalização. Não estão a conseguir fazê-lo da melhor forma, existem gaps bastante acentuados, com disfuncionalidades muito evidentes e com distanciamentos cada vez maiores entre as suas próprias culturas e a cultura, implícita na globalização. Como tal, há uma retração, há medo, e perante isto, há um acrisolamento ou um enquistamento religioso e ideológico que faz com que o mundo islâmico reaja negativamente a padrões.
E o que podemos fazer para alterar este cenário?
Eu acho que há alterações que podem ser feitas a nível mundial, mas que não têm substantivamente os mesmos efeitos que teriam se fossem operadas, sobretudo, internamente. O grande problema do mundo islâmico é com ele próprio, porque deriva não só de um conflito interno no seu seio, entre várias visões do Islão – a divisão do Islão é de tal forma profunda e de tal forma evidente, que nada disso atenua os problemas, antes pelo contrário, aumenta-os, empola-os e cria situações inultrapassáveis. O regresso a certas formas do Islão – o chamado salafismo jihadista – é de tal forma um problema interno, que são eles próprios que têm de resolver o problema localmente. Ou seja, têm de combater sob a forma religiosa, sob a forma doutrinária, princípios menos aceitáveis que outros, no espaço onde vivem. Enquanto não se fizer essa demarcação clara, enquanto se mantiver essa ideia do “redentorismo religioso”, que ultrapassa tudo para se impor como norma definitória, e às vezes com violência, eu acho que o mundo ocidental não pode fazer nada, porque se o fizesse, corríamos o risco de acentuar a primeira das razões que leva o mundo islâmico a uma certa desconfiança relativamente ao Ocidente.O mundo islâmico sempre teve duas desconfianças: a presença militar ocidental no seu próprio espaço islâmico e os elementos culturais que os media transmitem da nossa civilização, da nossa sociedade.
Por que razão a Europa foi o terreno escolhido pelos radicais islâmicos para o conflito que os opõe ao Ocidente?
A Europa é considerada um dos dois centros do eurocentrismo ou do euromundismo, e como tal, a Europa será sempre um espaço a ter em conta. A Europa é o símbolo máximo do que significou a colonização e o efeito de domínio cultural, científico e tecnológico sobre o mundo islâmico. Em segundo lugar, a Europa é atraente pelo seu modelo democrático, não porque muitos povos árabes não o queiram e outros o rejeitem liminarmente, mas porque, sendo um regime democrático, o regime de vigilância e de segurança interna é muito mais distendido e, como tal, permissivo para que venham pessoas do exterior, penetrem no seio da Europa e atuem clandestinamente, sem serem detetados. É mais difícil fazer isto na Arábia Saudita, na Argélia ou em Marrocos, do que fazê-lo na Alemanha, na França ou em Espanha.
Qual deverá ser a ação de Portugal neste combate ao terrorismo? Acha que o mesmo se poderá ainda intensificar e estender a outros países europeus, como Portugal?
Confesso-lhe que não é relevante, se nós vigiarmos o nosso país já é muito importante. Nós não temos redes de informação suficientemente amplas no exterior de Portugal que sirvam de suporte aos nossos sistemas de intelligence. No nosso interior, temos comunidades islâmicas de 40 mil pessoas, de um modo geral pacíficas, inseridas no tecido social cultural português, mantendo os seus preceitos, a sua vida religiosa, sem qualquer perturbação ou hostilização por parte da comunidade portuguesa. Julgo que muitos cidadãos, que não sendo árabes mas sendo islâmicos, não sentem qualquer restrição à prática da sua vida normal pela maneira portuguesa de estar no mundo, que é muito inclusiva. Se preservarmos este clima e se, ao mesmo tempo, tivermos uma boa base de recolha de informações interna para operar nesse sentido, eu acho que fazemos o mais importante para todos nós. De qualquer das formas, acho que um país não se deve isolar das suas relações, por isso é muito importante que Portugal tenha uma boa relação com, pelo menos, quatro ou cinco países: três europeus – Inglaterra, França e Espanha – e dois árabes – Argélia e Marrocos – que nos podem ajudar no caso de haver algum deslocamento de alguém que venha desses países para Portugal; dentro do mundo árabe é essencial uma boa relação, de forma a criar situações preventivas de controlo.
Portugal está preparado para responder a um ataque terrorista? De que infraestruturas dispomos?
Eu colocaria a questão numa situação prévia: haverá razões para haver um ataque terrorista? Eu acho que não existem, mas nunca se sabe. Portugal apresenta dificuldades para a realização de ações terroristas. Somos o último país da Europa, e entrar em Portugal é fácil. Contudo, praticar um ato terrorista em Portugal e sair já é mais complicado, porque a fronteira espanhola seria automaticamente vigiada e os nossos portos e aeroportos seriam vigiadíssimos. Como prelúdio ou refúgio, os terroristas poderiam tentar integrar-se nas comunidades árabe-islâmicas em Portugal, mas elas são poucas e estão suficientemente organizadas para não aceitarem comportamentos desses e pessoas que os pratiquem. Logo, não há um sítio de inserção onde possam escapar, no nosso interior geográfico. Por isso, eu estou convencido de que Portugal não é tão vulnerável como outros países europeus a circunstâncias criminais dessa natureza.
Qual o papel, em Portugal, do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo?
Essa é uma organização de pessoas interessadas neste tema, que o abordam e debatem, mas não tem uma natureza institucional nem organizativa adequada. Quem detém esses poderes são organismos do Estado.
As políticas atuais promovem, na sua opinião, um choque de civilizações entre o Ocidente e o mundo árabe?
Eu diria que há elementos sedutores, nessa tese de poder haver confrontos civilizacionais, mas penso que se a análise for feita em termos de uma grelha mais fina, detetamos duas realidades diferentes. Não há uma civilização árabe ou islâmica e uma civilização ocidental. Há várias civilizações dentro da civilização islâmica, várias subcivilizações ou várias formas de divisão dentro dessa sociedade, e várias formas de interpretação da cultura ocidental. Essas duas civilizações não estão postas em confronto, o confronto é sobretudo exercido, hoje em dia, dentro da civilização islâmica por subgrupos, por formas diferentes, quer religiosas quer jurídicas, de conceção do mundo e da vida. Ou seja, a pluralidade dentro da civilização islâmica não lhe permite uma ação unitária, pelo contrário, permite-lhe e justifica tensões profundas no seu seio que se têm agravado, como se vê todos os dias. Dentro da civilização ocidental o problema, não sendo tão grave, assume, todavia, uma expressão plural acentuada em que, por exemplo, na relação com o mundo árabe ou islâmico existem tonalidades bastante diferentes que não permitem nem legitimam a visão unitária da civilização europeia.
Avaliando os acontecimentos recentes, em termos de terrorismo, daqui a uma década, que Europa vamos ter?
A chave reside muito em duas questões: qual a capacidade de desenvolvimento económico da Europa e qual a capacidade de desenvolvimento demográfico. Olhando para o aspeto demográfico, a tendência vai ser de uma redução progressiva dos chamados caucasianos dentro da Europa. Cada vez mais iremos ter comunidades africanas, árabes e de outros países dentro da Europa, a qual envelhecendo vai-se alterar geneticamente e isso terá uma consequência óbvia. Quanto ao desenvolvimento económico, nós não sabemos se poderá haver um despovoamento europeu fruto de não termos condições de atratividade por causa da paralisia da economia.
Está provado que a Europa sabe ser multicultural. E os refugiados também o sabem ser? Saberão adaptar-se aos costumes dos países que os recebem?
A Europa, de um modo geral, sempre se assumiu com algum grau de multiculturalidade. Neste momento, em que é invadida por um conjunto de refugiados que não são emigrantes económicos, mas que são pessoas que estão a tentar salvar a sua vida da morte, a Europa deparou-se com um choque, visível nos países nórdicos, e que pode ter consequências muito negativas no que diz respeito à forma como nos organizávamos em termos de movimentação humana. Tudo isto significa que, não sendo o problema da inclusão que está em questão, todavia ele começa a ser posto em causa quando o contingente humano exterior adquire uma desproporcionalidade face ao habitual, que é percetível e cuja aceitabilidade interna na Europa não está a ser fácil em alguns países. Por outro lado, existe um problema de balanceamento. Nós costumamos ser muito exigentes connosco próprios, mas também temos de formular exigências face a terceiros. Se a Europa é inclusiva, e se todos reclamam que a Europa seja inclusiva, nós temos o direito de reclamar que os outros sejam inclusivos connosco. Eu não posso praticar o Catolicismo na Arábia Saudita, mas um saudita pratica o Islão em Portugal. Eu não estou a tentar com isso criar condições de ofensa à religião ou à civilização de outros, estou é a dizer que há direitos humanos que são universais e um deles é a prática religiosa desde que não ofenda princípios.
Como avalia a ação de Federica Mogherini, vice-presidente e Alta Representante para a Política Externa da Comissão Europeia?
Acho que é uma pessoa inteligente, que está a fazer tudo o que pode, mas a União Europeia não tem força, não tem uma política externa suficientemente firmada e sólida para poder ser operacionalizada. O problema não é dela, é da Europa.
Considera que o “sonho europeu” acabou?
O sonho europeu alterou-se profundamente a partir do momento em que, para além do espaço interior comum, do espaço de trocas comerciais, nós quisemos assumir um espaço onde existissem também direitos iguais. O cenário complicou-se mais ainda quando quisemos caminhar para termos uma política externa e de defesa comuns, ou seja, os graus de soberania, ao mais alto nível. A maior parte dos países europeus aceitaram transferir soberanias, em algumas áreas, para órgãos centrais da Europa, mas não no que se refere às soberanias ao mais alto nível, ou seja, na política de defesa e na política externa, aí alguns países nunca cederam, mesmo que se digam ferozmente europeus.
Como caracteriza a política externa portuguesa? Portugal age e pensa em nome dos seus interesses?
A nós, consentem-nos mais do que aquilo que fazemos, ou seja, nós não temos política externa.
Enquanto ex-ministro da Administração Interna, de que necessita Portugal para seguir por um bom caminho num futuro próximo?
Duas coisas: ideias e organização. Portugal tem algumas ideias, não suficientemente partilhadas pela comunidade nacional, mas, pior do que isso, não tem organização que as ponha em prática. Portugal recusa a organização, acha que a organização é algo que não lhe diz respeito. Algumas pessoas ficam felizes, em Portugal, quando expressam algumas ideias e pensam que resolveram os problemas, como por exemplo, passá-las à prática sob a forma de lei. O problema é que há uma distância entre a lei escrita num papel e a prática que daí decorre, isso nunca fazemos. A União Europeia não é o grande constrangimento nacional, o grande constrangimento nacional são os portugueses e a forma como se organizam e vivem.
Vemos a Europa como um espaço onde podemos defender e expressar os nossos interesses nacionais?
Até agora não o senti, aliás não o senti desde que aderimos a esta Europa. Não o senti quando, por exemplo, não assumimos uma política agrícola adequada, não o senti quando abandonámos a política pesqueira. Nós, no fundo, malbaratamos em muitas circunstâncias as nossas condições e as nossas potencialidades, por uma razão, porque abdicamos de exercer a defesa dos nossos interesses.
Afirmou que Cavaco Silva nunca teve “perfil para ser Presidente da República”…
Eu disse que foi um erro de casting, mas agora que está no seu momento de saída devemos prestar-lhe respeito – ele seguramente quis fazer o melhor possível e se calhar fez o melhor possível para ele próprio – e devemos tratá-lo com a dignidade que merece.
Qual o perfil de um Presidente da República?
Há quem coloque a questão de que um Presidente da República deve ser um grande árbitro entre os vários atores políticos. É-o, mas dada a debilidade da classe política, da liderança política nacional, eu aspiraria a que, em Portugal, o Presidente da República fosse mais do que um árbitro, que fosse um promotor de algumas coisas que agitassem o país, que levasse o país a sair desta inércia, desta aceitabilidade simples, de um conjunto de coisas que nós nem sequer discutimos e que aceitamos e vivemos. O Presidente da República deveria ser um promotor de debates de ideias, para que dessas discussões nos fosse apontado um caminho. O grande problema do nosso país continua a ser o facto de não sabermos para onde vamos.
Considera que Marcelo Rebelo de Sousa tem o perfil adequado para Presidente da República?
Era de longe o melhor candidato. Eu votei nele.